sábado, outubro 26, 2024

No silêncio do outono


No silêncio do outono
ouço o vento nas folhas
que caem impiedosamente
e a chuva que as embebe
deixando-as brilhantes
no chão escorregadio.

No silêncio do outono
revejo folhas antigas
que me trazem memórias
embutidas no meu ser.

No silêncio do outono
entro na tua casa
e as paredes brancas e frias 
falam-me de ti
a observar o rio lá em baixo,
que corre límpido como o teu olhar.

No silêncio do outono
recolho-me, não ouço a tua voz
e não tarda é inverno outra vez.

Texto
Emília Simões
26.10.2024
Imagem Pixabay

sábado, outubro 19, 2024

Ainda será tempo de salvar a Terra?



Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem não ambicionar tesouros

se o poder não for a sua sede

mas o amor a sua ambição.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se os vilões que fomentam a guerra

e fazem alastrar a fome e a morte

semearem campos de trigo

e plantarem sementes de paz.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o egoísmo der lugar ao desapego

e o Homem aprender a viver

com modéstia  e sentido de justiça.


Ainda será tempo de salvar a Terra

se o Homem beber das águas das fontes

e ficar saciado com o ar puro, a beleza e a luz

que emanam deste ainda tão fascinante Planeta.


Ainda será tempo de salvar a Terra?


Texto
Emília Simões
19.10.2024
Imagem Net

sábado, outubro 12, 2024

As palavras

 


Hoje as palavras estão escondidas num ninho.

Levanto voo para alcançá-las, mas

a gravidade deita-me ao chão.

Ergo-me e tento trepar.

O tronco, escorregadio,

faz-me resvalar e cada vez mais

as palavras se afastam.

Chove e os pássaros, taciturnos,

não abandonam as crias.

As palavras estão cada vez mais longe.

Tento voar numa folha ao vento

para as agarrar mas, teimosas,

ignoram-me.

Esqueço-me, por instantes,

que ainda não é o tempo

propício das colheitas.


Texto e foto
Emília Simões
12.10.2024

sábado, outubro 05, 2024

Passo à tua porta

 
José Malhoa


Passo à tua porta, subo o degrau;

a pedra desfaz-se sob os meus passos.

O tempo pesa sobre o meu corpo

tão distante da leveza dos gestos,

quando te procurava e me enlaçavas

nos teus braços tão fortes

que me faziam sentir muito amada.

O tempo tudo traz e tudo leva,

mas como as folhas  caídas

que atapetam o chão no outono,

na primavera brotam revigoradas

 e volto a sonhar outra vez

com a leveza e ternura dos gestos,

 gravados no meu viver,

Texto
Emília Simões
04.10.2024