sábado, janeiro 07, 2012

Paisagem

Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Ailime
Imagem da Net
07.01.2012

4 comentários:

  1. Belíssima escolha poética.
    Ailime, querida amiga, tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
    Beijo.

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  2. Que lindo esse texto. A natureza sempre nós reservas coisas e sentimentos lindos. Adorei os versos.
    Desejo uma semana imensa de coisas boas. Obrigada pelo carinho da amizade...Um abraço!

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  3. Que versos lindos Ailime, é a natureza sempre bela!
    Um grande abraço.

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  4. Sophia continua entre nós através da sua incomparável poesia! Que bom partilhar contigo este delicioso momento!

    Beijos,
    AL

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«Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar».C.L.