Nas calçadas ainda há vestígios

Nas calçadas ainda há vestígios

das flores rubras da manhã

que bebi como um néctar

quando a madrugada se soltou 

Pássaros esvoaçavam de galho em galho

e alertei-os da chegada da primavera.

Sorriram e voaram mais alto

a perpetrarem a canção

que as vozes ainda sustinham

Em bandos, todos os outros pássaros

entoavam já a melopeia

a incendiar a manhã
que eu percorria com pasmo

Texto
Ailime
20.04.2020
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Na tibiez dos dias

Na tibiez dos dias

somos como esfinges

vagueando na rua, deserta,

sem pisar o chão

olhando de través

a celeridade das sombras,

submersas em abismos

na incógnita das horas

e dos números.

Por breves instantes

os relógios silenciam-se

na luz do crepúsculo,

sem deixar rasto.

Texto 

Ailime

13.04.2020

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Nas escarpas dos dias

Nas escarpas dos dias

caminho descalça sobre o vento, 
como se desventrasse os silêncios
que me movem
no imprevisível deserto do ocaso
que se desnuda em oceanos
opacos e turbulentos
na incongruência
dos ponteiros do relógio
consumidos por águas movediças
que resistem à estranheza
das margens dos rios 
corrompidos pelas marés.

Enquanto isso, os pássaros,
imperturbáveis,
continuam os voos.


Texto 
Ailime
03.04.2020
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