quarta-feira, setembro 24, 2014

Há um rio




Há um rio que me percorre as entranhas
Nas margens azuis dos sonhos
Esquecidos nas proas dos barcos
Atracados em cais abandonados.

Há um rio que me crava no peito
A dor da saudade,
Como labareda que arde e fere.

Há um rio que me afaga a alma,
Me abraça no tempo e desperta.

Há um rio impregnado de luz
Que sempre me orgulha e espanta!

Há um rio banhado de nuvens
Que invoco e abrigo no coração.


Texto e foto
Ailime
24.09.2014

terça-feira, setembro 16, 2014

Na evasão das palavras


Na evasão das palavras
Apenas o silêncio da chuva
Me sussurra a sua ausência.



Ailime
16.09.2014

Foto Google

domingo, setembro 14, 2014

Poemas de que gosto (I)

O Meu Olhar

O meu olhar é nítido como um girassol. 
Tenho o costume de andar pelas estradas 
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de, vez em quando olhando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito bem... 
Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do Mundo... 

Creio no mundo como num malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender ... 
O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ... 

Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

Foto:
Ailime

quarta-feira, setembro 03, 2014

Há nas primeiras folhas de outono



Há nas primeiras folhas de outono
O sabor e o aroma dos frutos maduros
Que penetram os sentidos
Como amoras a brilhar ao sol

E os cestos enchem-se de figos,
Uvas e maçãs enrubescidas
Como as frontes das gentes
Que as recolhem como um milagre

É a natureza a completar
O ciclo, que em cada estação
Se renova e nos espanta
A cada recomeço!



Ailime
03.09.2014
Imagem Google