quarta-feira, junho 15, 2016

O rio que nos corre nas veias

Tela de Daniel Ridgway

Procedemos do mesmo rio
que nos abraçou na nascente
e saltitámos de pedra em pedra
como rãs a coaxar
por entre juncos floridos
no pântano de sombras,
que silenciavam as tardes
daqueles dias em que o céu
vermelho como papoulas
abrasava o horizonte.
Como aves, de asas impelidas pelo vento,
voámos céleres no tempo
e atravessámos as mesmas pontes
a desbravar as margens
do rio que nos corria nas veias.
Um dia voaste e perdi-te o rasto.
Nessa manhã o rio transbordou
e um enorme lago separou-nos.
.....................................................
Inesperadamente voltaste
e o rio voltou a correr-te nas veias.
…………………………………..
Como as ondas do mar
(que sempre cingiram o rio)
ausentavas-te e volvias
como marés a vaguear na praia
as  manhãs do entardecer.
…………………………………….
Não sei se algum dia alcançarás
que somos filhas da mesma nascente,
que o sol que nos aquece é o mesmo,
que percorremos as mesmas ruas,
os mesmos sonhos e quereres.

Não sei se um dia,
algum dia,
saberás quem sou.

Saberás quem somos.

Texto
Ailime

Imagem Google

13 comentários:

  1. E o rio corre-nos nas veias como uma desordem nos "dias em que o céu
    vermelho como papoulas abrasava o horizonte"... E transborda pelas margens na aflição da enchente...E continua a correr sobressaltado pela alma na hora dos afectos...
    Que belo poema, minha amiga Ailime! Gostei imenso.
    Um grande beijo.

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  2. Do começo ao fim, BELO! Palavras que soam ardentemente... Poema cheio de vida e expressões do peito...

    UM BOM DIA... Começando a 5ª feira por aqui...
    Beijinho

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  3. Boa tarde
    Fantástico, como sempre.

    Dia feliz. Beijo!

    Coisas de Uma Vida 172

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  4. Boa noite, querida amiga Ailime!
    O jeito é nos 'escondermos' através das palavras...
    Linda forma de extravasamento!
    Bjm muito fraterno

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  5. O que sentimos pelos outros é sempre diferente do que os outros sentem por nós. Mas ainda bem que há marés que voltam a pôr os rios dentro das suas margens.
    Magnífico poema, minha amiga, gostei imenso.
    Ailime, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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  6. Filhos da mesma nascente...afluentes do mesmo rio...tanta vez...fala a poetisa!
    Gostei... Bj

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  7. Belo, Ailime! E verdadeiro; às vezes, perdemo-nos tanto no rio que corre em nossas veias, que não reconhecemos os afluentes que correm a nosso lado. Boa semana, amiga; obrigado por mais este belo poema!

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  8. Do ventre até à foz

    Bj poeta

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  9. ...e quis acompanhar o caudal do rio, mas perdi-me na envolvência da paisagem. É tudo com o que se sonha quando nos perguntamos o prquê de águas turvas.
    Belíssimo, Ailime!
    beijinho

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  10. Lindo e tão cheio de sensibilidade,Ailime!ADOREI!Faz bem pensar!!! beijos, tudo de bom, lindo dia! chica

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  11. Lindas expressão de sensibilidades da alma. bjs

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  12. Boa semana, Ailime! Aguardo o próximo post.

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  13. Boa tarde Querida Ailime.
    Bela imagem e as suas palavras vindo do fundo de um coração sensível e cheio de amor. Lhe adimiro muito amiga. Enorme abraço.

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«Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar».C.L.