terça-feira, junho 24, 2014

Voos


O mar, a luz e o entardecer
Nas folhas que navegam as águas
Como pequenos barcos à deriva
Nas marés banhadas de luar.

Os pássaros voam em debandada
E no areal cravado de sal
Uma pena repousa solitária
A incerteza do voo abrasado.

A alvorada reluz no horizonte
Dispersando as névoas para longe;
Timidamente um pássaro aproxima-se
Num voo rasante, quase mudo.


Ailime
24.06.2014
Imagem Google

quarta-feira, junho 18, 2014

A festa foi breve



A festa foi breve,
Porque os olhares se fixaram no efémero;
O que brilha não são os homens
Mas as estrelas que em noite escura
Incendeiam o firmamento com clarões
Esfuziantes de cor!
  
É urgente aprisionar a luz,
É urgente elevar os olhos ao essencial!
É urgente abrir o coração ao amor!

O efémero é apenas uma aragem,
Que num ápice se desfaz no horizonte.

É urgente ouvir a madrugada
A irromper num céu irradiado de mar!


Ailime
18.06.2014
Imagem Google




quarta-feira, junho 11, 2014

Nada é transversal


Nada é transversal ao que ideamos,
Porque os muros se desmoronam
E anulam a claridade dos mitos
Que nem chegaram a ter flama.

Os dias declinam e a noite
Jaz mergulhada no mar
Que extemporaneamente
Naufraga nas ondas o sal.

As asas batem em retirada
No luar pálido das águas
Como clarões à distância
A raiar o naufrágio das aves.

11.06.2014

Ailime
Imagem Google

sexta-feira, junho 06, 2014

"Tanta gente"...

“Tanta gente…tanta gente… e ninguém…”!....

Não completou a frase soletrada num choro interior, que me fez saltar as lágrimas,  segurando com alguma dificuldade um pequeno prato de plástico, que serve de base aos vasos de flores, no qual esperaria que alguém depositasse algumas moedas.

O prato estava vazio.


Eu tinha acabado de almoçar quando me cruzei com ele. Voltei atrás e olhei o seu rosto cavado por profundas rugas  e não vi qualquer sinal de animosidade.

No arrastar do seu corpo curvo apenas notei o cansaço, sim um enorme cansaço num homem desgastado pela idade, muita idade, com muito sofrimento, com muitas desilusões certamente, mas a quem apenas ouvi a frase, que passadas algumas horas, ainda ecoa no meu coração:

“Tanta gente… tanta gente... e ninguém…”!


Ailime
Hoje, Lisboa (11.01.2011)
(Reposição)
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