segunda-feira, março 18, 2024

Travessia Visionária (Um Mês Pelo Dia Mundial da Poesia)

Esta a minha terceira participação no Desafio de Rosélia, do Blogue Escritos da Alma,
para celebrarmos o Dia Mundial da Poesia durante um mês.


Navego nas águas serenas do lago
tendo como farol a luz do luar.
No silêncio e solidão da noite,
as minhas emoções retraem-se
sempre que o passado vem à tona.
Remo em sentido contrário
com a tua imagem gravada no peito.
Os meus pensamentos perturbam-se,
a minha voz prende-se no vazio.
Quero que voltes, mas não digas nada.
Volta, simplesmente, e sorri.
E entoa baixinho aquela sonata
que um dia compusemos os dois.

Texto
Emília Simões
18.03.2024


sábado, março 09, 2024

Em silêncio percorro o deserto



Em silêncio percorro o deserto
das ruas sinuosas, onde tantas vezes
a solidão é companheira
das almas sedentas de amor.
Tropeço numa pedra. 
Caio, levanto-me e no vazio de mim
o silêncio é cada vez maior.
Como um mendigo
não desisto do caminho.
Impele-me o vento e a fome
como se pretendesse
agarrar o universo
com as minhas mãos esquálidas,
pela míngua e pelo frio.
Falo com a noite e descortino
uma luz, numa nesga de tempo,
e acelero o passo.


Texto 
Emília Simões

09.03.2024
Imagem Google

sábado, março 02, 2024

Que a mágoa não se apodere de ti



Que a mágoa não se apodere de ti
se nos passos incompreensíveis da vida
alguns de ti diferirem.
Porque somos muito mais
que simples objetos manipuláveis,
que alguns que se julgam insignes
pretendem asfixiar.

Acredita que os caminhos da vida
podem ser como relva abundante
nos prados verdes da primavera.
Que mais à frente há uma luz que
que para todos brilha, 
mas só alguns conseguem enxergar.

Crê no mais importante
e simples do ser,
que te constrói e revigora,
sempre que deres um passo em frente
nas linhas retas da existência.

A vida é como um sopro; 
no meio de evasivas 
há todo um manancial a cativar.


Texto
Emília Simões
02.03.2024
Imagem Google



sábado, fevereiro 24, 2024

Palavras adormecidas


Palavras adormecidas

teimam em cingir-me a voz

que rouca, pelo frio do inverno,

se aninha no meu rosto gelado.

No firmamento aves esvoaçam

lado a lado com o vento

e, letras à solta, como folhas,

pousam no meu regaço

que as recolhe sofregamente.

No silêncio da tarde

talvez soletre um poema,

com as penas 

que os pássaros deixaram cair 

no ruído do seu voo.


Texto
Emília Simões
24.02.2024
Imagem Google

sábado, fevereiro 17, 2024

Nas intermitências do tempo



Nas intermitências do tempo
desbravo caminhos e, em silêncio,
colho alvoradas suspensas
nos sorrisos, com que te revelas,
em teus olhos brilhantes 
quando me fixas,
numa profusão de cores,
como se a primavera
envolvesse num abraço,
o tempo que resgatámos.
As manhãs são mais sadias,
as tardes, mais leves,
o teu amor mais firme.
Da escarpa, um pássaro voa
levando nas asas, para longe,
segredos que não deixaram rasto.

Para minha mãe

Texto 
Emília Simões
17.02.2024
Imagem Google



sábado, fevereiro 10, 2024

No silêncio das pedras



No silêncio das pedras
desponta uma flor
que me fala de primavera,
mas também de invernos
em que as nuvens choram
lágrimas de frio e geadas,
e orvalhos sobre
os meus pés cansados
e quase descalços,
a escorregar nas calçadas.
Por entre uma nesga de nuvens
alcanço um raio de sol
que me traz de volta à realidade.
A primavera não tardará
e os meus dedos, como aves feridas,
agarrarão as palavras
com sede do poema
que brota das minhas mãos,
quase em chamas.


Texto e foto
Emília Simões
10.02.2024

sábado, fevereiro 03, 2024

Resvalo por socalcos de montanhas



Resvalo por socalcos de montanhas
como ave em pleno voo
e procuro uma flor
uma palavra 
um gesto
um raio de sol
um enigma,
talvez um pedaço de tempo
que me fale de vida
e de auroras
e entardeceres
que me falem de amor
ou de silêncios
onde escute a tua voz.
Divago e paro num golpe de vento
que cinjo na minha cintura
como se fora um afago teu.
 
Texto 
Emília Simões
03.02.2024
Imagem Google


segunda-feira, janeiro 29, 2024

Abro a porta ao silêncio

 


Abro a porta ao silêncio
e refugio-me nas memórias
que tenho albergadas em mim.

São memórias longínquas,
que se vão desvanecendo
como as nuvens que se desfazem
impelidas pelo vento, deixando uma
estrada no céu.

Procuro uma luz para as proteger
para que fiquem intactas, sempre
que me recordar dos dias em que tudo
era claro e as aves esvoaçavam
em alegres bandos dentro de mim.

Distancio-me e indiferente
procuro outro lugar para
guardar as memórias,
que parecem vaguear entre sombras
e solidões que, de instante a instante,
se revelam à minha passagem.


Texto
Emília Simões
29.01.2024
Imagem Google



sábado, janeiro 20, 2024

Para um sem-abrigo



Lembro-me de quando ainda eras criança.
Brincavas ao ar livre com os outros meninos.
Tinhas pai, mãe e uma irmã; uma vida normal.
(O que será uma vida normal?)
Parecias feliz como as outras crianças que, em teu redor,
brincavam e saltavam jogando à bola.
Todos muitos alegres, divertidos,
com as traquinices próprias da idade. 
Estive muitos anos sem te ver.
Sinceramente já nem te recordava.
Um dia abordaste-me, com muita educação,
porque me reconheceste,
apesar dos anos passados...
- Sim, sou eu...
E pediste-me uma moeda...
Contaste-me parte da tua história 
e falaste-me da tua mãe,
com tanto carinho, com tanto orgulho: 
- a Mulher que mais amei -
deixando rolar as lágrimas,
que tanto me comoveram.
Percebi que os teus caminhos não foram retos,
que tens percorrido a vida por vias travessas.
Uma vida indigna de um ser humano.
Há dias vi-te junto a uma cama improvisada
debaixo de uma varanda, onde dormes ao relento.
Fiquei atónita e o meu pensamento divagou...
E divaga, porque não tenho respostas
nem soluções para te socorrer.
Apenas te posso indicar um caminho...
Um caminho que tu conheces bem,
porque dele tua mãe te falava.
  
Texto
Emília Simões
20.01.2024
Imagem Google



sábado, janeiro 13, 2024

Hoje a chuva molha a calçada


Hoje a chuva molha a calçada
e as pedras brilham como cristais
na densa tarde de inverno.
As árvores, nuas, parecem chorar
as folhas que, coladas ao chão,
parecem adormecidas.
Há raízes profundas que as unem
e não é a falta de luz que as 
mantêm vigorosas na sua nudez.
A seiva continua a circular
no interior dos seus troncos.
Por um lapso de tempo
sobrevivem à noite que as cinge.
A primavera não tardará
e como milagre
no silêncio de uma manhã amena,
despertarão reluzentes
em ramos iluminados,
como um brilho impresso no tempo.


Texto e foto
Emília Simões
13.01.2024