domingo, dezembro 29, 2013

No tempo que passa


No tempo que passa, veloz
Por entre as espigas maduras
Do trigo a dançar ao sol
Da vida, quantas vezes noite

Mas também sorrisos
Nas manhãs de Maio,
Em auroras translúcidas
Na plácida corrente do rio
De azul intenso repleto;

Que separa as margens
Que avisto da janela
Daqui, e além Tejo,

Onde a lezíria vestida de verde
Continua a afagar
A suave fragrância das manhãs,
Que se desprende das margens

A subir no éter, a evocar
O tempo que passa, veloz
Nas primícias de mim, aqui.

Desejo a todos um Ano Novo Feliz!
Muito obrigada pelo carinho
e amizade ao longo de 2013.
Abraços. Ailime

Texto (2011)
e foto
Ailime

domingo, dezembro 22, 2013

Natal à Beira-Rio

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me a água da infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado...

Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, do Mar, ou de Poesia?

David Mourão Ferreira





Bom Natal para todos. Muito obrigada pelas vossas
visitas e ou/ comentários ao longo de 2013.
Ailime

domingo, dezembro 15, 2013

Leva-te o vento para outras pátrias


Tela de Netuno Artes
Leva-te o vento para outras pátrias
Como outrora caravelas à descoberta
Mares revoltos e avassaladores
E o Adamastor aqui tão perto.

O vento assobia o desassossego
Que se instala nas praias lusitanas
E o naufrágio eminente ao largo
Profetiza o êxodo das gaivotas.

Com a espuma do mar construo navios
Em areais repletos de medusas
Enroladas em sargaços de lonjura.

No silêncio, o sal rasga-me o olhar.

 Ailime
15.12.2013
Imagem Google

terça-feira, dezembro 03, 2013

Voos


Traço com nuvens pedaços de céu
Em auroras rasgadas por ventos
Que em desnorte empurram os pássaros
Para além do incompreensível.

Nas portas escancaradas
Há muito que o sol se refugiou
Nos umbrais do desassossego.

Nos lodos pardacentos dos rios
Lastram sonhos aniquilados
Como barcos em desalinho
Por lemes corrompidos.

E voos rasantes de prantos
Arrastam as asas feridas
Na incerteza das sombras.

Texto e foto
Ailime
03.12.2013