sábado, outubro 19, 2024

Ainda será tempo de salvar a Terra?



Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem não ambicionar tesouros

se o poder não for a sua sede

mas o amor a sua ambição.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se os vilões que fomentam a guerra

e fazem alastrar a fome e a morte

semearem campos de trigo

e plantarem sementes de paz.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o egoísmo der lugar ao desapego

e o Homem aprender a viver

com modéstia  e sentido de justiça.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem beber das águas das fontes

e ficar saciado com o ar puro, a beleza e a luz

que emanam deste ainda tão fascinante Planeta.


Ainda será tempo de salvar a Terra?


Texto
Emília Simões
19.10.2024
Imagem Net

sábado, outubro 12, 2024

As palavras

 


Hoje as palavras estão escondidas num ninho.

Levanto voo para alcançá-las, mas

a gravidade deita-me ao chão.

Ergo-me e tento trepar.

O tronco, escorregadio,

faz-me resvalar e cada vez mais

as palavras se afastam.

Chove e os pássaros, taciturnos,

não abandonam as crias.

As palavras estão cada vez mais longe.

Tento voar numa folha ao vento

para as agarrar mas, teimosas,

ignoram-me.

Esqueço-me, por instantes,

que ainda não é o tempo

propício das colheitas.


Texto e foto
Emília Simões
12.10.2024

sábado, outubro 05, 2024

Passo à tua porta

 
José Malhoa


Passo à tua porta, subo o degrau;

a pedra desfaz-se sob os meus passos.

O tempo pesa sobre o meu corpo

tão distante da leveza dos gestos,

quando te procurava e me enlaçavas

nos teus braços tão fortes

que me faziam sentir muito amada.

O tempo tudo traz e tudo leva,

mas como as folhas  caídas

que atapetam o chão no outono,

na primavera brotam revigoradas

 e volto a sonhar outra vez

com a leveza e ternura dos gestos,

 gravados no meu viver,

Texto
Emília Simões
04.10.2024


sábado, setembro 28, 2024

No fundo dos meus olhos

 


No fundo dos meus olhos leio os teus.

Misturam-se num terno olhar que

os eleva num doce e húmido sentir.


Quando os olhos se encontram

tudo paira para além dos sentidos,

mergulhando-os ternamente,

como nenúfares, num lago azul,

onde o céu reflete a claridade das nuvens.


O sol brilha e entoa

numa suave e refrescante aragem,

uma breve e anunciada sonata de outono.


Texto e foto
Emília Simões
11.09.2024

sábado, setembro 21, 2024

O outono que se apressa


As folhas secas espalhadas no chão,
anunciam o outono, que se apressa.
O vento assobia e as folhas, em desalinho,
dançam num vaivém frenético a melodia
do verão, que se despede.
O seu olhar segue o movimento das folhas
e o dourado da tarde ofusca-lhe os sentidos,
que se misturam com o entardecer.
Os dias serão mais curtos, as noites mais longas.
O tempo encurta as horas, os minutos...
Por momentos, o seu pensamento turva-se
numa nostalgia que compunge.
Não pode voltar atrás!
O relógio acelera, mas o seu tempo
será o tempo do porvir das primaveras,
porque em cada estação há sempre
uma flor mágica a ser colhida.

Texto
Emília Simões
19.09.2024
Imagem Google

sábado, agosto 24, 2024

Vida e poesia

A origem da vida

 

os frutos maduros


uma folha caída
no silêncio da tarde
ouve os murmúrios 
de quem passa,
que finge não ver a poesia
que existe em qualquer tempo,
em qualquer ângulo,
em qualquer fuga,
na árvore quase nua
que escuta o pio
solitário dos pássaros.


Texto e fotos
Emília Simões
24.08.2024

Informo os meus amigos que farei uma pausa durante algum tempo.

sábado, agosto 17, 2024

Tão longe as manhãs

Juan Francisco Gonzalez

Tão longe as manhãs, na casa, onde às vezes regresso.

Tudo parece estar no mesmo sítio.

O rio corre sereno lá em baixo,

mas não me deixa ver as margens

onde outrora os seixos brilhavam ao sol

e eu saltitava em redor do moinho.

Tudo tinha maior amplitude.

A lezíria era  uma sinfonia de cores;

as águas eram mais verdes e as nuvens mais azuis.

Os pássaros cantavam mais alto.

Os teus pés pisavam o chão com leveza.

No resplendor da manhã, cada vez mais longe,

debruço o meu olhar e cismo.


Texto
12.10.2021
Emília Simões
(Reedição)

sábado, agosto 10, 2024

O resgate das palavras


No cansaço dos dias, as palavras,
___inconstantes,
escasseiam, à espera de resposta.
Reinvento-me numa nesga de verde, 
que observo da minha janela.
Os pássaros refugiam-se numa espécie
de recolhimento
e, por instantes, emudecem.
Fico a olhar pela janela que regressem,
mas lá fora o sol escalda,
___ o verde persevera.
(ainda não é outono)
Talvez logo mais ao sol-pôr
eles voltem e me visitem
no parapeito da janela,
e me ajudem a resgatar as palavras.

Texto e foto
Emília Simões
10.08.2024


sábado, agosto 03, 2024

Memórias

Imagem daqui

Passo à tua porta fechada e evoco
o tempo dos frutos maduros;
das amoras silvestres,
das ameixas amarelas
ao fundo da horta,
das melancias e melões,
dos tomates e feijão verde
que eram o orgulho
do suor, que te sulcava o rosto.
As uvas douradas com sabor a mel;
as abelhas bebiam-lhe o néctar.
Na horta, ao lado do poço,
o jardim das zínias e das sécias
faziam da horta um local encantado.
À tarde pela fresquinha,
como eram saborosas as merendas
com os frutos refrescados 
com a água do poço.
Tudo era puro e belo.
O ar que respirávamos, a água que
nos mitigava a sede;
o gorjeio dos pássaros, os zumbidos dos insetos,
o coaxar das rãs,
numa sinfonia perfeita.
O nosso mundo era outro.
Lugar de sons, aromas e sabores,
que nos oferecias com amor.


Texto
Emília Simões
(In Memoriam: meu avô materno)
03.08.2024
Imagem
Mário Silva
(Sapo)

sábado, julho 27, 2024

Nos descampados da vida



Nos descampados da vida

entre orvalhos sobre as pedras

e a terra sôfrega,

imagino o tamanho do mundo.


Saltito de pedra em pedra 

e os meus olhos semiabertos

tentam enxergar o longe e o perto.

Tudo me parece distante e confuso.


Um pássaro no seu voo matinal

anuncia-me o conforto do ninho.

Ainda é cedo para que a luz

me revele, nas sombras, a tua grandeza.


Texto
Emília Simões
27.07.2024