quarta-feira, maio 26, 2021

Já não sei das palavras



Já não sei das palavras.


Procuro-as entre o amontoado de papéis

e só vislumbro rascunhos indecifráveis,

restos de folhas amarelas, com pó,

pétalas de rosas secas.


Vem-me  à memória o que escrevi

e não sei enxergar o tempo

que me leva até ti,

no esplendor dos dias ontem.


Tudo tão belo, mas tão breve.



Texto e foto
Ailime
26.05.2021

quarta-feira, maio 19, 2021

Na celeridade do tempo



Na celeridade do tempo esculpimos as horas

como se os ponteiros do relógio nos cingissem

ao que gostaríamos de pensar e sentir.

 

A montanha já não é verde

Os peixes já não sabem de cor o rio

Nos olhos as margens secaram-se.

 

Para lá da tarde que cruzámos,

o silêncio e a solidão

abreviam o pôr do sol.

Pergunto-te o nome do porvir.

 

Texto
Ailime
19.05.2021


quarta-feira, maio 12, 2021

Tinhas o brio de um diplomata


Tinhas o brio de um diplomata

e a passividade redentora

de quem abomina a injustiça.

Teus pés calcorreavam quilómetros.

O sol caía a pino;

sem queixumes descias  vales

e subias escarpas semeando o pão.

Esculpias com os dedos na terra

o ciclo das águas

que mitigavam a sede  

do que plantavas com amor;

desse amor  brotavam flores e frutos.

Os teus olhos brilhavam de espanto

como se o sol te nascesse no gesto 

quando finalmente descansavas as mãos sobre o rosto;

como se a tua verdade fosse apenas um simples gesto.


Texto
Ailime
12.05.2021

Imagem Net (autor desconhecido)




quarta-feira, maio 05, 2021

No limiar da porta ainda há vestígios

José Malhoa

No limiar da porta ainda há vestígios;

a luz detinha-se no teu colo

e abrias as mãos num gesto 

como a querer agarrar o dia

que te fugia por entre os dedos;

recordo a leveza indelével

com que aprisionavas o tempo

quando o pôr do sol

te refulgia no rosto

o desgaste que te prendia

ao silêncio das palavras encobertas.

Era o tempo em que os pássaros

se recolhiam antes do voo.


Texto
Ailime
05.05.2021