quinta-feira, abril 28, 2022

Percorro os campos em flor



Percorro os campos em flor
que me falam de primaveras
mas também de madrugadas
de tempos muito longínquos
que trago cingidos ao peito.

Inebriada por sentimentos e afetos,
nuvens brancas em céus azuis
debruavam o meu olhar
por entre as margens do rio
que sussurravam o meu sentir
no rumorejo das águas.

Hoje, apenas ecos, reproduzem
os sons de outrora, quando os pássaros
em voos alegres e maviosos
vêm pousar nas minhas mãos
o restolho da saudade.


Texto e foto
Ailime
27.04.2022

segunda-feira, abril 25, 2022

25 de Abri, sempre!

  


Nas calçadas ainda há vestígios
das flores rubras da manhã
que bebi como um néctar
quando a madrugada se soltou 

Pássaros esvoaçavam de galho em galho
e alertei-os da chegada da primavera.
Sorriram e voaram mais alto
a perpetrarem a canção
que as vozes ainda sustinham

Em bandos, todos os outros pássaros
entoavam já a melopeia
a incendiar a manhã
que eu percorria com pasmo



Texto
Ailime
Reedição
20.04.2020
Imagem Pinterest

quarta-feira, abril 20, 2022

Roubo à noite a Lua Cheia



Roubo à noite a Lua Cheia
guardo-a num quarto pintado de azul
e dependuro-a no teto qual
candelabro a iluminar as sombras
suspensas do telhado da casa.

Outrora o luar, liberto,  acendia
todos os recantos por mais escuros
e sombrios
como faróis no mar alto
em noite de tempestade.

Talvez a escuridão seja passageira
e as sombras se dissipem
em sonhos inacabados
transformados em teias de luz
a escorrerem-me  pelos dedos das mãos.


Texto e foto
Ailime
19.04.2022

sexta-feira, abril 15, 2022

No meu silêncio


No meu silêncio ensimesmei-me.
Angústias me trespassaram
como relâmpagos a faiscarem
que me atravessaram o corpo
em tempestade convulsiva
e chorei.
A tua ausência,
a tua traição.
Subi ao cume do monte.
Como ladrão fui esconjurado,
maltratado
e açoitado.
Crucificado.
O templo rasgou-se ao meio,
o sol eclipsou-se
e expirei.
Tudo foi consumado.

Santa e abençoada Pascoa.

Texto
Ailime
Imagem Google
13.04.2022

segunda-feira, abril 11, 2022

Para colher um nenúfar

Claude Monet
 


Descia os degraus que
me levavam ao rio
onde cresciam nenúfares
num lago que improvisei.
Apenas o marulho das águas
me impedia de caminhar nas margens
ora pintadas de azul, 
ora pintadas de verde.
O sol debruçava-se sobre as águas
e a claridade iluminava-me como fogo,
como se ateasse uma fogueira.
O céu matizado de nuvens, tingidas de púrpura,
era o espaço dileto dos pássaros
que, em voos rasantes, anunciavam o entardecer.
O sol ia baixando no horizonte
até que o esplendor da noite
fulgisse na linha do infinito.
Descalça, sobre os seixos, contornava o lago
estendendo as mãos, incólumes, 
para colher um nenúfar.

Texto
Ailime
04.04.2022

 

segunda-feira, abril 04, 2022

Os teus gestos



O estio adentrava-se-te no ventre
e o teu rosto sorria.
Não que os teus olhos o revelassem;
mas as tuas mãos tremiam e acariciavam
inconscientemente
o fruto que acabaria por brotar em breve,
nesse desatino que sempre te acompanhava.
As cigarras entoavam um crepúsculo
e os teus lábios permaneciam cerrados
num secretismo de dúvidas,
líquidas do silêncio que albergavas
nos gestos inconscientes
que pairavam sobre as águas
e se entranhavam nas pedras.
Nunca entendi o movimento das águas
nem o balouçar do vento
a raiar a linha de fogo
que delineava os teus gestos.



Texto
Ailime
(Reedição revista)
10.08.2020
Imagem Google