«As palavras pesam. Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas» Graça Pires in Poemas escolhidos
sábado, julho 25, 2020
O medo
Quisera que o medo fosse uma névoa
uma simples palavra sem nexo,
a vaguear por vales profundos e longínquos
onde os pássaros não a alcançassem
nem os relâmpagos a faiscassem
nem os ecos a cativassem
como se fora um buraco negro
a doer-me dentro do peito.
quisera não entender o medo.
refugiar-me num barco verde
numa praia de águas límpidas
onde o sol brilha em cada pedrinha azul
que te devolve as insondáveis horas
em que te deténs sobre a escarpa alada
dum tempo fora de tempo.
em que as incertezas se tornam certezas
nas tuas mãos vazias de gestos
quando os teus olhos, côncavos,
se retraem no exílio.
Texto
Ailime
25.07.2020
Imagem Google
sábado, julho 18, 2020
A palavra tarda
A palavra tarda.
Ardem-te os lábios
gretados pela dureza do sal
as tuas mãos contorcem-se
em gestos invisíveis
o teu olhar perscruta o infinito
em súplica ardente.
A palavra tarda.
O amor percorre o fio
que te separa do voo
dos pássaros.
Texto e foto
Ailime
17.07.2020
terça-feira, julho 07, 2020
É no silêncio dos barcos
que adormeces os teus cabelos
como ondas que o vento espalha
nas escarpas das marés
Ainda é cedo para saboreares
os frutos maduros da colheita
que o mar te dá a beber
quando reluz o sol nascente
por entre os teus dedos sedentos
Na linha do horizonte
pássaros velozes em bandos
perseguem nuvens e sombras.
Texto
Ailime
07.07.2020
Imagem Google
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