sábado, abril 27, 2024

Silêncios



Em silêncio admira-se  a arte.
Em silêncio o coração fala.
Em silêncio percorrem-se desertos.
Em silêncio as flores brotam.
Em silêncio faz-se uma prece.
Em silêncio crescem trigais
e frutificam as vinhas.
Em silêncio o sol amanhece
e em silêncio esconde-se no ocaso.
Em silêncio escuto a tua voz
que me fala de amor.
No silêncio da noite pés descalços 
tateiam campos agrestes
e alguém chora
no meio dos destroços da guerra.
No silêncio do mundo
ninguém ouve as vozes que gritam
a fome e o desespero.
No silêncio cabem tantos silêncios
que te asfixiam a voz e o ser
e não te deixam ver a claridade dos dias. 

Texto
Emília Simões
27.04.2024
Imagem Google

sábado, abril 20, 2024

Memórias de Abril

Largo do do Carmo-Lisboa 25/4/74

Naquela manhã distante

os pássaros acordaram alvoroçados

e voavam e cantavam

como jamais os tinha ouvido.


Nas ruas, multidões e soldados

fundiam-se em esfuziante alegria.

Gritava-se  ___ Liberdade___

a uma só voz;

___ Fascismo nunca mais!


No coração da cidade, os cravos

a sorrir, nos canos das espingardas

substituíram as balas; a festa

foi linda e durou até às tantas.

...............

Plantemos em cada esquina

canteiros de solidariedade e paz;

que cada homem e cada mulher

propague o espírito de Abril.


Entoemos de novo as canções

e com cravos rubros a florir

na memória e coração do povo,

Abril será sempre Abril!


VIVA O 25 de ABRIL de 1974!


Texto 
Emília Simões
Abril de 2024
Imagens Net



sábado, abril 13, 2024

No silêncio do meu canto



No silêncio do meu canto 
idealizo dias claros e noites brancas.
Um candeeiro antigo
sem chama, permanece enegrecido
sobre a mesa, que se deixou abater
no quarto sem chão. 
A lua cheia penetra no velho quarto
exalando um clarão
que ilumina os tesouros antigos,
como uma arca de pinho,
com a velha coberta desfeita.
Em silêncio tudo perscruto.
A solidão e a noite de mãos dadas.
No silêncio do meu canto
o dia claro já não brilha,
a noite é como breu.
A lua perdeu-se no espaço.


Texto
Emília Simões
13.04.2024

Imagem FREEP!K


sábado, abril 06, 2024

Quem escreve, lê e ouve os poemas?



Quem escreve, lê e ouve os poemas?

O mundo anda muito distraído.

Os ruídos são ensurdecedores.

Mas o mar esboça na areia com a sua maresia

rendilhados de espuma branca.

As gaivotas leem nas migalhas, ao final da tarde,

o sabor do seu sustento.

Nas escarpas homens e mulheres sós

com o sal a escorrer pelas faces

estão atentos aos sons do mar,

sob o efeito das marés.

Talvez um poeta que tenha passado por ali

tentasse passar a sua mensagem

no purpúreo entardecer.

__Mas, ninguém o escutou__


Texto
Emília Simões
06.04.2024
Imagem Google