sábado, outubro 29, 2022

No silêncio das folhas

 

Leonid Afremov



No silêncio das folhas

o eco da chuva que, irrefreável,

nos espanta e das nuvens

vai tombando

como cascatas de pérolas

a brilhar nas calçadas.


Estendo-lhe os braços, as mãos

e acolha-a, como bem precioso,

tão próxima de mim

a desviar-me a atenção

das guerras, dos mal-entendidos,

das frustrações, das impiedades.


No jardim, as folhas acolhem os pássaros

que perderam o norte

e repousam o outono nas tardes dos dias. 



Texto
Ailime
29.10.2022



sábado, outubro 22, 2022

Sobre o dorso da terra o gemido

 


Sobre o dorso da terra o gemido

e a busca por dentro e por fora 

do precioso líquido

que mitigará a sede do mundo.

Não tardará....

Chegará  de mansinho

e depois como um dilúvio 

lavará todas as penas 

e as manchas

que inundam a terra

e os rios transbordarão.

Uma pausa à espera de resposta

e o arco-íris a espreitar

e a ouvir a minha prece.



Texto
 Ailime
Foto  do meu filho S.S.
22.10.2022


sábado, outubro 15, 2022

Cativamo-nos em silêncio

Gustav Klimt

Cativamo-nos em silêncio

e em silêncio abrimos o coração

num beijo, que nos estremece

e enternece.

Deixamos que neste entardecer

os sentidos repousem

e nos recordem os cachos dourados

do nosso amanhecer.

Era tudo tão intenso, tão cheio de cor.

Hoje abraçamos o mundo

flutuando na leveza do amor.



Texto
Ailime
15.10.2022


sábado, outubro 08, 2022

O tempo, sempre o tempo

 

Ailime

O tempo, sempre o tempo, na voz,

como um rio que percorre as palavras

que teimam em libertar-se nas manhãs,

em que o orvalho lhe cinge o olhar

ainda meio adormecido.

Como uma fonte soletra nas águas

os sentidos, em movimentos ascendentes,

no esplendor da manhã a cativar-lhe

as palavras, que se soltam como flores

a desabrochar num chão de primavera.

Retoma o caminho

liberto de sombras e silêncios

e regressa ao tempo, nas palavras,

refletidas no rio.


Texto e foto
Ailime
08.10.2022

sábado, outubro 01, 2022

São breves os dias de outono



Quando cheguei à minha rua

já era outono.

Ainda ontem colhia uma rosa...

Hoje, das minhas mãos,

caem folhas amareladas

que recolhi no regaço

onde os dias repousam mais cedo,

no sol que se  despede 

mal a tarde se insinua.

São breves os dias de outono

e as noites alongam-se

para além do horizonte,

onde apenas distingo

no crepúsculo das horas

o silêncio da manhã que tarda.


Texto e foto
Ailime
Set./2022