terça-feira, agosto 30, 2016

Aprisiono a luz


Na singularidade da existência
movo-me por entre muros
que me tolhem os passos
em apertadas veredas,
num rumar vacilante.
Descubro sóis para além das ameias
dos muros que me cerceiam
e aprisiono a luz filtrada pelas sombras
e deixo que a claridade me cinja
num prenúncio de transformação. 



Texto (revisto) e foto
Ailime
18.04.2012
Reposição



quarta-feira, agosto 17, 2016

Rasgo o tempo


Rasgo o tempo com o olhar
e aprisiono as palavras
nos ponteiros do relógio,
que no silêncio da noite
marcam o compasso das horas.
Lentamente a insónia
apodera-se dos minutos, dos segundos,
e os meus pensamentos
em turbilhão
a perderem-se na imensidão da noite
a tolherem-me os movimentos
na cegueira que me envolve.
Acordo em sobressalto.
Um sonho, um pesadelo?
Apenas um novo dia,
um novo olhar,
uma nova esperança
na claridade da manhã
a resplandecer  no horizonte.

Texto: Ailime
Imagem Google
17.08.2016

domingo, agosto 14, 2016

Adentramento

Há uma leve neblina a envolver a manhã, convidativa a que me adentre. Reparo num trilho que a claridade do sol antes não me deixara perceber e que, como no deserto, atravessa as dunas que me conduzirá ao desconhecido. Meio receosa afoito-me e avanço. Apesar das pegadas não enxergo vivalma.
Apenas pequenos arbustos e narcisos da areia que vou fotografando num irresistível apelo, me fazem companhia durante o trajecto. Discretamente olho de soslaio tentando ter a certeza de que ninguém, naquele local ermo, me segue. Afinal o medo ainda não me abandonara. Decidida continuo a caminhar e a fotografar o que me vai despertando mais atenção.
Um pouco mais adiante começo a  sentir o cheiro da maresia  que atravessa a névoa que, leve como uma cortina, ainda me envolve. Continuo na minha passada que passou a ser mais firme e arrojada e ouço com nitidez o sussurro do mar que me transmite uma paz interior que não sei definir. Neste momento os fantasmas que antes pareciam paralisar-me, dissipam-se.
Fico defronte do oceano fixando a linha do horizonte no ponto em que o céu e o mar se unem numa simbiose perfeita. Aproximo-me de uma falésia e lá em baixo observo, surpreendida, uma praia quase deserta onde as águas ligeiramente ondulantes beijam os seixos que bordejam o contorno da grande enseada.
Subo mais um pouco e finalmente desço até à beira mar. Naquele pequeno paraíso, quase perdido, olho para o meu lado esquerdo como se alguém me chamasse,  mas apenas  uma ligeira brisa  ecoava o silêncio melódico do mar.

Texto e fotos
Ailime
Julho/2016

quinta-feira, agosto 04, 2016

O grito

Eduard Munch

Mastigo as palavras
que me corroem a alma
e se colam na garganta
como se um grito silente
me ocultasse na voz
as sílabas que, teimosas,
me  estrangulam no peito
a construção do poema.
É que há palavras,
que rasgam o ventre
ao germinar.


Ailime
04.08.2016
Imagem Google