sábado, maio 25, 2024

Desassossegos



No meio dos canaviais avista-se o mar 
ali mesmo à beira da estrada.
Já lhe doem os pés, qual peregrino,
de tanto caminhar
e os olhos embaciam-se com a neblina. 
Por instantes deixa de enxergar.

Ouve as gaivotas que grasnam assustadas
prenunciando tempestade
naquele fim de tarde.

Fica em desassossego e 
e num reflexo rápido esfrega os olhos
e pode observar relâmpagos
que faíscam à sua frente.

Num casebre próximo recolhe-se
até a tempestade passar.
O cansaço é mais forte e adormece.
Quando acorda já é manhã.
No horizonte, nuvens brancas, sorriem-lhe
e retoma o seu destino.


Texto e foto
Emília Simões
25.05.2024




sábado, maio 18, 2024

Rasgo com o olhar


Rasgo com o olhar a claridade do dia,
que se faz palavra ao amanhecer
dentro dos versos tímidos,
que ouso rabiscar.
Um mar de emoções
invade-me nas lembranças
do mundo injusto e cruel
que me magoa 
e julgo-me ainda a sonhar.
As notícias correm breves
e não, não é um sonho.
Estou simplesmente a divagar
sobre um tempo em que a lucidez
não impera e o mundo
continua numa agonia lenta,
ignóbil que faz doer.
A palavra aperta-me a voz
e fere-me os dedos.
Poiso a caneta e
olho através da janela. 
Lá fora, o sol continua a brilhar!


Texto
Emília Simões
18.05.2024
Imagem Google

sábado, maio 11, 2024

No silêncio do quarto


No silêncio do quarto, ouço a manhã a cantar

nos pássaros a esvoaçar em redor dos ninhos,

nas flores a desabrochar e nas crianças a brincar

no pátio da antiga escola, onde joguei à cabra-cega.

O tempo adejou com o vento, deixando apenas rastos,

que hoje fazem a minha história parecer tão remota.

Nada está como dantes, muitas metamorfoses...

Até o rio corre aos soluços por entre os seixos

esculpindo nas margens ecos passados, de tão copioso.

Os campos devastados pelos incêndios não são os mesmos.

As casas são mais brancas, mas permanecem vazias.

Olho para trás e falta alma à minha aldeia.

A vida de outrora apagou-se e o sol já não tem brilho.


Texto e foto
Emília Simões
11.05.2024

sábado, maio 04, 2024

As flores ainda são tuas


Deixa-me oferecer-te uma flor
daquelas que estão vivas no quintal
e são tantas e tão belas
como as memórias que evocam
deixando-me um sorriso nos lábios.
As borboletas e os pardais
esvoaçam em redor
e, por momentos, regresso à infância
em que tudo era tão puro e pleno. 
À noite o céu estrelado brilhava
com estrelas tremeluzentes
que me fascinavam o olhar.
E as estrelas cadentes?
A Ursa maior, a Ursa Menor, o Órion,
a Cassiopeia, a Via Látea, a Lua Cheia,
tudo tão belo, mas tão longe, como a Estrela Polar!
Hoje, vegetando na cidade, 
apenas fumos tóxicos, o mundo agitado,
céu sem brilho.
Perdi-me no tempo, mas as flores ainda são tuas.


Texto e foto
Emília Simões

04.05.2024