terça-feira, outubro 26, 2021

No interior das pedras



No interior das pedras há chamas 
que à tua passagem te queimam os pés,
te sacodem, como se o vento alastrasse
e se detivesse no teu andar vagaroso e
pesado, como as folhas que
se arrastam impelidas por aragens
ensurdecidas de tanto silêncio.
À margem dos dias as florestas
gritam por socorro
no leito seco dos rios.


Texto 
Ailime
26.10.2021
Imagem Google

terça-feira, outubro 19, 2021

Ao amanhecer

 

Monet


Ao amanhecer há uma nova vida
a nascer, 
uma nova forma de materializar o tempo
e os sentimentos.
Renasce-se para  o desconhecido
que desperta em nós a chama
abrasadora de viver 
como se as horas
fossem apenas um instante,
como se um golpe de vento
espontâneo
nos abraçasse e impelisse 
para o bulício que invade as cidades,
onde nos perdemos
como pescadores furtivos
no regresso da faina.

Texto
Ailime
19.10.2021
Imagem Google


terça-feira, outubro 12, 2021

Tão longe as manhãs

 
Juan Francisco Gonzalez


Tão longe as manhãs na casa onde às vezes regresso.

Tudo parece estar no mesmo sítio.

O rio corre sereno lá em baixo,

mas não me deixa ver as margens

onde outrora os seixos brilhavam ao sol

e eu saltitava em redor do moinho.

Tudo tinha maior amplitude.

A lezíria era  uma sinfonia de cores,

as águas eram mais verdes e as nuvens mais azuis.

Os pássaros cantavam mais alto.

Os teus pés pisavam o chão com leveza.

No resplendor da manhã, cada vez mais longe,

debruço o meu olhar e cismo.


Texto
Ailime
12.10.2021



terça-feira, outubro 05, 2021

Nem sempre o poema germina



Nem sempre o poema germina

como se fora raiz a brotar do chão árido.

O poema tem de ser esculpido,

entalhado, como se fora uma obra de arte

nas mãos do escultor

que grava a sua arte na pedra,

antes informe e discreta.

O poema na ausência das palavras

deve ser voz

a anunciar os ecos do silêncio

dos desertos profundos.

O poema necessita ser água

límpida e pura

para mitigar a sede dos poetas.


Texto 
Ailime
05.10.2021
Imagem Google