sexta-feira, dezembro 30, 2016

Viro mais uma página


Viro mais uma página
amarelecida
do livro incompleto
que me rasga o tempo
num breve sopro,
como folha a esvoaçar
nas asas do ocaso.

Deixo apenas que o sonho
me conduza em silêncio
pela rota das palavras.



Texto e foto
Ailime
30.12.2016









Desejo-vos  um bom 2017!

terça-feira, dezembro 20, 2016

Quase Natal



Há silêncios que me confundem
e  palavras que como espadas
me trespassam os sentidos
como se o meu corpo
já não me pertencesse,
de tão gelado que está.
É inverno... e quase Natal.
Onde está o aconchego e o Menino Jesus?
Tantas luzes, tantos presentes,
tanta euforia, tanta mesa farta
e até a guerra, a terrível guerra injusta e cruel
não desiste de matar.
Cidades destruídas, crianças ao relento,
fome e desespero.
Tantos nus a rastejar pelas cidades
estendendo as mãos que ninguém  vê,
que ninguém ouve, que ninguém sente.
Que faço eu aqui, impotente, 
perante estes factos que perturbam o meu sentir?
É tempo de Natal...
Sim, em Belém de Judá,
nascerá de novo o pobre Deus Menino
numa manjedoura deitado
e envolto em frágeis panos,
aquecido pelo bafo dos animais do estábulo.
D’Ele emanará a luz
que se revelará a mais brilhante,
que aquecerá e libertará
e ouvir-se-ão cânticos de louvor
entoados por toda a Terra.
Eu clamo ao Deus Menino: salva o teu povo
e renasce no coração de cada Homem.
É tempo de celebrar o teu Natal.

Texto
Ailime
20.12.2016



Desejo-vos um santo e feliz Natal.
Abraços.


quarta-feira, novembro 30, 2016

Dualismo

 

Há um dualismo nos teus olhos
e no esboçar do teu sorriso
que jamais alcançarei.
Como névoa fria retrais-te
num raio de sol libertas-te
numa sombra escondes-te
como se houvesse muros
a impedir-te os movimentos,
a razão, o olhar, o querer.
O silêncio é o teu cúmplice
no torpor instintivo
que te impede a claridade.



Texto
Ailime
Imagem Google
30.11.2016


domingo, novembro 20, 2016

Na ausência das folhas


Na ausência das folhas
os ventos sopram os dias
das primaveras serôdias
suspensas de densas escarpas

Os musgos escoam nas asas
alvoraçadas dos pássaros
sombras de nuvens azuis
na obscuridade dos muros

Nas veredas estreitas
de labirintos insondáveis
a luz detém no horizonte
a plenitude do olhar



Texto e foto
Ailime
(Reposição)

segunda-feira, outubro 31, 2016

O rio, sempre o rio...

Salvador dali

O rio, sempre o rio...
que deixa a descoberto
as margens longínquas do tempo
que te cerceiam os gestos
e onde o teu olhar repousa
como se não houvesse amanhã.

Os dias claros percorrem-te o olhar
desfazendo as névoas da incerteza,
que em silêncio resgatas à luz.

O rio, sempre o rio...

A sulcar na lonjura das marés
a clarividência do teu sorrir.


Ailime
31.10.2016



quinta-feira, outubro 20, 2016

Torna-se necessário rescrever a canção

Torna-se necessário rescrever a canção
Mesmo que as mãos, em chamas,
Recusem o gesto, vacilante, da melodia.

Como os pássaros, que de asas feridas
Cruzam os céus em voos arrojados,
É urgente que os barcos ergam as velas
Na melopeia cadente da maré cheia.



Ailime
29.03.2015
Imagem Google
(Reposição)

sábado, outubro 01, 2016

Retenho as palavras


Retenho as palavras com o olhar
e desfio-as como finos fios de seda
a resvalar dos casulos
protegidos pelas teias
do orvalho da noite.
Resguardo-as em silêncio
como se não me pertencessem.
Não quero que os rumores sombrios
as maculem na transparência da luz.

 2016-10-01
 Ailime
Imagem Google

terça-feira, setembro 13, 2016

Nos olhos da noite também há luz



Nos olhos da noite
sentia-te o silêncio mudo
que te escavava no rosto
a angústia, que te dilacerava
no peito a ausência da luz.

Dias tortuosos, sombras
que te trespassavam o olhar
pálido como paredes brancas
onde o luar se queda
em noite de quarto crescente.

Mas nem sempre o inverno
obscurece os mares que navegas.
Timidamente uma vigia abriu-se
e de rompante dissiparam-se as trevas.
A luz reacendeu-te no olhar, a vida
que na praia te aguardava a sorrir.

É que nos olhos da noite também há luz.



Texto e foto
Ailime
13.09.2016

terça-feira, agosto 30, 2016

Aprisiono a luz


Na singularidade da existência
movo-me por entre muros
que me tolhem os passos
em apertadas veredas,
num rumar vacilante.
Descubro sóis para além das ameias
dos muros que me cerceiam
e aprisiono a luz filtrada pelas sombras
e deixo que a claridade me cinja
num prenúncio de transformação. 



Texto (revisto) e foto
Ailime
18.04.2012
Reposição



quarta-feira, agosto 17, 2016

Rasgo o tempo


Rasgo o tempo com o olhar
e aprisiono as palavras
nos ponteiros do relógio,
que no silêncio da noite
marcam o compasso das horas.
Lentamente a insónia
apodera-se dos minutos, dos segundos,
e os meus pensamentos
em turbilhão
a perderem-se na imensidão da noite
a tolherem-me os movimentos
na cegueira que me envolve.
Acordo em sobressalto.
Um sonho, um pesadelo?
Apenas um novo dia,
um novo olhar,
uma nova esperança
na claridade da manhã
a resplandecer  no horizonte.

Texto: Ailime
Imagem Google
17.08.2016

domingo, agosto 14, 2016

Adentramento

Há uma leve neblina a envolver a manhã, convidativa a que me adentre. Reparo num trilho que a claridade do sol antes não me deixara perceber e que, como no deserto, atravessa as dunas que me conduzirá ao desconhecido. Meio receosa afoito-me e avanço. Apesar das pegadas não enxergo vivalma.
Apenas pequenos arbustos e narcisos da areia que vou fotografando num irresistível apelo, me fazem companhia durante o trajecto. Discretamente olho de soslaio tentando ter a certeza de que ninguém, naquele local ermo, me segue. Afinal o medo ainda não me abandonara. Decidida continuo a caminhar e a fotografar o que me vai despertando mais atenção.
Um pouco mais adiante começo a  sentir o cheiro da maresia  que atravessa a névoa que, leve como uma cortina, ainda me envolve. Continuo na minha passada que passou a ser mais firme e arrojada e ouço com nitidez o sussurro do mar que me transmite uma paz interior que não sei definir. Neste momento os fantasmas que antes pareciam paralisar-me, dissipam-se.
Fico defronte do oceano fixando a linha do horizonte no ponto em que o céu e o mar se unem numa simbiose perfeita. Aproximo-me de uma falésia e lá em baixo observo, surpreendida, uma praia quase deserta onde as águas ligeiramente ondulantes beijam os seixos que bordejam o contorno da grande enseada.
Subo mais um pouco e finalmente desço até à beira mar. Naquele pequeno paraíso, quase perdido, olho para o meu lado esquerdo como se alguém me chamasse,  mas apenas  uma ligeira brisa  ecoava o silêncio melódico do mar.

Texto e fotos
Ailime
Julho/2016

quinta-feira, agosto 04, 2016

O grito

Eduard Munch

Mastigo as palavras
que me corroem a alma
e se colam na garganta
como se um grito silente
me ocultasse na voz
as sílabas que, teimosas,
me  estrangulam no peito
a construção do poema.
É que há palavras,
que rasgam o ventre
ao germinar.


Ailime
04.08.2016
Imagem Google

quinta-feira, julho 14, 2016

Um silêncio, uma pausa


Um silêncio, uma pausa
e um rio que emana
mananciais de deserto
libertando orvalhos,
que se transmutam
em oásis de escuta.

O vento cálido
sopra nas dunas
os ecos insondáveis
dos enigmas
que a terra gera.

24.06.2013
Ailime (reposição)
Imagem Google
(Estarei ausente da Net durante algum tempo.
Até breve).

quarta-feira, junho 29, 2016

Contemplação


O espanto trespassa-me o olhar
quando o sol incendeia  o horizonte
e alastra sobre  o universo
o  silêncio  da tarde.

Como num espelho,
o  firmamento afaga as brumas
que povoam o meu sentir
e deixo que o paraíso
me envolva como águas,
         cristalinas,
a brotar da nascente.

Quedo-me num mutismo
contemplativo
que  me confunde e desconcerta.

Apenas uma brisa suave
me reconcilia na alma
o sentido das palavras.


Texto
Ailime
(29.06.2016)
Foto de Neca retirada do Blogue

quarta-feira, junho 15, 2016

O rio que nos corre nas veias

Tela de Daniel Ridgway

Procedemos do mesmo rio
que nos abraçou na nascente
e saltitámos de pedra em pedra
como rãs a coaxar
por entre juncos floridos
no pântano de sombras,
que silenciavam as tardes
daqueles dias em que o céu
vermelho como papoulas
abrasava o horizonte.
Como aves, de asas impelidas pelo vento,
voámos céleres no tempo
e atravessámos as mesmas pontes
a desbravar as margens
do rio que nos corria nas veias.
Um dia voaste e perdi-te o rasto.
Nessa manhã o rio transbordou
e um enorme lago separou-nos.
.....................................................
Inesperadamente voltaste
e o rio voltou a correr-te nas veias.
…………………………………..
Como as ondas do mar
(que sempre cingiram o rio)
ausentavas-te e volvias
como marés a vaguear na praia
as  manhãs do entardecer.
…………………………………….
Não sei se algum dia alcançarás
que somos filhas da mesma nascente,
que o sol que nos aquece é o mesmo,
que percorremos as mesmas ruas,
os mesmos sonhos e quereres.

Não sei se um dia,
algum dia,
saberás quem sou.

Saberás quem somos.

Texto
Ailime

Imagem Google

segunda-feira, maio 30, 2016

Em silêncio


Em silêncio os pássaros
rasgam o vento
sobrevoando
mares encapotados
por neblinas à deriva,
como barcos a sucumbir
nos areais gélidos
de praias imaginárias
dispersas pelos sonhos
inacabados
dos náufragos.

Em veloz apatia
cardumes flutuam
como foguetes
a cintilar nas águas
as faíscas dos relâmpagos.



Texto 
Ailime
Imagem Google
30.05.2016

domingo, maio 15, 2016

O lago


Hoje o tempo estagnou naquele lago onde nas manhãs primaveris ouvia o teu suspirar, como as águas profundas do regato que borbulhavam ao cair da nascente formando bolhas de espuma branca a contornar raízes de árvores ancestrais e silvas ainda sem amoras e algumas agulhas de pinheiro que tentavam impedir-lhe o percurso. Persistente ia deslizando com águas cada vez mais cristalinas e o pequeno areal que se ia formando prenunciava que o lago estaria próximo. O fio de água cada vez mais volumoso mergulhava no lago suavemente como num beijo profundo e as aves esvoaçavam alegremente em redor. O céu reflectido no lago completava o cenário paradisíaco e retardava o entardecer.

Texto e foto
Ailime
15.05.2016

quarta-feira, maio 04, 2016

O meu rio

Rio Tejo
Este é o rio que desde a infância me corre nas veias.
Rio azul debruado por nuvens de algodão
encrustadas nas planícies verdejantes,
onde o meu olhar se detém.
Este é o rio de onde emergi para a vida
quando o sol nascente reluzia nas suas águas
um despertar precoce.
Este é o rio que ecoa nas suas margens
os ecos dos meus afectos, que persistirão no tempo.
Este é um rio intemporal que, no silêncio da noite,
guarda prantos e segredos sob o olhar das estrelas.

Texto e foto
Ailime
04.05.2016

segunda-feira, abril 25, 2016

Sonhei-te


Sonhei-te como pólen no chão adormecido
E abriguei-te no meu peito aberto ao vento
Qual noite a emergir na madrugada
Do silêncio a luz se fez espanto.

Como um véu abriste-te em amor
E deste-te em abraços e harmonias
Num só voo ainda entoamos
Alvorada em flor até ser dia.


Texto (reposição)
Ailime
25.04.2015
Imagem Google

segunda-feira, abril 18, 2016

Nas escarpas do tempo


Nas escarpas do tempo
perdi-te o rasto.
As manhãs não brilham
como naquela madrugada
em que o céu te gravou no rosto
um sorriso de esperança.

O chão que agora pisas
parece já não ser teu
e resvalas como se no teu corpo
o sorriso te pesasse nos gestos.

Querias resgatar das sombras
o sopro emudecido do alvorecer
mas as aves partiram em bandos
e na praia, deserta, apenas os búzios
entoam o hino das flores.



Texto Ailime
Foto Google
18.04.2016

domingo, abril 03, 2016

No meu silêncio


No meu silêncio
acolho penumbras e barcos
a resvalar
nas marés
das tardes
quando o vento
me açoita 
o rosto gelado
debruçado na escarpa
e as flores 
penduradas nos galhos
baloiçam
como  ondas
a desenhar na areia
o rumo das aves. 

Texto e foto
Ailime
03.04.2016

terça-feira, março 29, 2016

No oceano da vida


No oceano da vida concebo os meus sonhos
Na esperança da luz que incendeia o horizonte
E deslumbro-me com a beleza exuberante do ocaso.

Mas na claridade da manhã abarco a alegria da aurora
No sol, nas flores e no barco aportado
Que abriga a outra margem de mim.

Abraço nas flores o vento em rebelião,
Sigo as linhas do rio que corre placidamente
E me devolve a aragem da existência
Que outrora era nascente e agora poente.

Na vertigem que me desinstala
Percorro horizontes de mil tons
Como se o vento, as flores e o rio
Me devolvessem o remoto madrugar.

Texto e foto
Ailime
29.09.2013
Reposição)



terça-feira, março 15, 2016

Pudera eu


Pudera eu devolver-te a leveza dos pássaros
para que voasses nas margens do rio
o sorriso que, desperto, em teu olhar
te ilumina o entardecer.
Pudera eu retirar todos os limos
que te resvalam nos gestos
a fragilidade do chão, escorregadio
sob os teus pés vacilantes.
Pudera eu devolver-te num raio de sol
a seiva a pulsar, qual primavera em apogeu
a cingir-te nos braços, o rio ao amanhecer.
Pudera eu atrasar os ponteiros do relógio
para te retardar no rosto os teus olhos cor de rio.

Texto
Ailime
Imagem Google
15.03.2016

domingo, fevereiro 28, 2016

Esvoaço numa asa de vento


Esvoaço numa asa de vento
e deixo que os meus cabelos
se transfigurem
como ondas a beijar a praia
quando o silêncio das marés
esboça ao pôr do sol
a imagem do anoitecer.
Por entre os meus dedos vacilantes
deixo que a espuma das águas
escorra a claridade das nuvens
que esculpem no  infinito
a finitude dos mares.

Texto
Ailime
Imagem Google
28.02.2016

segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Nas telas invisíveis do tempo


Nas telas invisíveis do tempo
descortino palavras abrasadas
como papoulas a balouçar
os  silêncios do entardecer
em  campos de trigo maduro.

Aves em voo desenfreado
transportam nas asas do vento
prenúncios de madrugadas
suspensas em nuvens de orvalho.

No chão repousa o cansaço das memórias.

Texto e foto
Ailime
15.02.2016

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Em silêncio


Em silêncio acolho as palavras
tolhidas por gestos
tantas vezes neblinas
tantas vezes incertezas
a toldarem-me o olhar
a inventarem segredos
que nem o vento ousa desvendar.

No rumorejo das marés
pressinto-as no entardecer
abrigadas num velho barco
largado na penumbra do cais.

04.02.2016
Ailime
Foto Google


  

sábado, janeiro 30, 2016

Poesia de Graça Pires


As águas baixaram.
Amainada a maré vieram as gaivotas
poisar-nos na janela.
O brilho inesperado dos barcos
e das dunas doía no olhar.
De olhos fechados, ainda assim
nos perturbava a clareira de bruma
que alastrava do mar.
As gaivotas, essas, traziam nas pupilas
um rebentar de ondas que nos ensurdecia.
Ao anoitecer jantámos em silêncio
e adormecemos com sede.

In: Poemas Escolhidos
(1990-2011)
Graça Pires

sábado, janeiro 23, 2016

Há na luz pálida dos dias


Há na luz pálida dos dias
uma ausência de gestos
que navega nos lemes
do velho bote esquecido no cais.

As margens já não pertencem ao rio
e as nuvens choram o dilúvio
da manhã que entardeceu
no orvalho taciturno da noite.

Uma ténue luz percorre os astros
e arrasta no murmúrio das sombras
o desassossego das margens
sufragado na mansidão das águas.



Ailime
17.10.2013
(revisto)
Imagem Google

domingo, janeiro 10, 2016

No silêncio da chuva


No silêncio da chuva
o sussurro do vento
a afagar o mar
encrespado no mastro
de um navio à deriva.

Solta-se a madrugada.
Na areia da praia
explodem foguetes
no interior dos búzios
cintilantes como corais.

Uma âncora perdida
arrasta no azul das nuvens
brisas esculpidas na areia
diluindo nas águas profundas
os rumores das marés.

Texto e foto
Ailime
 10.01.2016