terça-feira, junho 29, 2021

As palavras



As palavras nem sempre querem dizer

os vestígios do tempo;

negam a verdade do esplendor da noite

onde tantas vezes

te deténs na procura do tempo perdido.


Nas sombras  desdobras-te

como se não te reconhecesses

mas sabes que estás ali.


Lembra-te que é  à noite

que o teu corpo  repousa

no remanso da alma.


Texto
Ailime
29.06.2021
Imagem
Google



terça-feira, junho 22, 2021

Escutar-te





Olho-te nos olhos

cavados, profundos

como se tivessem o mundo

por dentro

e um oceano

os beijasse

tantos são os sulcos

que os cerceiam

como a luz baça

que os envolve.

Alguns ignoram-te

outros maltratam-te.

Na tua solidão

ao relento

já nem sabes quem és.

Ninguém te escuta.

Ninguém te vê.

O que não sabem

é que tiveste uma vida plena

e bebeste nas agruras da vida

todo o teu saber.

Escutar-te

é  como ler uma enciclopédia.


Texto
Ailime
21.06.2021
Imagem Pinterest


terça-feira, junho 15, 2021

Não sei medir o tempo


Não sei medir o tempo por gestos.

As andorinhas voltam na primavera,

fazem os ninhos

sempre no mesmo local

e  espanto-me com a sua precisão.

Ganham asas, voejam

e regressam de novo

não se desviando da rota.

Não sei medir  o tempo por palavras

que guardo nos silêncios

quando as manhãs acordam

para o ciclo da vida.

Não sei medir o tempo  por  sóis

que dançam nas sombras  dos abismos

e ressoam nos ecos das escarpas.

Sei medir o tempo apenas quando o relento

me fala de uma nova lucidez.


Texto
Ailime
15.06.2021
Imagem Google

terça-feira, junho 08, 2021

Desfolho-te e leio-te



Desfolho-te  e leio-te como se fosse a primeira vez.

Nem imaginas quanto gosto do gesto.

Os meus dedos cautelosos parecem sorrir

a cada página que me segreda silêncios,

ecos, sinais de luz  e metamorfoses.


Hoje encontrei um malmequer  ressequido

marcando a fronteira do que ainda não li

e ali me detive. Quanto tempo? perguntei-me.

Só sei que me abandonei ao olhar-te

tanto quanto o tempo que demorei a chegar a ti.


Texto e foto
Ailime
08.06.2021

quarta-feira, junho 02, 2021

Na vastidão do tempo

 
Paulo Heliodoro


Na vastidão do tempo percorro as margens

cintilam estrelas no  rio 

os peixes sabem a hora do desassossego

tão perto e tão longe dos teus olhos

o luar resguarda o barco.

Não te atreves a desviar o olhar

do infinito, que te cerceia as marés

as tuas mãos vazias puxam as redes.

Ontem era o tempo de enchentes

hoje o rio afunda-se na maré vaza

tudo tão estranho, tão vago.

No barco agora encalhado

o voo rasante dos pássaros.


Texto 
Ailime
02.06.2021