sábado, março 27, 2021

Eras rio, barco, pássaro azul,



Eras rio, barco, pássaro azul,

nuvem, nascer e pôr do sol.

Searas ondulantes esculpidas

como mares

povoavam-te os sentidos.

As papoulas acenavam-te

o porvir

em gestos largos,

que só tu entendias.

As margens do rio são agora

estreitas

e o teu olhar já não as enxerga.

Há sobre o rio uma névoa

que te cega,

uma bruma que te impede

de respirar.

Apenas os peixes

te navegam no olhar.


Para meu Pai
(03.1926-12.2017)

Texto
Ailime
26.03.2021
Imagem Google

sexta-feira, março 19, 2021

A cidade está coberta de sombras

 


Carlos Botelho


A cidade está coberta de sombras.
Subo as escadas e no pátio
apenas um gato espreita
uma nesga de sol
e quebra o silêncio, que
me atordoa e desalenta.
Não me reconheço
nestes dias solitários
de recuos e fugas
onde tudo me parece 
desconhecido.
Até o rio já não tem a mesma cor.
Corre pálido num sussurro
sem barcos nem marés.
A cidade emudeceu.
O silêncio invadiu-a e
não ouço o adejar dos pássaros
nem o chiar dos elétricos.
É uma cidade de bancos vazios,
de janelas fechadas
e telhados suspensos.
O crepúsculo apressa-se 
e a noite dependura-se na lua.
Apenas o amanhã me poderá
devolver a liquidez dos dias.


Texto 
Ailime
19.03.2021

quinta-feira, março 11, 2021

O poema pode conter silêncios



O poema pode conter silêncios,
sorrisos e pores do sol.
Pode ser, simplesmente, uma folha
que esvoaça ao vento levando um beijo
para um amor distante.
Pode conter ecos da alma,
murmúrios do mar,
memórias e saudades.
Pode ser, simplesmente,
uma linha reta ou 
uma curva com metáforas
onde crescem flores na primavera.
Um poema pode ser, simplesmente,
um pássaro a voar.


Texto
Ailime
11.03.2021
Imagem Google

quarta-feira, março 03, 2021

Não fora a amendoeira florida




Dias sombrios penetram
o meu olhar, o meu sentir.
Não fora a amendoeira florida
no fundo do quintal 
e o alegre esvoaçar dos pássaros
com seus cantos atrevidos,
o inverno seria mais longo
e os dias menos claros.

No horizonte uma nuvem azul
brilha ao sol da manhã.
A natureza em alvoroço
acorda como uma criança
a brincar no jardim.

Debruçada na minha janela
o meu olhar, timidamente  sorri.


Texto e foto
Ailime
03.03.2021