sábado, junho 24, 2023

Não sabia os caminhos de cor

Luiz Mendes


Traçou com uma lufada de vento

o caminho que perseguia

e nem as flores nem as árvores

lhe disseram qual o destino

que havia de percorrer.


Sentia-se perdida, ao abandono,

como criança inocente

que, por momentos, larga a mão de seu pai

e cai desamparada no chão.


Não sabia os caminhos de cor

tão longa a distância a alcançar

movia-a apenas o sentido do sol

a acender-lhe no peito

a chama brilhante do dia

até confundir-se com ele.



Texto
Ailime
24.06.2023


sexta-feira, junho 16, 2023

Os naufrágios

Ivan Aivazovsky


Desço a rua, descalça, e os meus pés queimam.

Acompanha-me o silêncio e vêm-me à memória

os naufrágios.

Quantos serão os náufragos, os sem-abrigo,

os desalojados deste pobre e triste mundo

que os ditadores comandam na insensibilidade

do coração que não têm?

Debruçada na tarde quente e com os pés a escaldar

eu própria me sinto a naufragar num mundo que não sonhei

e onde apenas ouço o silvo sombrio do desespero,

que vai arrastando as dores pelas estradas de ninguém.

Quem ouve as vozes dos ruídos, dos sonhos quebrados

pela insanidade dos homens?


Texto
Ailime
16.06.2023

segunda-feira, junho 12, 2023

Eterno desejo de amar

Esta a minha participação respondendo ao amável convite de Rosélia, no seu Blogue Escritos da Alma,
para escrever um poema subordinado ao tema Amor, para celebrar o dia dos Namorados no Brasil.

Caminhando pela praia deixo-me seduzir pelo vento

e aspiro a brisa do mar que me fala de ti.

Pressinto-te ao longe junto à escarpa

e vou no teu encalce como se foras um príncipe,

que mora em meu coração desde sempre.

Anseio pelo reencontro.

Há tanto tempo que não te vislumbro,

mas sei que me esperas com o mesmo anseio

com que outrora me abraçavas e beijavas.

Hoje não vai ser diferente e o nosso abraço

prolongar-se-á no tempo, num eterno desejo de amar.


Texto
Ailime
09.06.2023



sábado, junho 03, 2023

Há ainda o cordão umbilical

(Desconheço o autor da tela)

Há ainda o cordão umbilical

que nos une no tempo

e nos ajuda a sorrir e a contar histórias.


Por vezes tudo me parece tão estranho.

O tempo andou depressa demais

e o rio já não tem o brilho

das primaveras longínquas.


As lezírias brilhavam ao sol

e os barcos carregados de peixe,

eram leves como o amor,

que alimentava o suor das gentes.


Hoje há o vazio dos que se foram

e as recordações que restam

no silêncio dos ecos

das palavras adormecidas.



Texto
 Ailime
03.06.2023
Imagem Google