sábado, fevereiro 24, 2024

Palavras adormecidas


Palavras adormecidas

teimam em cingir-me a voz

que rouca, pelo frio do inverno,

se aninha no meu rosto gelado.

No firmamento aves esvoaçam

lado a lado com o vento

e, letras à solta, como folhas,

pousam no meu regaço

que as recolhe sofregamente.

No silêncio da tarde

talvez soletre um poema,

com as penas 

que os pássaros deixaram cair 

no ruído do seu voo.


Texto
Emília Simões
24.02.2024
Imagem Google

sábado, fevereiro 17, 2024

Nas intermitências do tempo



Nas intermitências do tempo
desbravo caminhos e, em silêncio,
colho alvoradas suspensas
nos sorrisos, com que te revelas,
em teus olhos brilhantes 
quando me fixas,
numa profusão de cores,
como se a primavera
envolvesse num abraço,
o tempo que resgatámos.
As manhãs são mais sadias,
as tardes, mais leves,
o teu amor mais firme.
Da escarpa, um pássaro voa
levando nas asas, para longe,
segredos que não deixaram rasto.

Para minha mãe

Texto 
Emília Simões
17.02.2024
Imagem Google



sábado, fevereiro 10, 2024

No silêncio das pedras



No silêncio das pedras
desponta uma flor
que me fala de primavera,
mas também de invernos
em que as nuvens choram
lágrimas de frio e geadas,
e orvalhos sobre
os meus pés cansados
e quase descalços,
a escorregar nas calçadas.
Por entre uma nesga de nuvens
alcanço um raio de sol
que me traz de volta à realidade.
A primavera não tardará
e os meus dedos, como aves feridas,
agarrarão as palavras
com sede do poema
que brota das minhas mãos,
quase em chamas.


Texto e foto
Emília Simões
10.02.2024

sábado, fevereiro 03, 2024

Resvalo por socalcos de montanhas



Resvalo por socalcos de montanhas
como ave em pleno voo
e procuro uma flor
uma palavra 
um gesto
um raio de sol
um enigma,
talvez um pedaço de tempo
que me fale de vida
e de auroras
e entardeceres
que me falem de amor
ou de silêncios
onde escute a tua voz.
Divago e paro num golpe de vento
que cinjo na minha cintura
como se fora um afago teu.
 
Texto 
Emília Simões
03.02.2024
Imagem Google