sábado, outubro 12, 2024

As palavras

 


Hoje as palavras estão escondidas num ninho.

Levanto voo para alcançá-las, mas

a gravidade deita-me ao chão.

Ergo-me e tento trepar.

O tronco, escorregadio,

faz-me resvalar e cada vez mais

as palavras se afastam.

Chove e os pássaros, taciturnos,

não abandonam as crias.

As palavras estão cada vez mais longe.

Tento voar numa folha ao vento

para as agarrar mas, teimosas,

ignoram-me.

Esqueço-me, por instantes,

que ainda não é o tempo

propício das colheitas.


Texto e foto
Emília Simões
12.10.2024

5 comentários:

  1. Colher palavras que não se deixam apanhar é próprio
    da inspiração das poetas. E aqui se vê esse seu talento,
    amiga Emília. Fez um poema belíssimo.
    Bom fim de semana.
    Beijinhos
    Olinda

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  2. Boa noite de Paz, querida amiga Emília!
    Quando as palavras nos escapam num dia, fluem noutro...
    A colheita sempre é a nosso favor.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos

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  3. Lindfo,Ailime...Por vezes as palavras ficam parecendo escondidas ...Depois reaparecem! Adorei! beijos, chica

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  4. Sérgio10/12/2024

    Não é bem verdade. As tuas palavras fluem sempre e tão bonitas. Se não as encontras dentro de ti, olha para fora e inspira-te na observação do mundo. Que eu acho que é o que nós devemos ser: observadores do que está à nossa volta, mais do que estarmos atentos (apenas) em nós mesmos. Eu diria mesmo que somos muito mais felizes quando olhamos para fora, sem nos olharmos em espelhos. Eu acho que os espelhos deviam de ser proibidos. Esses ninhos não aprisionam palavras: fizeram nascer este poema tão bonito, porque prestaste atenção. O tempo das colheitas pode ser quando quiseres: é só prestar atenção à nossa volta (e esquecermo-nos de nós mesmos, nem que seja por instantes - ou sempre!). Beijinhos

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  5. Profundo poema. Te mando un beso.

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«Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar».C.L.