domingo, janeiro 31, 2021

Há nos teus lábios um sopro sibilante



Há nos teus lábios um sopro sibilante
e nos dedos um toque de melodia
para sublimar a noite longa e pungente
quando o silêncio te segreda
ausências e provações
que o vento arrasta ao relento
no frio cortante da noite.

Entoa a canção e escuta
o deserto, como se fora
uma pauta de música
a anunciar-te um promissor
e inequívoco amanhecer.


Texto
Ailime
31.01.2021
Imagem Google

sábado, janeiro 23, 2021

Nem sempre o silêncio é lúcido

 



Nem sempre o silêncio é lúcido
quando na ausência das vozes
as palavras se calam.

o silêncio é a retração da voz
enleada em grãos de poeira
suspensas em nuvens de folhas.

por vezes é apenas mágoa, soterrada 
pelos pensamentos que se negam
a retratar-te na alma
os pudores que te recalcam.

o silêncio é o orgulho ferido
pelo preconceito do poema
quando renuncia às palavras.


Texto
Ailime
24.09.2020
Imagem Google
(Reedição)

sábado, janeiro 16, 2021

Poema de Graça Pires



Não tenho pressa.

Em nome do meu nome,
inscrevo nas paredes
os gestos indecisos,
as palavras sombrias,
os pressentimentos,
as lágrimas, as gargalhadas,
a mordedura do desalento
a marginar a boca.

Não basta o eco das lembranças
para disfarçar a solidão.

Nada ou quase nada se repete.
Houve pensamentos que magoaram,
incertezas e renúncias que sitiaram
as muralhas do tempo.

Conheço de cor todos os sons do silêncio.
Com eles me questiono e me respondo.


GRAÇA PIRES


In Jogo Sensual no Chão do Peito, pág 17
Labirinto 2020
Imagem Google


terça-feira, janeiro 05, 2021

Memória



Passamos à porta
por vezes nem vemos os degraus
A fechadura há muito
enferrujada
Traz à tona que a vida é
efémera
Por detrás da porta
O mundo sucumbiu ao tempo
O chão cedeu
As paredes ruíram
As janelas fecharam-se
Na velha lareira, apenas
cinzas
Ao fundo, no quintal, os lírios
roxos evocam a tua presença
Mais abaixo o rio segreda-nos
a tua memória.
Eterna...


Texto e foto
Ailime
05.01.2021