sábado, abril 29, 2023

As casas



Nem sempre as casas têm claridade.

As heras e os musgos retiraram-lhes

o brilho da genuinidade

e fazem-nas mergulhar na escuridão

que o tempo há muito traçou.

Através das portas e janelas,

em escombros,

não ouço o crepitar do lume,

nem sinto o aroma das flores, 

agora murchas sobre a mesa

da sala de entrada.

Desço e subo degraus,

mas o  meu olhar nada vislumbra

e no meio das sombras,

de ontem,

apenas o vazio me fala de vida.

 

Texto 
Ailime
28.04.2023
Imagem Google

segunda-feira, abril 24, 2023

25 de Abril, sempre!

   


Nas calçadas ainda há vestígios
das flores rubras da manhã
que bebi como um néctar
quando a madrugada se soltou 

Pássaros esvoaçavam de galho em galho
e alertei-os da chegada da primavera.
Sorriram e voaram mais alto
a perpetrarem a canção
que as vozes ainda sustinham

Em bandos, todos os outros pássaros
entoavam já a melopeia
a incendiar a manhã
que eu percorria com pasmo.


Ailime
(Reedição)
Imagem Pinterest

sábado, abril 22, 2023

Ainda há flores a irromper nos caminhos



Ainda há flores a irromper nos caminhos,

na primavera que sempre regressa

aos lugares exatos

onde se faz esperar,

ainda que as intempéries

interrompam, por instantes,

o seu resplendor.

O que aspiro nesse trajeto

é que mesmo as flores selvagens

não se esqueçam de refulgir,

ao sol, do meu jardim.


Texto e foto
Ailime
22.04.2023


sábado, abril 15, 2023

Margaridas amarelas



Na encosta as margaridas amarelas ainda me sorriem;

como são belas no seu esvoaçar 

como as tranças despenteadas da minha infância

que resplandeciam ao encanto dourado do sol .

Atravesso a distância no tempo

e as flores ainda permanecem intactas

como se esperassem por mim,

depois de tantas primaveras.

Observo-as com a mesma atenção

como se fossem joias raras

e a minha alegria fala com elas.

Elas não me respondem

mas eu entendo-as nos seus gestos

quando rodopiam ao vento, 

num bailado leve e tão próximo.


Texto e foto
Ailime
15.04.2023


sábado, abril 08, 2023

Os teus gestos



O estio adentrava-se-te no ventre
e o teu rosto sorria.
Não que os teus olhos o revelassem;
mas as tuas mãos tremiam e acariciavam
inconscientemente
o fruto que acabaria por brotar em breve,
nesse desatino que sempre te acompanhava.
As cigarras entoavam um crepúsculo
e os teus lábios permaneciam cerrados
num secretismo de dúvidas,
líquidas do silêncio que albergavas
nos gestos inconscientes
que pairavam sobre as águas
e se entranhavam nas pedras.
Nunca entendi o movimento das águas
nem o balouçar do vento
a raiar a linha de fogo
que delineava os teus gestos.


Texto e foto
Ailime
(Reedição)

Desejo a todas as  amigas e amigos e suas famílias uma feliz e abençoada Páscoa!

sábado, abril 01, 2023

Metamorfoses


Silvana Oliveira


Há um aroma nas pedras que não sei explicar.

Alinham-se à beira-mar, 

nos caminhos, 

nas estradas cheias de  pó

e também sobre os muros; 

estas são as que estão mais desalinhadas

dentro do seu alinhamento.

Tal como as palavras

dentro do poema

que nem sempre rimam 

com a palavra poesia.

Deixo-as para trás

e procuro uma luz nas sombras

que me ajude a entender

as metamorfoses que não param

de me desassossegar.


Texto
Alime
01.04.2023