quarta-feira, junho 29, 2016

Contemplação


O espanto trespassa-me o olhar
quando o sol incendeia  o horizonte
e alastra sobre  o universo
o  silêncio  da tarde.

Como num espelho,
o  firmamento afaga as brumas
que povoam o meu sentir
e deixo que o paraíso
me envolva como águas,
         cristalinas,
a brotar da nascente.

Quedo-me num mutismo
contemplativo
que  me confunde e desconcerta.

Apenas uma brisa suave
me reconcilia na alma
o sentido das palavras.


Texto
Ailime
(29.06.2016)
Foto de Neca retirada do Blogue

quarta-feira, junho 15, 2016

O rio que nos corre nas veias

Tela de Daniel Ridgway

Procedemos do mesmo rio
que nos abraçou na nascente
e saltitámos de pedra em pedra
como rãs a coaxar
por entre juncos floridos
no pântano de sombras,
que silenciavam as tardes
daqueles dias em que o céu
vermelho como papoulas
abrasava o horizonte.
Como aves, de asas impelidas pelo vento,
voámos céleres no tempo
e atravessámos as mesmas pontes
a desbravar as margens
do rio que nos corria nas veias.
Um dia voaste e perdi-te o rasto.
Nessa manhã o rio transbordou
e um enorme lago separou-nos.
.....................................................
Inesperadamente voltaste
e o rio voltou a correr-te nas veias.
…………………………………..
Como as ondas do mar
(que sempre cingiram o rio)
ausentavas-te e volvias
como marés a vaguear na praia
as  manhãs do entardecer.
…………………………………….
Não sei se algum dia alcançarás
que somos filhas da mesma nascente,
que o sol que nos aquece é o mesmo,
que percorremos as mesmas ruas,
os mesmos sonhos e quereres.

Não sei se um dia,
algum dia,
saberás quem sou.

Saberás quem somos.

Texto
Ailime

Imagem Google