«As palavras pesam. Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas» Graça Pires in Poemas escolhidos
sábado, dezembro 21, 2024
É Natal!...
sábado, dezembro 14, 2024
É quase Natal, outra vez
sábado, dezembro 07, 2024
Nesta tarde fria, quase inverno
recordo-te a costurares vestidos
quentinhos,
para as tuas três meninas,
para estrearmos no dia de Natal.
De manhã com os vestidos novos
íamos admirar as montras das lojas,
todas com presépios cheios de neve,
lagos, rios, pontes e pastores,
que iam adorar o Menino Jesus!
Era um ritual que se repetia
em cada Natal.
Ah, já me esquecia,
Também estreávamos sapatos
e como nos sentíamos vaidosas.
Depois de visitarmos os presépios
íamos a correr para a Missa.
Na Igreja um grande presépio
mostrava uma Família feliz
rodeando o Menino, assim como
a vaca e o burro, que O aqueciam com o bafo.
Mais atrás, os Reis Magos, que haveriam de chegar.
Era um tempo de musgos, fetos, tudo muito verde.
A vida era muito simples, mas os afetos
Ainda hoje me lembro tanto...
Todos partiram, mas deixaram em nós a essência
do verdadeiro Natal.
Texto
Emília Simões
07.12.2024
sábado, novembro 30, 2024
Sentada na escarpa
TextoEmília Simões30.11.2024Imagem Google
sábado, novembro 23, 2024
Deixo que o silêncio
Deixo que o silêncio
abafe a minha voz.
Um pássaro esvoaça
sobre um barco
ancorado na praia.
O dia permanece claro.
O vento de outono assobia
sobre as folhas caídas.
No meio da calçada
uma flor renasce.
É a vida a renovar-se
em cada dia
no meu olhar,
na minha vida.
Emília Simões
23.11.24
sábado, novembro 16, 2024
Partiste minha Mãe
Partiste minha Mãe
e não dissemos adeus.
Uma folha ao vento
levou-te para lá das nuvens
e o céu abriu-se para te receber.
O rio, lá em baixo, guarda
os ecos do meu sentir.
Dos meus olhos escorre o orvalho
que vai engrossando o caudal,
desse rio, que corre placidamente.
Da última vez que te vi, inerte,
parecias sorrir e, essa imagem,
quero guardá-la em mim,
para sempre.
Já não te vou ver mais, Mãe.
Já não podemos trocar um beijo,
um abraço...
Mãe, partiste e deixaste
um vazio na minha vida.
Com as tuas memórias
reaprenderei a viver
na saudade da tua ausência.
Descansa em paz!
minha Mãe
1931-2024
sábado, novembro 02, 2024
Para encontrares o belo
Para encontrares o belo
terás que calcorrear vales
e montes,
atravessar silêncios
galgando rios
caminhos lamacentos
enfrentar feras
e talvez no fim do caminho
encontres o que procuras;
a luz refletida
em simples flores
no cimo duma montanha.
Emília Simões
02.11.2024
sábado, outubro 26, 2024
No silêncio do outono
ouço o vento nas folhas
que caem impiedosamente
e a chuva que as embebe
deixando-as brilhantes
no chão escorregadio.
No silêncio do outono
revejo folhas antigas
que me trazem memórias
embutidas no meu ser.
No silêncio do outono
entro na tua casa
e as paredes brancas e frias
falam-me de ti
a observar o rio lá em baixo,
que corre límpido como o teu olhar.
No silêncio do outono
recolho-me, não ouço a tua voz
e não tarda é inverno outra vez.
Texto
Emília Simões
26.10.2024
sábado, outubro 19, 2024
Ainda será tempo de salvar a Terra?
Ainda será tempo de salvar a Terra
se o Homem não ambicionar tesouros
se o poder não for a sua sede
mas o amor a sua ambição.
Ainda será tempo de salvar a Terra
se os vilões que fomentam a guerra
e fazem alastrar a fome e a morte
semearem campos de trigo
e plantarem sementes de paz.
Ainda será tempo de salvar a Terra
se o egoísmo der lugar ao desapego
e o Homem aprender a viver
com modéstia e sentido de justiça.
Ainda será tempo de salvar a Terra
se o Homem beber das águas das fontes
e ficar saciado com o ar puro, a beleza e a luz
que emanam deste ainda tão fascinante Planeta.
Ainda será tempo de salvar a Terra?
Emília Simões
Imagem Net
sábado, outubro 12, 2024
As palavras
Levanto voo para alcançá-las, mas
a gravidade deita-me ao chão.
Ergo-me e tento trepar.
O tronco, escorregadio,
faz-me resvalar e cada vez mais
as palavras se afastam.
Chove e os pássaros, taciturnos,
não abandonam as crias.
As palavras estão cada vez mais longe.
Tento voar numa folha ao vento
para as agarrar mas, teimosas,
ignoram-me.
Esqueço-me, por instantes,
que ainda não é o tempo
propício das colheitas.
Emília Simões
12.10.2024
sábado, outubro 05, 2024
Passo à tua porta
a pedra desfaz-se sob os meus passos.
O tempo pesa sobre o meu corpo
tão distante da leveza dos gestos,
quando te procurava e me enlaçavas
nos teus braços tão fortes
que me faziam sentir muito amada.
O tempo tudo traz e tudo leva,
mas como as folhas caídas
que atapetam o chão no outono,
na primavera brotam revigoradas
e volto a sonhar outra vez
com a leveza e ternura dos gestos,
gravados no meu viver,
Emília Simões
04.10.2024
sábado, setembro 28, 2024
No fundo dos meus olhos
Misturam-se num terno olhar que
os eleva num doce e húmido sentir.
Quando os olhos se encontram
tudo paira para além dos sentidos,
mergulhando-os ternamente,
como nenúfares, num lago azul,
onde o céu reflete a claridade das nuvens.
O sol brilha e entoa
numa suave e refrescante aragem,
uma breve e anunciada sonata de outono.
Emília Simões
11.09.2024
sábado, setembro 21, 2024
O outono que se apressa
anunciam o outono, que se apressa.
O vento assobia e as folhas, em desalinho,
dançam num vaivém frenético a melodia
do verão, que se despede.
O seu olhar segue o movimento das folhas
e o dourado da tarde ofusca-lhe os sentidos,
sábado, agosto 24, 2024
Vida e poesia
A origem da vida
os frutos maduros
sábado, agosto 17, 2024
Tão longe as manhãs
Tão longe as manhãs, na casa, onde às vezes regresso.
Tudo parece estar no mesmo sítio.
O rio corre sereno lá em baixo,
mas não me deixa ver as margens
onde outrora os seixos brilhavam ao sol
e eu saltitava em redor do moinho.
Tudo tinha maior amplitude.
A lezíria era uma sinfonia de cores;
as águas eram mais verdes e as nuvens mais azuis.
Os pássaros cantavam mais alto.
Os teus pés pisavam o chão com leveza.
No resplendor da manhã, cada vez mais longe,
debruço o meu olhar e cismo.
12.10.2021
sábado, agosto 10, 2024
O resgate das palavras
escasseiam, à espera de resposta.
Reinvento-me numa nesga de verde,
que observo da minha janela.
Os pássaros refugiam-se numa espécie
de recolhimento
e, por instantes, emudecem.
Fico a olhar pela janela que regressem,
mas lá fora o sol escalda,
___ o verde persevera.
Talvez logo mais ao sol-pôr
eles voltem e me visitem
no parapeito da janela,
e me ajudem a resgatar as palavras.
Emília Simões
sábado, agosto 03, 2024
Memórias
o tempo dos frutos maduros;
das amoras silvestres,
das ameixas amarelas
ao fundo da horta,
das melancias e melões,
dos tomates e feijão verde
que eram o orgulho
do suor, que te sulcava o rosto.
As uvas douradas com sabor a mel;
as abelhas bebiam-lhe o néctar.
Na horta, ao lado do poço,
o jardim das zínias e das sécias
faziam da horta um local encantado.
À tarde pela fresquinha,
como eram saborosas as merendas
com os frutos refrescados
com a água do poço.
Tudo era puro e belo.
O ar que respirávamos, a água que
nos mitigava a sede;
o gorjeio dos pássaros, os zumbidos dos insetos,
numa sinfonia perfeita.
O nosso mundo era outro.
Lugar de sons, aromas e sabores,
que nos oferecias com amor.
Emília Simões
Imagem
sábado, julho 27, 2024
Nos descampados da vida
Nos descampados da vida
entre orvalhos sobre as pedras
e a terra sôfrega,
imagino o tamanho do mundo.
Saltito de pedra em pedra
e os meus olhos semiabertos
tentam enxergar o longe e o perto.
Tudo me parece distante e confuso.
Um pássaro no seu voo matinal
anuncia-me o conforto do ninho.
Ainda é cedo para que a luz
me revele, nas sombras, a tua grandeza.
Emília Simões
27.07.2024
sábado, julho 20, 2024
No meu silêncio
Debruçada na tarde
do meu silêncio
escuto a minha voz interior
que me fala de amor
de paz
de justiça
de um mundo melhor.
Mas desperto
e à minha volta
ouço a voz do mundo
que me fala de guerra
de inequidade
de desatino
de ódio.
Dos meus olhos
deslizam
gotas de orvalho.
que me rasgam a pele.
e ouço a tua voz
que me fala de
claridade e esperança.
sábado, julho 13, 2024
Oh mar enigmático
sábado, julho 06, 2024
No desalinho do tempo
e guardo as folhas ressequidas nos
nos meus olhos cor de outono
como se um raio de sol refulgisse
timidamente, nas minhas mãos,
os sinais do tempo,
que corre veloz.
Tento cingi-los para que retardem
as mudanças de estação
onde me perco nas emoções
do entardecer,
quando ouço a tua voz
que diz o meu nome,
como se fosse ontem.
Emília Simões
06.07.2024
sábado, junho 29, 2024
Tarde de verão
Sentada na escarpa observa o mar
que, num doce vaivém, beija as areias da praia.
Forte neblina envolve todo o cenário
duma estranha tarde de verão.
Os barcos já há muito que partiram
deixando os rastos no horizonte.
Iam cheios de ilusões e esperanças,
mas o mar anda sufocado
por detritos incontroláveis,
que estonteiam a vida marinha.
Regressarão mais cedo,
vazios os sonhos dos pescadores
que desesperam.
Olha em seu redor.
A praia está deserta.
Chove, no mar das ilusões
e as gaivotas partem em debandada.
Emília Simões
29.06.2024
sábado, junho 22, 2024
Estão sentados
sábado, junho 15, 2024
Quando passo à tua rua
José Malhoa
Quando passo à tua rua
escuto sempre a voz do rio
que, nas suas margens azuis,
me fala de ti,
como se ainda permanecesses
sentado na soleira da porta
a desenhar arabescos
no teu livro sem páginas.
Um rio e um livro
que me falam de lembranças
como se o hoje fosse ontem
e o ontem fosse hoje.
Na ausência de palavras
ficam nas entrelinhas
os registos dos afetos
nos resquícios das memórias.
Emília Simões
15.06.2024
sábado, junho 08, 2024
Era pungente o seu viver
Era pungente o seu viver.
Penalizava-se por atos irrefletidos.
Chegava a cravar as unhas nas
palmas das mãos
para se distrair desses atos
que ainda a combaliam.
Não dava mostras de remorsos,
mas fora dura consigo mesma
e não se perdoava
martirizando-se descalça
sobre espinhos que lhe feriam a alma.
O suor a escorrer sangue,
os lábios cerrados cobertos de sal,
não lhe davam a paz
que o seu coração ansiava.
Na correnteza do rio
muitas lágrimas caídas
misturavam-se com os peixes.
Ainda hoje se julga amarrada
à pedra onde esculpia a sua dor.
(Ensaio sobre ficção)
Emília Simões
08.06.2024
sábado, junho 01, 2024
No silêncio das palavras
enxergo com assombro
os dias em que o sol, brilhante,
torna os dias mais alegres
e as aves cantam e saltitam
nas flores em cada manhã.
Nos rastos dos jardins
procuro as tuas pegadas
quando, na sombra das árvores,
lias no meu olhar
a sede do teu amor.
Na natureza em festa
por instantes não há guerras.
Há uma grande paz e suavidade
que, embora céleres,
me fazem sonhar e acreditar
numa nova humanidade.
sábado, maio 25, 2024
Desassossegos
ali mesmo à beira da estrada.
Já lhe doem os pés, qual peregrino,
e os olhos embaciam-se com a neblina.
Por instantes deixa de enxergar.
Ouve as gaivotas que grasnam assustadas
prenunciando tempestade
naquele fim de tarde.
Fica em desassossego e
e num reflexo rápido esfrega os olhos
e pode observar relâmpagos
que faíscam à sua frente.
Num casebre próximo recolhe-se
até a tempestade passar.
O cansaço é mais forte e adormece.
Quando acorda já é manhã.
No horizonte, nuvens brancas, sorriem-lhe
25.05.2024
sábado, maio 18, 2024
Rasgo com o olhar
que se faz palavra ao amanhecer
dentro dos versos tímidos,
que ouso rabiscar.
Um mar de emoções
invade-me nas lembranças
do mundo injusto e cruel
que me magoa
e julgo-me ainda a sonhar.
As notícias correm breves
e não, não é um sonho.
Estou simplesmente a divagar
sobre um tempo em que a lucidez
não impera e o mundo
continua numa agonia lenta,
ignóbil que faz doer.
A palavra aperta-me a voz
e fere-me os dedos.
Poiso a caneta e
olho através da janela.
Lá fora, o sol continua a brilhar!
Emília Simões
18.05.2024
Imagem Google
sábado, maio 11, 2024
No silêncio do quarto
No silêncio do quarto, ouço a manhã a cantar
nos pássaros a esvoaçar em redor dos ninhos,
nas flores a desabrochar e nas crianças a brincar
no pátio da antiga escola, onde joguei à cabra-cega.
O tempo adejou com o vento, deixando apenas rastos,
que hoje fazem a minha história parecer tão remota.
Nada está como dantes, muitas metamorfoses...
Até o rio corre aos soluços por entre os seixos
esculpindo nas margens ecos passados, de tão copioso.
Os campos devastados pelos incêndios não são os mesmos.
As casas são mais brancas, mas permanecem vazias.
Olho para trás e falta alma à minha aldeia.
A vida de outrora apagou-se e o sol já não tem brilho.
Emília Simões
11.05.2024
sábado, maio 04, 2024
As flores ainda são tuas
daquelas que estão vivas no quintal
e são tantas e tão belas
como as memórias que evocam
deixando-me um sorriso nos lábios.
As borboletas e os pardais
esvoaçam em redor
e, por momentos, regresso à infância
em que tudo era tão puro e pleno.
À noite o céu estrelado brilhava
com estrelas tremeluzentes
que me fascinavam o olhar.
E as estrelas cadentes?
A Ursa maior, a Ursa Menor, o Órion,
a Cassiopeia, a Via Látea, a Lua Cheia,
tudo tão belo, mas tão longe, como a Estrela Polar!
Hoje, vegetando na cidade,
apenas fumos tóxicos, o mundo agitado,
céu sem brilho.
Perdi-me no tempo, mas as flores ainda são tuas.
Emília Simões
04.05.2024
sábado, abril 27, 2024
Silêncios
Em silêncio o coração fala.
Em silêncio percorrem-se desertos.
Em silêncio as flores brotam.
Em silêncio faz-se uma prece.
Em silêncio crescem trigais
e frutificam as vinhas.
Em silêncio o sol amanhece
e em silêncio esconde-se no ocaso.
Em silêncio escuto a tua voz
que me fala de amor.
No silêncio da noite pés descalços
tateiam campos agrestes
e alguém chora
no meio dos destroços da guerra.
No silêncio do mundo
ninguém ouve as vozes que gritam
a fome e o desespero.
No silêncio cabem tantos silêncios
que te asfixiam a voz e o ser
sábado, abril 20, 2024
Memórias de Abril
Naquela manhã distante
os pássaros acordaram alvoroçados
e voavam e cantavam
como jamais os tinha ouvido.
Nas ruas, multidões e soldados
fundiam-se em esfuziante alegria.
Gritava-se ___ Liberdade___
a uma só voz;
___ Fascismo nunca mais!
No coração da cidade, os cravos
a sorrir, nos canos das espingardas
substituíram as balas; a festa
foi linda e durou até às tantas.
...............
Plantemos em cada esquina
canteiros de solidariedade e paz;
que cada homem e cada mulher
propague o espírito de Abril.
Entoemos de novo as canções
e com cravos rubros a florir
na memória e coração do povo,
Abril será sempre Abril!
Emília Simões
Abril de 2024
sábado, abril 13, 2024
No silêncio do meu canto
idealizo dias claros e noites brancas.
Um candeeiro antigo
sem chama, permanece enegrecido
sobre a mesa, que se deixou abater
no quarto sem chão.
A lua cheia penetra no velho quarto
exalando um clarão
que ilumina os tesouros antigos,
como uma arca de pinho,
com a velha coberta desfeita.
Em silêncio tudo perscruto.
A solidão e a noite de mãos dadas.
No silêncio do meu canto
o dia claro já não brilha,
a noite é como breu.
A lua perdeu-se no espaço.
Emília Simões
13.04.2024
Imagem FREEP!K
sábado, abril 06, 2024
Quem escreve, lê e ouve os poemas?
Quem escreve, lê e ouve os poemas?
O mundo anda muito distraído.
Os ruídos são ensurdecedores.
Mas o mar esboça na areia com a sua maresia
rendilhados de espuma branca.
As gaivotas leem nas migalhas, ao final da tarde,
o sabor do seu sustento.
Nas escarpas homens e mulheres sós
com o sal a escorrer pelas faces
estão atentos aos sons do mar,
sob o efeito das marés.
Talvez um poeta que tenha passado por ali
tentasse passar a sua mensagem
no purpúreo entardecer.
__Mas, ninguém o escutou__
Emília Simões
Imagem Google
sábado, março 30, 2024
O pasmo diante da candura das pétalas
O inseto suga-te o néctar.
Debaixo das asas, o chão
que os meus pés pisam
vagarosamente.
Naquela folha o desdém
de quem não entende
o respirar dos pássaros
na construção dos ninhos.
Subo a escarpa e observo o horizonte.
Uma nuvem esconde o sol
e o dilúvio, de novo,
tomba sobre as folhas.
A luz reacende o entardecer
com a rapidez dum relâmpago.
Emília Simões
30.03.2024
segunda-feira, março 25, 2024
Um Mês Pelo Dia Mundial da Poesia (4ª semana)
guardo-te como um tesouro
embutido no mais profundo de mim.
Respiro as flores com que enfeitavas
os meus cabelos.
___Ainda hoje lhes sinto os aromas ___
Foram cativantes as primaveras de então,
que me acenavam como sóis a bailar
nas intermitências do tempo a florir.
Os pássaros voavam em nosso redor
entoando melodias maviosas,
como sinfonias perpetradas por
orquestras, com aroma de jasmim.
A natureza sempre em festa sorria-me
e eu fazia raminhos de flores minúsculas
que te oferecia quando, embora cansada,
me embalavas nos braços
como se fosse o teu mundo.
Recolhíamos ao ninho onde, qual casulo,
retemperavas as forças para uma nova jornada
nas searas onduladas pelo vento,
onde o trigo germinava a flor da farinha
que se transformaria no pão que nos saciava.
Hoje compreendo a grandiosidade e
beleza dos dias de então,
agora que sozinha caminho
pelas ruas descoloridas
da cidade vazia.
segunda-feira, março 18, 2024
Travessia Visionária (Um Mês Pelo Dia Mundial da Poesia)
tendo como farol a luz do luar.
No silêncio e solidão da noite,
as minhas emoções retraem-se
sempre que o passado vem à tona.
Remo em sentido contrário
com a tua imagem gravada no peito.
Os meus pensamentos perturbam-se,
a minha voz prende-se no vazio.
Quero que voltes, mas não digas nada.
Volta, simplesmente, e sorri.
E entoa baixinho aquela sonata
que um dia compusemos os dois.
Emília Simões
18.03.2024
sábado, março 09, 2024
Em silêncio percorro o deserto
das ruas sinuosas, onde tantas vezes
a solidão é companheira
das almas sedentas de amor.
Tropeço numa pedra.
Caio, levanto-me e no vazio de mim
o silêncio é cada vez maior.
Como um mendigo
não desisto do caminho.
Impele-me o vento e a fome
como se pretendesse
agarrar o universo
com as minhas mãos esquálidas,
pela míngua e pelo frio.
Falo com a noite e descortino
uma luz, numa nesga de tempo,
e acelero o passo.
Emília Simões
09.03.2024