sábado, dezembro 21, 2024

É Natal!...



Lá fora olhares e faces encovadas
deixam escorrer gotas de orvalho
geladas pela indiferença de quem passa.

As luzes, o alarido, a festa das compras
(de última hora, num corre-corre desenfreado).
A noite calada, fria, impiedosa
dos corações solitários, aproxima-se.

Uma mão estendida num olhar côncavo
(onde cabe toda uma vida apática de rastos)
perde-se sob a arcada recôndita e sórdida do cais.

Na fogueira que me arde no peito
um aperto sangra-me a razão.
É hora de acordar e abraçar o meu irmão.


Ao longe, uma luz brilha!
Na gruta fria, envolto em trapos
eclode o Amor,
que abarca (abraça)  todos.
Haja Paz em todos os corações.

Feliz Natal e um próspero Ano Novo.


Grata pelas vossas visitas ao longo do ano.


Texto
Emília Simões
20.12.2015
(Reedição)
Imagens Google

sábado, dezembro 14, 2024

É quase Natal, outra vez


O mundo roda vertiginosamente
e o Homem nem se apercebe 
que caminha ainda mais rápido,
no mundo da violência,
das guerras e injustiças.
Nada faz deter a ambição,
a ânsia pelo poder e
pela destruição.

É quase Natal, outra vez.
É tempo de parar para pensar.
Que quero neste Natal?

Ódios, mais violência
ou mais poder?
Presentes caros,
mesas fartas e desperdício?

Tantos, por vezes, bem perto
vivem na agonia,
no desespero, na solidão,
ao abandono, morrendo...

É tempo de dizer: BASTA!
Eu quero um Natal simples,
tranquilo, fraterno,
sem guerras, nem ódios.

É tempo de escutarmos 
a nossa voz interior,
que clama por justiça, solidariedade
e amor entre os homens.

Que finalmente possamos 
viver um Natal com PAZ!


Texto:
Emília Simões
Imagem Google
14.12.2014

sábado, dezembro 07, 2024

Nesta tarde fria, quase inverno


Nesta tarde fria, quase inverno,
recordo-te a costurares vestidos
quentinhos,
para as tuas três meninas,
para estrearmos no dia de Natal.

De manhã com os vestidos novos
íamos admirar as montras das lojas,
todas com presépios cheios de neve,
lagos, rios, pontes e pastores, 
que iam adorar o Menino Jesus!

Era um ritual que se repetia
em cada Natal.

Ah, já me esquecia,
Também estreávamos sapatos
e como nos sentíamos vaidosas.
Depois de visitarmos os presépios
íamos a correr para a Missa.

Na Igreja um grande presépio
mostrava uma Família feliz
rodeando o Menino, assim como
a vaca e o burro, que O aqueciam com o bafo.
Mais atrás, os Reis Magos, que haveriam de chegar.

Era um tempo de musgos, fetos, tudo muito verde.
E muito frio também, mas não faltava a lareira.
A vida era muito simples, mas os afetos
eram os nossos melhores presentes.

Ainda hoje me lembro tanto...

Todos partiram, mas deixaram em nós a essência
do verdadeiro Natal.

Texto
Emília Simões
07.12.2024
Imagem Google


sábado, novembro 30, 2024

Sentada na escarpa

 

Sentada na escarpa
escuto a voz do mar
que me fala de ventos, marés,
ondas e corais.
Na espuma que perscruto
no areal da praia
esculpem-se palavras
de esperança,
alegria e amor.
Um barco regressa.
Na praia
as mulheres erguem os braços
e cantam louvores.
A pesca é abundante
e os homens
chegam  sentados
no vento da bonança,
com os braços
erguidos, a sorrir,
deixando para trás
rastos de intempéries.

Texto
Emília Simões
30.11.2024
Imagem Google

sábado, novembro 23, 2024

Deixo que o silêncio



Deixo que o silêncio

abafe a minha voz.

Um pássaro esvoaça

sobre um barco

ancorado na praia.

O dia permanece claro.

O vento de outono assobia

sobre as folhas caídas.

No meio da calçada

uma flor renasce.

É a vida a renovar-se

em cada dia

no meu olhar,

na minha vida.


Texto e foto
Emília Simões
23.11.24


sábado, novembro 16, 2024

Partiste minha Mãe



Partiste minha Mãe

e não dissemos adeus.

Uma folha ao vento

levou-te para lá das nuvens

e o céu abriu-se para te receber.


O rio, lá em baixo, guarda

os ecos do meu sentir.

Dos meus olhos escorre o orvalho

que vai engrossando o caudal,

desse rio, que corre placidamente.


Da última vez que te vi, inerte,

parecias sorrir e, essa imagem, 

quero guardá-la em mim,

para sempre.


Já não te vou ver mais, Mãe.

Já não podemos trocar um beijo,

um abraço...

Mãe, partiste e deixaste

um vazio na minha vida.


Com as tuas memórias

reaprenderei a viver

na saudade da tua ausência.

Descansa em paz!

In Memoriam
minha Mãe
1931-2024

Texto e foto
Emília Simões
15.11.2024

sábado, novembro 02, 2024

Para encontrares o belo

freepik


Para encontrares o belo

terás que calcorrear vales

e montes,

atravessar silêncios

galgando rios

caminhos lamacentos

enfrentar feras

e talvez no fim do caminho

encontres o que procuras;

a luz refletida

em simples flores

no cimo duma montanha. 


Texto 
Emília Simões
02.11.2024

sábado, outubro 26, 2024

No silêncio do outono


No silêncio do outono
ouço o vento nas folhas
que caem impiedosamente
e a chuva que as embebe
deixando-as brilhantes
no chão escorregadio.

No silêncio do outono
revejo folhas antigas
que me trazem memórias
embutidas no meu ser.

No silêncio do outono
entro na tua casa
e as paredes brancas e frias 
falam-me de ti
a observar o rio lá em baixo,
que corre límpido como o teu olhar.

No silêncio do outono
recolho-me, não ouço a tua voz
e não tarda é inverno outra vez.

Texto
Emília Simões
26.10.2024
Imagem Pixabay

sábado, outubro 19, 2024

Ainda será tempo de salvar a Terra?



Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem não ambicionar tesouros

se o poder não for a sua sede

mas o amor a sua ambição.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se os vilões que fomentam a guerra

e fazem alastrar a fome e a morte

semearem campos de trigo

e plantarem sementes de paz.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o egoísmo der lugar ao desapego

e o Homem aprender a viver

com modéstia  e sentido de justiça.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem beber das águas das fontes

e ficar saciado com o ar puro, a beleza e a luz

que emanam deste ainda tão fascinante Planeta.


Ainda será tempo de salvar a Terra?


Texto
Emília Simões
19.10.2024
Imagem Net

sábado, outubro 12, 2024

As palavras

 


Hoje as palavras estão escondidas num ninho.

Levanto voo para alcançá-las, mas

a gravidade deita-me ao chão.

Ergo-me e tento trepar.

O tronco, escorregadio,

faz-me resvalar e cada vez mais

as palavras se afastam.

Chove e os pássaros, taciturnos,

não abandonam as crias.

As palavras estão cada vez mais longe.

Tento voar numa folha ao vento

para as agarrar mas, teimosas,

ignoram-me.

Esqueço-me, por instantes,

que ainda não é o tempo

propício das colheitas.


Texto e foto
Emília Simões
12.10.2024