quinta-feira, dezembro 22, 2022

É Natal!

 



Lá fora olhares e  faces encovadas
deixam escorrer gotas de orvalho
geladas pela indiferença de quem passa.

As luzes, o alarido, a festa das compras
(de última hora num corre-corre desenfreado).
A noite  calada, fria, impiedosa
dos corações solitários, aproxima-se.

Uma mão estendida num olhar côncavo
(onde cabe toda uma vida apática de rastos)
perde-se sob a arcada recôndita e sórdida do cais.

Na fogueira que me arde no peito
um aperto sangra-me a razão.
É hora de acordar e abraçar o meu irmão.


Ao longe, uma luz brilha.
Na gruta fria, envolto em trapos
eclode o Amor,
que abarca (abraça)  todos.

Feliz Natal e um bom Ano Novo.

Grata por todas as vossas visitas ao longo do ano.

Abraços,
Ailime



Texto
Ailime
20.12.2015
Imagens Google

domingo, dezembro 18, 2022

O sol tarda, mas já se anuncia.



Percorro os caminhos de outrora

cobertos de geada.

Nos escombros dos muros o musgo,

onde escorre a fria madrugada

que acolhe os pássaros feridos 

de mais uma noite ao relento.

Sobre o rio, neblinas

vertem o orvalho da manhã,

que cava no teu rosto

as cicatrizes da noite,

que te embalam no silêncio

onde mergulhas a voz.

O sol tarda, mas já se anuncia

na cor purpúrea do amanhecer.


Texto 
Ailime
10.12.2022
Imagem Google



sábado, dezembro 03, 2022

Na respiração de novos rebentos

(Desconheço o autor)


No silêncio da seiva a árvore adormecida;

folhas caídas sobre o chão molhado

e os líquenes a envolverem-na

como primícias de vida prometida


os pássaros adejam em seu redor 

alegres no seu canto sempre mavioso,

indiferentes às estações

e ao vento dos dias gelados


a natureza canta sempre ao amanhecer

e adormece no entardecer

quando as aves partem em debandada

na respiração de novos rebentos.

 

Texto
Ailime
03.11.2022


sábado, novembro 26, 2022

No tumulto das palavras

Belinda Flores

No tumulto das palavras sinto solidão.

Não é que as palavras não foquem sentimentos,

mas, por vezes, o gume ácido da vida

não deixa que façam sentido.


Na transversal das ruas que percorro

como ave sem penas, ouço à distância

o eco do silêncio que se me quebra na voz.


Há uma infinidade de ruas a percorrer

para melhor entender o significado

do que me rodeia, do que me espanta.


Porque a vida não sendo reta

é feita de sóis e de luas,

de abraços e palavras.

De ecos e resplendores

na partilha dos silêncios.


Texto
Ailime
26.11.2022

sexta-feira, novembro 25, 2022

Era outono e as folhas sorriam-nos.


Sempre caminhei para ti sem saber se te encontrava.

As portas por vezes fechadas, outras vezes abertas,

mas eu não te vislumbrava.

O chão estava coberto de seixos

salpicados por maresias que me perturbavam o olhar.

Nada fazia prever que te encontraria 

um dia, por acaso, com uma chávena de café 

que me oferecias despretensiosamente

fitando o meu olhar, que se prendeu no teu,

num abandono quase íntimo.


Era outono e as folhas sorriam-nos

como se uma força nos desafiasse 

a libertar o esplendor do mundo.



Texto e foto
19.011.2022
Ailime

sábado, novembro 12, 2022

Da janela florida

Imagem Net


Nas escarpas do tempo

ouço a tua voz que me fala 

das estações que ainda ontem 

eram barcos atracados nos cais,

hoje apenas restos de cinzas

esquecidas na velha lareira

onde crepitavam silêncios

a marejar dos teus olhos,

debruçados na solidão das noites.


Dos voos rasantes dos pássaros

a arrastar as sombras

diante da janela florida,

do inverno restou apenas o vento

que segreda em silêncio

os atalhos em que te reconheço.


Texto
Ailime
12.11.2022


sábado, novembro 05, 2022

Por vezes as palavras hibernam

Angela Betta Casale


Por vezes as palavras hibernam

e ficam retidas em silêncio

no mais recôndito do meu ser.

Nem o vento,

nem o voo dos pássaros

as fazem despertar.


Como num sonho

corro atrás delas, tentando libertá-las.

Elas persistem num mutismo secreto,

que me prende a língua

e tolhe os sentidos ausentes

da realidade, que me atordoa.


No esplendor da manhã

abro a janela e deixo que o sol

desperte, no silêncio das palavras,

o rio que habita em mim.



Texto
Ailime
05.11.2022
Imagem Google

sábado, outubro 29, 2022

No silêncio das folhas

 

Leonid Afremov



No silêncio das folhas

o eco da chuva que, irrefreável,

nos espanta e das nuvens

vai tombando

como cascatas de pérolas

a brilhar nas calçadas.


Estendo-lhe os braços, as mãos

e acolha-a, como bem precioso,

tão próxima de mim

a desviar-me a atenção

das guerras, dos mal-entendidos,

das frustrações, das impiedades.


No jardim, as folhas acolhem os pássaros

que perderam o norte

e repousam o outono nas tardes dos dias. 



Texto
Ailime
29.10.2022



sábado, outubro 22, 2022

Sobre o dorso da terra o gemido

 


Sobre o dorso da terra o gemido

e a busca por dentro e por fora 

do precioso líquido

que mitigará a sede do mundo.

Não tardará....

Chegará  de mansinho

e depois como um dilúvio 

lavará todas as penas 

e as manchas

que inundam a terra

e os rios transbordarão.

Uma pausa à espera de resposta

e o arco-íris a espreitar

e a ouvir a minha prece.



Texto
 Ailime
Foto  do meu filho S.S.
22.10.2022


sábado, outubro 15, 2022

Cativamo-nos em silêncio

Gustav Klimt

Cativamo-nos em silêncio

e em silêncio abrimos o coração

num beijo, que nos estremece

e enternece.

Deixamos que neste entardecer

os sentidos repousem

e nos recordem os cachos dourados

do nosso amanhecer.

Era tudo tão intenso, tão cheio de cor.

Hoje abraçamos o mundo

flutuando na leveza do amor.



Texto
Ailime
15.10.2022


sábado, outubro 08, 2022

O tempo, sempre o tempo

 

Ailime

O tempo, sempre o tempo, na voz,

como um rio que percorre as palavras

que teimam em libertar-se nas manhãs,

em que o orvalho lhe cinge o olhar

ainda meio adormecido.

Como uma fonte soletra nas águas

os sentidos, em movimentos ascendentes,

no esplendor da manhã a cativar-lhe

as palavras, que se soltam como flores

a desabrochar num chão de primavera.

Retoma o caminho

liberto de sombras e silêncios

e regressa ao tempo, nas palavras,

refletidas no rio.


Texto e foto
Ailime
08.10.2022

sábado, outubro 01, 2022

São breves os dias de outono



Quando cheguei à minha rua

já era outono.

Ainda ontem colhia uma rosa...

Hoje, das minhas mãos,

caem folhas amareladas

que recolhi no regaço

onde os dias repousam mais cedo,

no sol que se  despede 

mal a tarde se insinua.

São breves os dias de outono

e as noites alongam-se

para além do horizonte,

onde apenas distingo

no crepúsculo das horas

o silêncio da manhã que tarda.


Texto e foto
Ailime
Set./2022

sábado, setembro 24, 2022

Rasgava o horizonte com o olhar

Célia Marinho


Rasgava o horizonte com o olhar

e com os dedos agarrava o luar

que se misturava com as cores

purpúreas do entardecer.


Na sua voz embargada

acolhia todos os pássaros,

que voejavam em seu redor

numa discreta contemplação

do esplendor das sombras

que o luar acendia.


Corria-lhe nas veias um rio

onde, como em chão lavrado,

as margens repousavam

e o luar se recolhia.


Tão longa a noite...

Tão breve o dia...


Texto
Ailime
Set/2022

sábado, setembro 17, 2022

Tinhas nos olhos a sede


Anouk Lacasse

Tinhas nos olhos a sede

de quem sofre a solidão

das noites em que os relâmpagos

abrem crateras de fogo

no tumulto das palavras.


Tudo era tão inteiro

quando enchias o peito

com as cores do arco-íris

e as palavras tão breves

no reencontro dos versos.


Nas folhas caídas, lias as primaveras

recitadas na infância

quando o universo te abraçava

numa dança irrequieta

a balouçar nos braços do vento.


Texto
Ailime
11.09.2022

sábado, agosto 27, 2022

Nas asas do vento



Nas asas do vento descansava

das provações da vida.

O seu coração ficava leve, leve

como pássaros a esvoaçar

em redor da sua cintura.


Decidira não mais se penalizar

por todos os absurdos com que se cruzara.

Era um caminho árduo, silencioso

que lhe ardia sob os pés cansados,

onde não queria voltar.


Como um inseto saltitava 

sobre as flores secas  e sem cheiro

e redimia-se num casulo de silêncio

numa escarpa junto ao mar.


(Vou estar em pausa por duas semanas. 
Regressarei na terceira semana de setembro)Vou estar em pausa por duas semanas.
 Regressarei na terceira semana de setembro).


Ailime

Texto
27.08.2022
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sábado, agosto 20, 2022

Queria abraçar o tempo


Queria abraçar o tempo como quem

navega à deriva

e rasgar as nuvens com os olhos

como se fossem pássaros,

a poisarem-lhe nas mãos esguias 

as tempestades do mar.


Um barco pousou-lhe no rosto

a ondulação dos mares

e dos seus olhos escorreu

a maresia, que ainda a prendia

à escarpa do silêncio

que trazia  presa no peito.


Encontrava-se perdida

nas sombras ocultas das névoas.

Apenas o silêncio

lhe devolvia os vestígios

do tempo, que alcançara

sem sequer o vislumbrar.


Texto
Ailime
20.08.2022
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sábado, agosto 13, 2022

Do verão

 


O verão das sedes, dos fogos, das inquietações,

mas também de águas frescas, de sombras e reencontros.

De desertos, de alvoradas, que anunciam dias claros.

De estradas cheias de pó, de pés descalços no chão que escalda.

Uma mão estendida no meio do nada.

Gotículas de sal a escorrer dos olhares

pelas faces, esculpidas pela dor das distâncias

dos silêncios, onde as palavras se aninham

sem encontrar o sentido das vozes,

que tardam em pronunciar a brancura dum sorriso.

No verão, ao relento, tardam os dias claros.

A noite preenche os vazios do silêncio.


Texto
Ailime
13.08.2022
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sábado, agosto 06, 2022

Com seu vestido bordado de cerejas

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Com o seu vestido bordado de cerejas
sob uma imaculada bata branca
viu-se ainda menina 
sentada no banco da escola
onde aprendeu as primeiras letras.

Num pequeno lapso de tempo
todas as memórias
lhe afloraram o pensamento
que vagueava como se 
fossem andorinhas 
a construir os ninhos
no alpendre do recreio.

Tudo lhe era tão próximo
como se ainda ontem entoasse a tabuada
e brincasse à linda falua, que "lá vem lá vem"...

O tempo, implacável, num raio de sol
desfez-lhe, por instantes, o encanto.
Mas não duvidava.
Dali, também podia abraçar o azul do seu rio.


Texto
Ailime
06.08.2022
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sábado, julho 30, 2022

Na solidão do lodo


Conhecia de perto todos os mistérios do rio.

De pedra em pedra percorria-lhe as margens

e desvendava o sabor das auroras quando as neblinas

o afagavam  ainda antes do refulgir do sol.

E estendia-lhe as redes.

Era um rio límpido, sem mácula, azul de tanto céu,

que brilhava no silêncio da lezíria

como se fora outro lugar onde o trigo ondeava.

Nada era tão puro como a transparência dos barcos,

onde saltitavam os pássaros para captar as presas

que quase afundavam o barco.

A faina era tão leve e a colheita tão farta...

.........

Hoje, apenas um velho barco carcomido,

na solidão do lodo.


Texto
Ailime
30.07.2022
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sábado, julho 23, 2022

Havia um oceano dentro dela



Havia um oceano dentro dela

de águas calmas, sem ondulação,

que mergulhava no silêncio das madrugadas

e na paz do entardecer.

Os barcos navegavam à tona

rodeados de corais verdes e azuis

que a cerceavam nas  noites

em que as marés fitavam a Lua

e o luar a cingia meio tímido.

Nestes momentos a presença de Deus

tomava-lhe as emoções e o silêncio

era apenas brisa refrescante

numa praia invisível.


Texto
Ailime
23.07.2022
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sábado, julho 16, 2022

Sobre o chão da terra desolada




Nas palavras, nem sempre o vento escreve o que quer.

À deriva, procura nos lugares recônditos, a luz 

que parece obscurecida pelas sombras das florestas,

onde outrora surgiam mananciais e hoje o fogo alastra.


Não há forma de escolher entre as chamas e o vento

o lugar das palavras que parecem afogadas nas cinzas.

Não há hora para ouvir a voz calma do vento e  a placidez

das chamas, dissimuladas pela ironia do vento.


Não chegou ainda o tempo de o Homem despertar

para a imagem que cada vez mais vai dizimando

as palavras que o vento espalha

sobre o chão da terra desolada.


Texto
Ailime
16.07.2022
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sábado, julho 09, 2022

Não sabia defender-se dos imprevistos


(Desconheço o autor)


Não sabia defender-se dos imprevistos.

Seus lábios calavam a dor do desconhecido.

O seu coração continha as emoções

que tentava segurar entre os dentes

e, as suas mãos, trémulas, prendiam a esperança

que teimava em arredar-se de si.

O sorriso tinha adormecido no seu rosto cansado.

Assim acordou a madrugada

com a notícia que tardava.

Os pássaros voltaram a voar

e a fazer ninho no seu peito.


Texto
Ailime
09.07.2022
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sábado, julho 02, 2022

Na solidão do vento

Erick Alves

Na solidão do vento encontro-me com o amanhã.

Os meus braços abrem-se como ramos de árvores

a baloiçarem-se num ritmo frenético

como se o outono surgisse no meio das folhas

que vão caindo amarelando o chão.


Nos muros já não brilham as glórias da manhã

que, ressequidas, apenas das hastes a lembrança

dos eflúvios que  aromatizavam  o meu ser

que agora preenchem um pacto de silêncio.


Não distingo nas sombras do vento

a claridade dos dias e os sons do alvorecer.

Apenas um pássaro veloz, indiferente à minha sede,

traça no céu as cores da primavera.


Texto
Ailime
01.07.2022

sábado, junho 25, 2022

O tempo

 Jacob Brostrup

Por entre nuvens e céus claros

o tempo corre veloz como pássaros;

nem as trovoadas o detêm 

na sua correria louca, intempestiva

como foguetes em dias de festa

a provocarem surdez

quando os foguetes se apagam.

O tempo não esvaece, alastra-se

como fogo impelido pelo vento

e nem as águas o estancam.

O tempo na sua voraz pressa

nem sequer tem tempo

para observar  o mundo

onde frenético, voa em liberdade.


Texto
Ailime
25.06.22
Imagem Google


domingo, junho 19, 2022

Tenho saudades do meu rio

 




Tenho saudades do meu rio.

O meu rio não é um rio como os outros,

porque me corre nas veias,

o que o torna único.

É um rio que me viu nascer.

Um rio com águas bordadas a prata

e com margens tingidas de azul.

A lezíria beija-lhe as margens

numa doce primavera verde

e os pássaros voejam em redor

debicando aqui e ali,

como se entendessem

as maresias e os pores do sol

que sobrevoam os barcos

que trago dentro de mim.

O meu rio é único e belo.

Tão belo,

que cabe na luz do entardecer.


Texto e foto
Ailime
19.06.2022

sábado, junho 11, 2022

Um dia



Um dia pode significar uma infinidade de coisas e factos.

Mas num dia não cabe todo o amor que as distâncias separam

todas as saudades que fazem doer o coração

todo o afeto que um beijo pode transmitir

ou o abraço apertado  que se dá com um nó na garganta.


Um dia pode significar uma infinidade de coisas e factos.

Mas jamais pode substituir a presença de quem longe

olha o horizonte como se ali pudesse beber da seiva das suas raízes

mergulhar num mar de sentimentos reprimidos

estreitando os laços que teimam em queimar a pele.


Um dia pode significar uma infinidade de coisas e factos.

Lembranças, glórias, vitórias, feitos, conquistas

mas jamais poderá mostrar o brilho do olhar e o sorriso

de quem longe é pródigo em silêncios e solidão

atravessando o dia com uma vontade irreprimível de regressar.


Para o meu filho SS

Texto
Ailime
11.06.2022
Imagem Google


sábado, junho 04, 2022

No som do silêncio


Ângela Felipe


No som do silêncio

a claridade da manhã

como um cântico

a inebriar-me os sentidos

passadas as sombras

que anuviavam meus dias.

Os pássaros voejam alegres

e pousam na minha janela

o esplendor do voo

como num abraço de paz

acordando as palavras

adormecidas na noite.

Foguetes anunciam a festa

e as palavras bailam desordenadas

ao sabor do vento

desfazendo a solidão.


Texto
Ailime
04.06.2022

domingo, maio 29, 2022

Rasga-me no peito a dor



Rasga-me no peito a dor

da clausura que de ti emerge

de passos no mesmo espaço

onde te confinas com a resiliência

de quem sabe esperar.

Resistes como quem ama

e abraça as dificuldades

como se fossem pequenos sóis

a brilhar na noite escura.

O tempo é apenas um sopro.

Tudo vai ficar bem

quando o coração

busca dentro de si a vida.


Para o meu filho MS

Texto
Ailime
29.05.2022

segunda-feira, maio 23, 2022

Na escassez das palavras


Maria Caldeira


Na escassez das palavras

a sede no deserto 

como um rasgão na pele

miragem e silêncio

nas poeiras das dunas

a toldar o pensamento

que clama pelo voo das aves

para dissipar as névoas

Há vazios e grãos de poeira

a marejar os olhos

nos silêncios da tarde

que, em vão, suplicam

que o oásis floresça.



Texto
Ailime
23.05.2022


terça-feira, maio 17, 2022

Diante do mar o espanto


Pintura (Óleo) desconheço o autor



Diante do mar o espanto
pássaros no horizonte
com seus voos em alvoroço
esboçam teias de luz
que acolho no meu regaço
como se fossem pedaços de tempo
a adiar as manhãs.

Mar azul, mar refulgente
ondeando em espuma de neve
esculpe no areal dourado
os beijos dos amantes
que na praia serenados
quando o sol se esconde 
apenas o murmúrio do mar

Mar tão longe e tão perto
sempre tão belo, por vezes medonho
trazes a luz, mas também as sombras
Mar brilhante que seduzes
quantos de ti se aproximam
por teres uma beleza única
através de ti o amor.


Texto
Ailime
17.05.2022

segunda-feira, maio 09, 2022

Escorria-lhe da boca o silêncio

 Di Farias

Escorria-lhe da boca o silêncio

que lhe ardia no peito.

Não soletrava as palavras

e os olhos côncavos

imersos num mar em chamas

ateavam nas suas mãos

barcos à deriva

baloiçando ao vento,

sulcando-lhe no rosto

a dor do pranto contido.

Nem o voo dos pássaros

em cantos alegres e claros

lhe soltaram dos lábios

o sabor amargo do silêncio.


Texto
Ailime
09.05.2022

terça-feira, maio 03, 2022

Todo o artista põe amor nas suas obras




Todo o artista põe amor nas suas obras

cinzela-as com todo o cuidado;

seu olhar lapida-as como

se fossem diamantes a brilhar ao sol.


Nem sempre a obra parece perfeita

como nada no mundo é perfeito,

mas o suor escorre-lhe no rosto

as suas mãos tremem de comoção

perante a obra que acabou de criar.


O homem também é imperfeito

na sua imperfeição perde a razão

deixando que a vanglória o arrebate;

num ápice nega o que é perfeito.


Texto e foto
Ailime
03.05.2022


quinta-feira, abril 28, 2022

Percorro os campos em flor



Percorro os campos em flor
que me falam de primaveras
mas também de madrugadas
de tempos muito longínquos
que trago cingidos ao peito.

Inebriada por sentimentos e afetos,
nuvens brancas em céus azuis
debruavam o meu olhar
por entre as margens do rio
que sussurravam o meu sentir
no rumorejo das águas.

Hoje, apenas ecos, reproduzem
os sons de outrora, quando os pássaros
em voos alegres e maviosos
vêm pousar nas minhas mãos
o restolho da saudade.


Texto e foto
Ailime
27.04.2022

segunda-feira, abril 25, 2022

25 de Abri, sempre!

  


Nas calçadas ainda há vestígios
das flores rubras da manhã
que bebi como um néctar
quando a madrugada se soltou 

Pássaros esvoaçavam de galho em galho
e alertei-os da chegada da primavera.
Sorriram e voaram mais alto
a perpetrarem a canção
que as vozes ainda sustinham

Em bandos, todos os outros pássaros
entoavam já a melopeia
a incendiar a manhã
que eu percorria com pasmo



Texto
Ailime
Reedição
20.04.2020
Imagem Pinterest

quarta-feira, abril 20, 2022

Roubo à noite a Lua Cheia



Roubo à noite a Lua Cheia
guardo-a num quarto pintado de azul
e dependuro-a no teto qual
candelabro a iluminar as sombras
suspensas do telhado da casa.

Outrora o luar, liberto,  acendia
todos os recantos por mais escuros
e sombrios
como faróis no mar alto
em noite de tempestade.

Talvez a escuridão seja passageira
e as sombras se dissipem
em sonhos inacabados
transformados em teias de luz
a escorrerem-me  pelos dedos das mãos.


Texto e foto
Ailime
19.04.2022

sexta-feira, abril 15, 2022

No meu silêncio


No meu silêncio ensimesmei-me.
Angústias me trespassaram
como relâmpagos a faiscarem
que me atravessaram o corpo
em tempestade convulsiva
e chorei.
A tua ausência,
a tua traição.
Subi ao cume do monte.
Como ladrão fui esconjurado,
maltratado
e açoitado.
Crucificado.
O templo rasgou-se ao meio,
o sol eclipsou-se
e expirei.
Tudo foi consumado.

Santa e abençoada Pascoa.

Texto
Ailime
Imagem Google
13.04.2022

segunda-feira, abril 11, 2022

Para colher um nenúfar

Claude Monet
 


Descia os degraus que
me levavam ao rio
onde cresciam nenúfares
num lago que improvisei.
Apenas o marulho das águas
me impedia de caminhar nas margens
ora pintadas de azul, 
ora pintadas de verde.
O sol debruçava-se sobre as águas
e a claridade iluminava-me como fogo,
como se ateasse uma fogueira.
O céu matizado de nuvens, tingidas de púrpura,
era o espaço dileto dos pássaros
que, em voos rasantes, anunciavam o entardecer.
O sol ia baixando no horizonte
até que o esplendor da noite
fulgisse na linha do infinito.
Descalça, sobre os seixos, contornava o lago
estendendo as mãos, incólumes, 
para colher um nenúfar.

Texto
Ailime
04.04.2022

 

segunda-feira, abril 04, 2022

Os teus gestos



O estio adentrava-se-te no ventre
e o teu rosto sorria.
Não que os teus olhos o revelassem;
mas as tuas mãos tremiam e acariciavam
inconscientemente
o fruto que acabaria por brotar em breve,
nesse desatino que sempre te acompanhava.
As cigarras entoavam um crepúsculo
e os teus lábios permaneciam cerrados
num secretismo de dúvidas,
líquidas do silêncio que albergavas
nos gestos inconscientes
que pairavam sobre as águas
e se entranhavam nas pedras.
Nunca entendi o movimento das águas
nem o balouçar do vento
a raiar a linha de fogo
que delineava os teus gestos.



Texto
Ailime
(Reedição revista)
10.08.2020
Imagem Google