Abraços,
Ailime
«As palavras pesam. Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas» Graça Pires in Poemas escolhidos
Percorro os caminhos de outrora
cobertos de geada.
Nos escombros dos muros o musgo,
onde escorre a fria madrugada
que acolhe os pássaros feridos
de mais uma noite ao relento.
Sobre o rio, neblinas
vertem o orvalho da manhã,
que cava no teu rosto
as cicatrizes da noite,
que te embalam no silêncio
onde mergulhas a voz.
O sol tarda, mas já se anuncia
na cor purpúrea do amanhecer.
folhas caídas sobre o chão molhado
e os líquenes a envolverem-na
como primícias de vida prometida
os pássaros adejam em seu redor
alegres no seu canto sempre mavioso,
indiferentes às estações
e ao vento dos dias gelados
a natureza canta sempre ao amanhecer
e adormece no entardecer
quando as aves partem em debandada
na respiração de novos rebentos.