Há uma leve neblina a envolver a manhã, convidativa a que
me adentre. Reparo num trilho que a claridade do sol antes não me deixara
perceber e que, como no deserto, atravessa as dunas que me conduzirá ao desconhecido.
Meio receosa afoito-me e avanço. Apesar das pegadas não enxergo vivalma.
Apenas pequenos arbustos e narcisos
da areia que vou fotografando num irresistível apelo, me fazem companhia
durante o trajecto. Discretamente olho de soslaio tentando ter a certeza de que
ninguém, naquele local ermo, me segue. Afinal o medo ainda não me abandonara.
Decidida continuo a caminhar e a fotografar o que me vai despertando mais atenção.
Um pouco mais adiante começo a sentir o cheiro da maresia que atravessa a névoa que, leve como uma cortina, ainda me envolve. Continuo na
minha passada que passou a ser mais firme e arrojada e ouço com nitidez o sussurro do mar que me transmite uma paz interior que não sei
definir. Neste momento os fantasmas que antes pareciam paralisar-me, dissipam-se.
Fico defronte do oceano fixando a linha do horizonte no
ponto em que o céu e o mar se unem numa simbiose perfeita. Aproximo-me de uma
falésia e lá em baixo observo, surpreendida, uma praia quase deserta onde as águas
ligeiramente ondulantes beijam os seixos que bordejam o contorno da grande
enseada.
Subo mais um pouco e finalmente desço até à beira mar.
Naquele pequeno paraíso, quase perdido, olho para o meu lado esquerdo como se
alguém me chamasse, mas apenas uma ligeira brisa ecoava o silêncio melódico do mar.
Texto e fotos
Ailime
Julho/2016