sábado, abril 26, 2025

Na sede que se fez alvorada

LovePik


Na sede que se fez alvorada

ainda ressoa o canto dos pássaros

que, em grande alvoroço,

sobrevoavam as cidades

clamando por justiça e amor.

Os ecos eram tão vigorosos,

que estradas se rasgaram de lés a lés

e todos avançavam no mesmo sentido,

a espalhar a notícia, que pairava no ar.

Foi um dia único na vida de um país

cinzento, triste, em que a primavera

se celebrava apenas nos campos.

Foi plena a festa que, nesse dia,

fez germinar nas cidades

campos de flores vermelhas.


Texto 
Emília Simões
26.04.2025

sábado, abril 19, 2025

Abro a porta ao silêncio


Abro a porta ao silêncio
e refugio-me nas memórias,
que tenho albergadas em mim.

São memórias longínquas,
que se vão desvanecendo,
como nuvens que se desfazem
impelidas pelo vento, deixando uma
estrada no céu.

Distancio-me, indolente,
tentando enxergar outro lugar para
guardar as lembranças,
que submergem entre sombras
e solidões que, de instante a instante,
se mostram à minha passagem.

Procuro uma luz para as proteger,
para que fiquem intactas, sempre
que me recordar dos dias em que tudo
era claro e as aves voejavam
em alegres bandos, dentro de mim.

Reedição revista
Emília Simões
29.01.2024
Imagem Google

Desejo a todos uma santa e feliz Páscoa!

sábado, abril 12, 2025

Escrevo sobre pedras e espinhos

Freepik

 Escrevo sobre pedras e espinhos;
a rota é dura e longa
e o meu traço desgasta-se
 como poeira ao vento.
Perdi-me nos trilhos;
não reconheci nas pedras
o esquiço do meu trajeto
e fiquei desamparada e só.
No  meu silêncio,
tentei escutar-te 
nas encruzilhadas 
dos caminhos.
A tua voz velada
sumiu-se e não te ouvi.
Sentei-me no cimo dum monte
a perscrutar o horizonte.
.........
Nos passos do teu deserto,
encontrei-me.



Texto
Emília Simões
12.04.2025

sábado, abril 05, 2025

Um poema germina


Um poema germina como uma árvore.
Dissemino palavras, imprecisas,
sob a magnólia do jardim;
Deixo que o tempo as faça florescer na primavera.
Não sei se as palavras tem odor, como as flores do jasmim
dependuradas do muro, em redor da casa.
Todos os dias espreito da janela
para enxergar alguma palavra, nas folhas
da magnólia, mas o vento, em rodopio,
confunde-me o olhar.
Numa manhã, deparo-me com um broto,
que me parece uma folha a perfurar
uma pétala de magnólia, caída no chão.
O poema inicia o seu ciclo
e, como a primavera, chegou o tempo
de vicejar.

Texto e foto
Emília Simões
05.04.2025