domingo, agosto 31, 2025

Vestígios de mar


Vestígios de mar 
incendiaram-lhe o peito.

Da pedra emergiu a forma,
ainda disforme.

Nos dedos submersos
e distorcidos
navegaram ondas e marés,
na erosão perfeita da arte.

A sua voz, atravessou a noite
e fundiu-se como que
num grito heroico.
A obra nascia.


Texto
(Reedição revista)
Emília Simões
Imagem Google

(Estarei ausente nas primeiras três semanas de setembro).

sábado, agosto 23, 2025

Nos momentos em que o silêncio

Pixabay

Nos momentos em que o silêncio
arde no meu peito,
ouço a voz do vento
que arrasta no tempo
as primeiras folhas de outono
que, sob o meu corpo,
estremecem de tanta secura.

Ainda é cedo, mas o outono
insinua-se e as horas encurtam
os dias, que os ponteiros
dos relógios, já gastos,
vão empurrando com espanto.

O meu desejo é que
as flores continuem a brotar,
nos campos áridos,
junto à minha porta.

Texto
Emília Simões
23.08.2025

sábado, agosto 16, 2025

Nas margens do meu rio

Vecteezy


Nas margens do meu rio

há uma enorme angústia,

uma sede intensa.

Tudo arde, até o leito do rio

emana labaredas 

que queimam os peixes.

Do teu rosto

soltam-se gotas de suor

e o sal cava-te rugas profundas

nas entranhas,

que choram

o calor da terra, do mundo.

Um deserto aproxima-se.

Perdi a noção do meu espaço.

Tudo se transforma.

Fico imóvel como pedra.

Ao meu redor apenas silêncio

e o chão em brasa.


Texto
Emília Simões
16.08.2025


sábado, agosto 09, 2025

Neste mar imenso


Neste mar imenso mergulho o meu olhar,

a minha sede, os meus sonhos, o meu silêncio.

A brisa marinha envolve-me, cálida, mas serena.


Sentada numa escarpa,

atenta ao vaivém das ondas

que, em espirais, rodopiam agitadas,

como numa dança, numa linguagem,

que desconheço,

sinto como que um convite a meditar,

nas minhas escolhas, nas minhas imperfeições.


No horizonte, o sol já há muito adormeceu.

Fico mais uns instantes,

até que um pássaro voa rasgando o céu nublado,

deixando-me só, a cismar.


Neste momento renuncio ao silêncio.

Apenas a voz do mar continua

entranhada em mim.


Texto e foto
Emília Simões
09.08.2025


sábado, agosto 02, 2025

Pobre mundo

Foto: Hosny Salah - Pixabay


Pobre mundo este em que habitamos
corroído pela avareza, pelas tribulações,
pelas vaidades, pelos excessos, 
pela corrupção.
As guerras, a fome, o abandono
de tantos à beira dos caminhos,
estendendo as mãos carentes de tudo.
Rostos dilacerados pela dor,
pela indiferença, pela miséria.
Impávidos e serenos, somos testemunhas
numa inação que fere a alma.
O que poderemos fazer para amenizar
tanta angústia, tantas doenças,
tanto desânimo?
Existirá um caminho, uma solução
para aliviar os seres humanos
destes tormentos?
Apesar de sermos minúsculos
no cosmos em que vivemos,
como uma gota de água no mar,
resta-nos servir de exemplo 
lutando com todas as nossas forças,
para que a claridade possa brilhar
na consciência e no coração
da humanidade.

Texto
Emília Simões
02.08.2025