quinta-feira, dezembro 16, 2021

Presépio da minha infância (Boas Festas)

BOAS FESTAS! 

(Vou fazer uma pausa)



No tempo da geada, da
minha infância, 
apanhávamos o musgo como
se fora veludo.
Era macio, brilhante, como
duas estrelas a faiscarem amor. 
O frio não detinha os nossos dedos enregelados
que, delicadamente,
o subtraíam à terra, também ela macia.
As nossas vozes, desafinadas,
entoavam cânticos de Natal.
O Menino esperava-nos
numa caixa guardada
na sacristia da Igreja.
Era uma luz serena,
que humilde e silenciosa
dali a pouco refulgiria numa caminha de palha
sobre o presépio de musgo macio.
No topo da cabana 
cintilava
a mais  bela e brilhante estrela de Natal.
E os anjos entoavam: 
Glória in Excelcis Deo! 
Paz na Terra aos homens de boa vontade! 


Aproveito para vos desejar um santo e feliz Natal ,
com muito amor, paz  e saúde.
Obrigada pela vossa presença neste meu cantinho ao longo do ano.
Próspero 2022!
Texto
Ailime
24.11.2021

sexta-feira, dezembro 10, 2021

Um dia a minha sede

 



Um dia a minha sede

será saciada pela fonte do deserto.

As chuvas molhar-me-ão o rosto

e sentirei o orvalho das manhãs

a afagar-me os cabelos.

As tardes serão mais lisas

e falar-me-ão de crepúsculos,

que se escondem atrás das nuvens

onde os pássaros se detêm

nos voos,

a acalentar-me nas noites

longas,

De sonhos improváveis.


Texto
Ailime
10.12.2021
Imagem Google

terça-feira, novembro 30, 2021

Ainda te lembras?


                                                                      Anouk Lacasse


O vento sopra  nos meus dedos que, enregelados,
procuram os teus e
entrelaçamos as mãos.
Esqueçamos o  inverno e deambulemos
como duas crianças que brincam ao sol
num prado verde de ternas lembranças.
Os pássaros esvoaçam e sinto a primavera
que me sopra aos ouvidos
melodias de amor já muito antigas,
que costumávamos ouvir em silêncio
quando o sol se escondia no horizonte 
e nos incendiava os corpos
numa dança flamejante de amor. 
Ainda te lembras?

Texto
Ailime
24.11.2021

quarta-feira, novembro 24, 2021

Ah se eu pudesse

 

Van Gogh


Ah se eu pudesse dissipar as palavras numa gota de chuva,
As vozes trazidas por vendavais inusitados
Soariam a campos ondeados de trigais maduros
Num apoteótico bailado de metamorfoses.

E correria livremente pelas madrugadas
Envolta em primaveras multicolores
Na procura incessante de um anúncio
Que te abraçasse o futuro.


Ailime
11.01.2013
(Reposição)

quarta-feira, novembro 17, 2021

Há momentos

 


Há momentos em que mergulho no meio das palavras.
Distante está o mundo em que  movo os meus sonhos
alados como pássaros em voos intermitentes.
De ti sei apenas o nome e as palavras ficam em silêncio.


Texto
Ailime
17.11.2021
Imagem Google

terça-feira, novembro 09, 2021

O mundo ainda pode ter cor


Sofia Sant'Ana


O mundo ainda pode ter cor se nos predispusermos
a seguir as pegadas dos que nos precederam;
a luz ainda se demora no horizonte
até que a veneremos cordatamente
deixando que os sóis repousem sobre as águas
e os rios bebam das nascentes o néctar.
Prestemos atenção ao tempo que se esvai
e plantemos com vigor todas as seivas;
carente está o chão das suas espécies
onde rasgões como feridas clamam
por uma estrada rumo ao futuro.


Texto
Ailime
09.11.2021

terça-feira, novembro 02, 2021

O tempo nunca é o mesmo




O tempo nunca é o mesmo.
Ontem a chuva  regou os meus sonhos,
hoje colho uma flor.
O dia e a noite contemplam-se, 
assim como o sol e a lua
se abraçam num golpe de vento
que vagueia por entre galáxias.
Claridade e sombras.
Um pássaro nunca está só;
poisa sobre uma estrela 
e  esvoaça no universo
por entre galhos de nuvens. 
Gravo os meus sonhos
nas folhas caídas de outono.


Texto e foto
Ailime
02.11.2021



terça-feira, outubro 26, 2021

No interior das pedras



No interior das pedras há chamas 
que à tua passagem te queimam os pés,
te sacodem, como se o vento alastrasse
e se detivesse no teu andar vagaroso e
pesado, como as folhas que
se arrastam impelidas por aragens
ensurdecidas de tanto silêncio.
À margem dos dias as florestas
gritam por socorro
no leito seco dos rios.


Texto 
Ailime
26.10.2021
Imagem Google

terça-feira, outubro 19, 2021

Ao amanhecer

 

Monet


Ao amanhecer há uma nova vida
a nascer, 
uma nova forma de materializar o tempo
e os sentimentos.
Renasce-se para  o desconhecido
que desperta em nós a chama
abrasadora de viver 
como se as horas
fossem apenas um instante,
como se um golpe de vento
espontâneo
nos abraçasse e impelisse 
para o bulício que invade as cidades,
onde nos perdemos
como pescadores furtivos
no regresso da faina.

Texto
Ailime
19.10.2021
Imagem Google


terça-feira, outubro 12, 2021

Tão longe as manhãs

 
Juan Francisco Gonzalez


Tão longe as manhãs na casa onde às vezes regresso.

Tudo parece estar no mesmo sítio.

O rio corre sereno lá em baixo,

mas não me deixa ver as margens

onde outrora os seixos brilhavam ao sol

e eu saltitava em redor do moinho.

Tudo tinha maior amplitude.

A lezíria era  uma sinfonia de cores,

as águas eram mais verdes e as nuvens mais azuis.

Os pássaros cantavam mais alto.

Os teus pés pisavam o chão com leveza.

No resplendor da manhã, cada vez mais longe,

debruço o meu olhar e cismo.


Texto
Ailime
12.10.2021



terça-feira, outubro 05, 2021

Nem sempre o poema germina



Nem sempre o poema germina

como se fora raiz a brotar do chão árido.

O poema tem de ser esculpido,

entalhado, como se fora uma obra de arte

nas mãos do escultor

que grava a sua arte na pedra,

antes informe e discreta.

O poema na ausência das palavras

deve ser voz

a anunciar os ecos do silêncio

dos desertos profundos.

O poema necessita ser água

límpida e pura

para mitigar a sede dos poetas.


Texto 
Ailime
05.10.2021
Imagem Google

quarta-feira, setembro 29, 2021

Diante do mar o assombro

 


Diante do mar o assombro 
Aves errantes em sobressalto 
As marés murmuram baixinho 
O teu nome 
No princípio da tua voz 
O silêncio a embargar os sentidos 

No cimo da arriba 
O farol antecipa a noite 
Quando a claridade do mar 
Se tinge de púrpura 
A terra adormece tímida. 



Ailime 
14.03.2019 
Imagem
 Google
(Reedição revista)

quarta-feira, setembro 22, 2021

O outono








O outono insinou-se e chegou de mansinho,

sem fazer ruído, silencioso...

Mal o pressenti, apenas uma folha caída

despertou em mim a nostalgia da estação

dos cachos e das folhas douradas,

da sede que existe em mim e da qual não sei o nome.

As flores emudeceram, algumas murcharam

outras perderam a cor.

As horas encurtam os dias e o pensamento divaga

pelo silêncio da tarde, que se debruça no entardecer.

O sol-posto já se desenha no horizonte,

as minhas mãos, vazias, esperam o alvorecer.


Texto e foto
Ailime
21.09.2021

quarta-feira, setembro 15, 2021

A palavra



A palavra nem sempre está em lugar certo.
Pode estar no vento, nos ecos ou no silêncio,
no céu, no mar ou nas asas dos pássaros.
A palavra move-se, soletra-se,
mas, por vezes, resvala para o
abismo das emoções.
Tantas são as palavras
que não ousamos pronunciar.
Tantas são as palavras
que fingimos ignorar.
A palavra é a voz
que, quando bem silabada,
se deve preservar e contemplar
como se fora um tesouro.


Texto
Ailime
14.09.2021
Imgem Google

terça-feira, setembro 07, 2021

Nos dias avessos à luz


 

Nos dias avessos à luz 

descubro veredas por entre florestas sombrias 

que me lembram o tempo 

em que caminhavas desamparada 

como se o mundo te renegasse 

o chão, que pesadamente pisavas 

como se não houvesse relâmpagos, 

nem pássaros, nem silêncios, nem palavras  

a rasgar as manhãs, que os teus olhos guardavam. 

Das tuas mãos, em gestos simples, 

as flores desprendiam-se como asas 

que ninguém via, que ninguém ouvia. 

Apenas tu lhes conhecias a cor. 

 


Texto
Ailime 
Reedição
(2019) 
Imagem Google

terça-feira, agosto 31, 2021

É quase outono nas dunas



É quase outono nas dunas,

os oásis  têm sede  e as plantas mirram.


Nada é igual como dantes

quando os caminhos floriam de paz

nos teus pés descalços pelo vento

deambulando como plumas.


Ainda estamos a tempo

de colher flores amarelas

nos dias em que as névoas

orvalharem os desertos.


Texto
Ailime
31.08.2021
Imagem
Google

domingo, agosto 22, 2021

Sonho



Na escarpa sentada

avisto um navio ao longe

minhas mãos são como conchas

em que o  silêncio me refaz

do cântico dos búzios

a soletrar medusas

corais e marés-cheias.


O vento arrasta-me

pelas dunas de areias movediças

despenteia-me os pensamentos

como aves em pleno voo

a entoar a canção 

à deriva das correntes.


Virada para o mar

Recomponho-me do sonho 

- Cai a pino a luz do meio-dia.


Texto
Ailime
22.08.2021
Imagem
Google


terça-feira, agosto 17, 2021

Palavras tantas vezes sufragadas

 


sun

Palavras tantas vezes sufragadas
Por gotas de mar nublado pelas brumas
Que te cerram no olhar o vento
Quando há escassez de marés
E nem sabes se são mesmo palavras
Ou apenas pedaços de memórias
Encalhadas no convés do navio
Quando te fazes ao largo

Não precisas penitenciar-te
Deixa apenas que o esplendor do sol
Te preencha o vazio da alma.


Texto
Ailime
(Reedição)
Imagem
Google

terça-feira, agosto 10, 2021

A velha varanda



A  velha varanda avança pela planície

que entra pelo rio adentro e evoca o tempo

dos dias claros e das nuvens azuis

que te circundavam o rosto e o olhar

onde agora repousa a solidão.


Os degraus  ladeados por glicínias

evocam os teu passos ausentes

onde outrora sorriam  as andorinhas.


Até os pássaros partiram

deixando os ninhos vazios

sob o alpendre da casa

de paredes brancas e nuas

que retêm todos os gestos

e as palavras que dissemos.


Texto e foto
Ailime
10.08.2021
Imagem Google




terça-feira, agosto 03, 2021

Abro os meus gestos ao universo





Abro os meus gestos ao universo

e segredo-te  um mundo de cores;

as estrelas brilham como sóis,

a lua é um mar de prata

que te cinge como um barco

a deslizar sobre as águas

e um farol ali tão perto

rasga as sombras trazidas pelo vento,

clareando as marés.

Em silêncio repousamos o olhar

no sossego da noite.


Texto
Ailime
03.08.2021
Imagem Google

terça-feira, julho 27, 2021

O verão é feito de sol



O verão é feito de sol, areia e água salgada.

(por vezes a chuva cai impiedosa)

As ondas beijam as praias e os barcos 

navegam na costa os teus cabelos ao vento.


Na esplanada corpos tisnados pelo sol

brilham como a luz do crepúsculo 

e saboreiam um coquetel gelado

para mitigarem a sede.


No regresso à praia 

envolvem-se na brisa marinha

como nuvens de espuma

a reter as marés.


O verão é também o pôr do sol

quando o céu incendiado

derrama sobre os corpos nus

a luz do entardecer.


Texto e foto
Ailime
27.07.2021

terça-feira, julho 20, 2021

Atravesso contigo o minucioso universo


Atravesso contigo o minucioso universo

e conto as estrelas que nos separam dos abismos

onde repousam os nossos silêncios.

Dás-me a tua mão que me segura e fortalece

e afastas todos os medos que eu invento

quanto não estás perto de mim,

como se o mar me segredasse

os ecos nas margens dos oceanos

que habitam na serenidade  das águas.

As sombras dispersam-se  na luz

enquanto os pássaros em voo rasante

mergulham no tempo as medusas da lucidez.


Texto
Ailime
20.07.2021
Imagem
Google


terça-feira, julho 13, 2021

À medida que correm os dias




À medida que correm os dias

tento agarrá-los com o dedos,

guardá-los como luzeiros

mas o vento desvia-os pela vastidão do espaço;

fico sem norte,  de  mãos vazias

e a noite chega mais cedo.

A madrugada surge como fogo

a mostrar-me o esplendor dos dias

na nudez das planícies

que me cingem os olhos.

Nuvens esvoaçam como andorinhas.

O rio repousa nas margens

a correnteza do tempo.



Texto
Ailime
13.07.2021
Imagem Google

terça-feira, julho 06, 2021

Deambulo pelas ruas



Deambulo pelas ruas que me contornam

como se não houvesse saída

e nada sei sobre o tempo;

apenas as flores me falam de futuro,

de manhãs claras,

de jasmim, buganvílias

e amores perfeitos.


A terra molhada tem a fragância do outono

o esplendor  de um pôr do sol

a beleza do jaspe.


Um olhar  breve  e furtivo 

insinua-me levemente

que nos degraus das escarpas

ainda há ecos por desvendar.


Texto
Ailime
06.07.2021
Imagem Google



terça-feira, junho 29, 2021

As palavras



As palavras nem sempre querem dizer

os vestígios do tempo;

negam a verdade do esplendor da noite

onde tantas vezes

te deténs na procura do tempo perdido.


Nas sombras  desdobras-te

como se não te reconhecesses

mas sabes que estás ali.


Lembra-te que é  à noite

que o teu corpo  repousa

no remanso da alma.


Texto
Ailime
29.06.2021
Imagem
Google



terça-feira, junho 22, 2021

Escutar-te





Olho-te nos olhos

cavados, profundos

como se tivessem o mundo

por dentro

e um oceano

os beijasse

tantos são os sulcos

que os cerceiam

como a luz baça

que os envolve.

Alguns ignoram-te

outros maltratam-te.

Na tua solidão

ao relento

já nem sabes quem és.

Ninguém te escuta.

Ninguém te vê.

O que não sabem

é que tiveste uma vida plena

e bebeste nas agruras da vida

todo o teu saber.

Escutar-te

é  como ler uma enciclopédia.


Texto
Ailime
21.06.2021
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terça-feira, junho 15, 2021

Não sei medir o tempo


Não sei medir o tempo por gestos.

As andorinhas voltam na primavera,

fazem os ninhos

sempre no mesmo local

e  espanto-me com a sua precisão.

Ganham asas, voejam

e regressam de novo

não se desviando da rota.

Não sei medir  o tempo por palavras

que guardo nos silêncios

quando as manhãs acordam

para o ciclo da vida.

Não sei medir o tempo  por  sóis

que dançam nas sombras  dos abismos

e ressoam nos ecos das escarpas.

Sei medir o tempo apenas quando o relento

me fala de uma nova lucidez.


Texto
Ailime
15.06.2021
Imagem Google

terça-feira, junho 08, 2021

Desfolho-te e leio-te



Desfolho-te  e leio-te como se fosse a primeira vez.

Nem imaginas quanto gosto do gesto.

Os meus dedos cautelosos parecem sorrir

a cada página que me segreda silêncios,

ecos, sinais de luz  e metamorfoses.


Hoje encontrei um malmequer  ressequido

marcando a fronteira do que ainda não li

e ali me detive. Quanto tempo? perguntei-me.

Só sei que me abandonei ao olhar-te

tanto quanto o tempo que demorei a chegar a ti.


Texto e foto
Ailime
08.06.2021

quarta-feira, junho 02, 2021

Na vastidão do tempo

 
Paulo Heliodoro


Na vastidão do tempo percorro as margens

cintilam estrelas no  rio 

os peixes sabem a hora do desassossego

tão perto e tão longe dos teus olhos

o luar resguarda o barco.

Não te atreves a desviar o olhar

do infinito, que te cerceia as marés

as tuas mãos vazias puxam as redes.

Ontem era o tempo de enchentes

hoje o rio afunda-se na maré vaza

tudo tão estranho, tão vago.

No barco agora encalhado

o voo rasante dos pássaros.


Texto 
Ailime
02.06.2021


quarta-feira, maio 26, 2021

Já não sei das palavras



Já não sei das palavras.


Procuro-as entre o amontoado de papéis

e só vislumbro rascunhos indecifráveis,

restos de folhas amarelas, com pó,

pétalas de rosas secas.


Vem-me  à memória o que escrevi

e não sei enxergar o tempo

que me leva até ti,

no esplendor dos dias ontem.


Tudo tão belo, mas tão breve.



Texto e foto
Ailime
26.05.2021

quarta-feira, maio 19, 2021

Na celeridade do tempo



Na celeridade do tempo esculpimos as horas

como se os ponteiros do relógio nos cingissem

ao que gostaríamos de pensar e sentir.

 

A montanha já não é verde

Os peixes já não sabem de cor o rio

Nos olhos as margens secaram-se.

 

Para lá da tarde que cruzámos,

o silêncio e a solidão

abreviam o pôr do sol.

Pergunto-te o nome do porvir.

 

Texto
Ailime
19.05.2021


quarta-feira, maio 12, 2021

Tinhas o brio de um diplomata


Tinhas o brio de um diplomata

e a passividade redentora

de quem abomina a injustiça.

Teus pés calcorreavam quilómetros.

O sol caía a pino;

sem queixumes descias  vales

e subias escarpas semeando o pão.

Esculpias com os dedos na terra

o ciclo das águas

que mitigavam a sede  

do que plantavas com amor;

desse amor  brotavam flores e frutos.

Os teus olhos brilhavam de espanto

como se o sol te nascesse no gesto 

quando finalmente descansavas as mãos sobre o rosto;

como se a tua verdade fosse apenas um simples gesto.


Texto
Ailime
12.05.2021

Imagem Net (autor desconhecido)




quarta-feira, maio 05, 2021

No limiar da porta ainda há vestígios

José Malhoa

No limiar da porta ainda há vestígios;

a luz detinha-se no teu colo

e abrias as mãos num gesto 

como a querer agarrar o dia

que te fugia por entre os dedos;

recordo a leveza indelével

com que aprisionavas o tempo

quando o pôr do sol

te refulgia no rosto

o desgaste que te prendia

ao silêncio das palavras encobertas.

Era o tempo em que os pássaros

se recolhiam antes do voo.


Texto
Ailime
05.05.2021

terça-feira, abril 27, 2021

Percorri contigo os caminhos do vento



Percorri contigo os caminhos do vento

agarraste-me pela mão e levaste-me 

pela charneca em flor, na primavera

das memórias.

As fragâncias inebriavam-me os sentidos

e era como se fosse a primeira vez

que me deleitava com todas as cores

que faziam círculos em meu redor.

Amarelas, roxas, brancas, verdes

todas as cores do meu universo

estavam ali.

Perdi-me no meio delas e redopiei

qual bailarina em pontas

no mais belo palco do mundo.

O meu e o teu mundo.


 

Texto e foto
Ailime
27.04.2021

 


quinta-feira, abril 22, 2021

Nas calçadas ainda há vestígios

 



Nas calçadas ainda há vestígios
das flores rubras da manhã
que bebi como um néctar
quando a madrugada se soltou 

Pássaros esvoaçavam de galho em galho
e alertei-os da chegada da primavera.
Sorriram e voaram mais alto
a perpetrarem a canção
que as vozes ainda sustinham

Em bandos, todos os outros pássaros
entoavam já a melopeia
a incendiar a manhã
que eu percorria com pasmo



Texto
Ailime
Reedição
20.04.2020
Imagem Pinterest

quarta-feira, abril 14, 2021

Com palavras construo o tempo

 



Com palavras construo o tempo

a resvalar por entre os dedos

desvendando memórias

e sobressaltos

presos na alma,

onde concebo o futuro.

Há momentos em que

a minha  voz velada

se prende no deserto

e a sede  fere-me os lábios

e as mãos vazias e gastas

fazem eco de silêncios,

que não guardam as palavras

que se desprendem de mim.

Atravesso o tempo como asas em pleno voo.



Texto
Ailime
14.04.2021
Imagem Google