quinta-feira, novembro 21, 2013

A porta

Tela de José Malhoa

A porta azul entreabriu-se a soluçar
E da janela já não irrompe a luz
Que anunciava o nascer da aurora.

O relógio continua embutido
Na parede de cal branca
Com os ponteiros estáticos
Gélidos como o orvalho da madrugada.

Lá em baixo os lírios murcharam
E os muros esboçam o tempo
Em gestos rasgados de musgos.

No celeiro apenas sombras
Ecoam gritos de silêncios
Esmorecidos no eco dos escombros.

Lá fora os pássaros
Continuam em bandos
A sobrevoar o rio.

21.11.2013
Ailime
Imagen Google

sexta-feira, novembro 15, 2013

Nas margens do meu rio



Nas margens do meu rio
Por entre seixos e grama
Vou percorrendo o tempo
Com o olhar vão de esperança.
Neste entardecer constante
Nas margens do meu rio
Fico aprisionada na sombra
De um alvorecer distante.

Ailime
(07.02.2010)
(reposição)

terça-feira, novembro 05, 2013

Recordo-te


Tela de Daniel Ridgway

Recordo-te nos frutos maduros do outono
E nas manhãs orvalhadas pelo frio
Que antecipava o Natal

Mas era Novembro
E o rio lá em baixo
Acenava-te a vida
Iluminava-te o olhar

Não te vás embora
O rio ainda corre e chama por ti
Olha o sol a entrar pela janela
Olha a chama acesa na alma

O Natal não aconteceu
E o rio lá em baixo subiu

Subiu e desaguou em mim
O leito feito dor
Que ainda hoje goteja nas margens
O azul da saudade.

Era Novembro, era quase Natal.


Ailime
05.11.2013
Imagem Google