sábado, dezembro 30, 2023

O rio das minhas lembranças

(desconheço o autor)

Caminho sem sentido tentando abstrair-me dos trajetos, que tantas vezes trilhámos juntas!

O que mais apreciava eram os ribeiros de águas límpidas, onde mergulhavas as mãos e o coração.

Nas águas geladas brilhando ao sol, quente de inverno, a tua silhueta resplandecia de emoção e amor.

Ainda me recordo das laranjas que caíam junto à margem do ribeiro grande e que me deliciavam.

Sempre gostei de laranjas. Hoje o ribeiro está seco e não sei se ainda existem laranjeiras no velho pomar.

Mas sabes uma coisa? Do que tenho  mesmo saudades é das filhoses que fazias à lareira no tacho grande, na noite de Natal!

Quando passo à tua porta, parece que ainda sinto o aroma da canela e do açúcar com que as polvilhavas.

Como eram boas as tuas filhoses! Nunca mais comi nenhuma igual. Hoje há tantos, tantos sabores, que me confundem.

Paro um pouco e apenas desertos se estendem à minha frente e uma neblina cai sobre o rio.

O rio, o rio das minhas lembranças, que tudo guarda e tudo revela.


Desejo a todos um Feliz Ano Novo com saúde e paz!

Texto
Ailime
Imagem Google
30.12.2023

segunda-feira, dezembro 18, 2023

É dezembro, quase Natal!


É dezembro, quase Natal!

O frio alastra nas cidades,

vilas e aldeias.....

Azáfama costumeira

onde impera o consumismo

num frenesim desmedido,

torna dezembro ainda mais frio

para os que dormem ao relento,

para os que caem por terra

nos cenários de guerra.

Tanta fome no mundo,

tanta sede de afetos,

tanto choro de crianças nuas

por um destino

que lhes assassinou os pais.

Tanta prepotência e ganância,

que violam todos os direitos humanos.

É urgente  a paz, a fraternidade,

e o calor dos afetos. 

É urgente o Amor!

É urgente o Natal!


Texto
Ailime
Imagem Google
18.12.2023


Desejo a todos santo e feliz Natal!



domingo, dezembro 10, 2023

Sentada na escarpa



Sentada na escarpa

vagueio o olhar pelo horizonte 

que perscruta o entardecer, 

de uma tarde de outono.

Recordo-me da varanda

de onde ao acordar

vislumbrava o amanhecer.

Os dias tão longos,

hoje tão curtos.

A alma imperturbável

recolhe nos recônditos da memória

as cores, que hoje tão distantes,

estão aprisionadas

no pensamento.

Quando a noite murmurar

o frio e a geada do inverno,

a primavera florescerá

nas pontas dos meus dedos.


Texto
Ailime
10.12.2023
Imagem Google


sábado, dezembro 02, 2023

O recomeço



Percorri estradas

desbravei caminhos 

atravessei socalcos

feri os pés

golpeei as mãos;

a minha boca

está amarga

pelo sal que me escorre

dos olhos

o sentido do meu viver.

Quis mudar de trajeto;             

tombei, ergui-me

e tropecei nas pedras,

mas reergui-me

O meu corpo,

os meus braços

doridos

ficaram entrelaçados

para sempre nas grades

dum muro

que me rasga o pés

e me trava o recomeço.


Texto e foto
Ailime
02.12.2023



sábado, novembro 25, 2023

No meu canto



No meu canto escrevo uma palavra, 

depois outra e ainda outra.

Que pretendem meus dedos expressar

quando seguram a caneta e ela desliza

lentamente, como a desenhar um poema

que nem sequer está esboçado?

Deixo que gotas de tinta escorram

e molhem o papel e nesse borrão

eu tenha esculpido algo

que se assemelhe a poesia.

Tal como o pintor, quando na tela

deixa que as tintas se esbatam 

e formem a sua inspiração contida.

A tinta secou, olho-a incrédula!   

Nada restou e o poema não aconteceu.


Texto
Ailime
25.11.2023
Imagem Google



segunda-feira, novembro 20, 2023

É outono

 


A natureza reveste-se de amarelo dourado.

Os frutos têm  sabor a mel.

Nos meus lábios o teu nome

tem o aroma de um amanhecer

e o sabor de um pôr do sol.


Os dias são mais curtos.

Os raios solares mais amenos.

Os muros e os troncos de árvores

cobrem-se de líquenes e musgos.

Nos prados, a geada cobre as ervas pela manhã.


A natureza respira serenidade;

até o vento amainou.

Quase que o aconchego  nas minhas mãos.

Paira no ar o cheiro a castanhas assadas,

maçãs e canela.


No chão molhado repousam folhas caídas,

no outono da alma, no outono da vida.


Texto e foto
Ailime
19.11.2023


sábado, novembro 11, 2023

No clarear das manhãs


No clarear das manhãs

a terra cheira a musgo

e a  pedras escorregadias

pelas intempéries 

que agitam as árvores

em aguaceiros intermitentes,

deixando sobre o chão

folhas irreconhecíveis,

que vou recolhendo em silêncio.

No vórtice do tempo

aves atravessam as nuvens

resguardando-se de tempestades  

numa nesga de luz,

antes que o vento as resgate. 


Texto
Ailime
11.11.2023
Imagem Google



sábado, novembro 04, 2023

É outono na minha rua e o sol brilha!

 


As folhas molhadas pelas intempéries

segredam em tons de outono

no silêncio da tarde

a voz do vento que amainou, 

atapetando o chão em tons dourados.

É outono na minha rua e o sol brilha!

Atravesso-a devagar, pé ante pé,

para não desmanchar o sortilégio

desta visão encantada.

Em silêncio apanho uma folha

e depois outra e ainda outra,

Encosto-as ao peito e sorrio.

É outono na minha rua e o sol brilha! 



Texto 
Ailime
04.11.2023
Imagem Google

sábado, outubro 28, 2023

No silêncio da tarde



No silêncio da tarde
as nuvens passam apressadas.
O dia escurece.
Um aguaceiro forte
e uma rajada de vento
fustigam as janelas
e os pobres andrajosos,
que à mingua, na rua,
estendem as mãos vazias,
erguem ao céu, os olhos molhados,
e nada veem, nada sentem.
Apenas a escassez os alumia.
Sacudo os salpicos de chuva
e  ofereço-lhes uma flor,
uma simples flor
que, curvada, também chora
as iniquidades da vida.

Texto e foto
Ailime
28.10.2023


 

sábado, outubro 21, 2023

Tens na voz o embargo


Tens na voz o embargo

de quem navega ao relento

nas esquinas da cidade

onde tudo falta e tudo sobra.

Corpos molhados, faces enrugadas,

olhos baços de tantas súplicas

que ninguém ouve, ninguém vê.

Apenas sombras...

Do outro lado da rua choros e gritos

sob estrondos atroadores 

numa tristeza letal.

Chove nos meus olhos

a tua sede, a tua fome, o teu martírio.

No meu silêncio guardo tudo

e num arrastar de folhas

peço ao vento benevolência.


Texto e foto
Ailime
21.10.2023


sábado, outubro 14, 2023

Ouve a voz da razão


Quando o teu coração sangrar

ouve a voz da razão e atravessa a ponte.

Haverá sempre algo de novo do outro lado

que te fará sorrir  e te apontará novos caminhos.

O sol brilhará sempre, mesmo que dos teus olhos

se soltem lágrimas amargas.

O teu rosto será o espelho da esperança,

o renascer em cada esquina da vida.

Não temas, porque nada é em vão.

Debruça-te nos silêncios da noite

e ouve a voz da razão.

Na tua quietude sentirás paz.


Texto
Ailime
14.10.2023
Imagem Google

domingo, outubro 08, 2023

Descobres nos ninhos



Descobres nos ninhos

a vocação dos pássaros

quando vazios

as asas se estendem

no voo em liberdade

até se confundirem

com a natureza.

Depois outro ninho

outras vidas

novos cantos de folha em folha.

A natureza

renova-se no relento da noite;

o dia renasce,

num pássaro a voar.


Texto e foto
Ailime
08.10.2023




sábado, setembro 30, 2023

Desato as sandálias

 


Desato as sandálias e caminho descalça pelas dunas;

os meus pés pisam  areias secas e por momentos

recuo e torno a calçar-me. O chão escalda.

O deserto é penoso, mas desafiante.

Nele me reencontro, sempre que durmo ao relento

nas noites infindáveis, quando mergulho em sono profundo.

Pela manhã o sol acorda-me e uma flor sorri.

É o recomeço da travessia; por instantes, sonho.


Texto
Ailime
30.09.2023
Image Google


sábado, setembro 23, 2023

Cedo ao tempo



Cedo ao tempo em silêncio

e escrevo palavras à toa

nas horas incertas,

quando os ponteiros do relógio

se detêm nos ecos

insondáveis dos minutos

e os segundos, suspensos, 

como num compasso,

me prendem os sentidos.


Vagueio sem saber das horas

e nelas me reencontro sempre

que me reconheço

na voragem dos dias.


Texto 
Ailime
Set/2023
Imagem Google


sábado, agosto 26, 2023

Nas asas do vento

 


Nas asas do vento descansava

das provações da vida.

O seu coração ficava leve, leve

como pássaros a esvoaçar

em redor da sua cintura.


Decidira não mais se penalizar

por todos os absurdos com que se cruzara.

Era um caminho árduo, silencioso

que lhe ardia sob os pés cansados,

onde não queria voltar.


Como um inseto saltitava 

sobre as flores secas  e sem cheiro

e redimia-se num casulo de silêncio

numa escarpa junto ao mar.


(Vou estar em pausa por algum tempo).
)..
Reedição
Ailime
2022
Imagem Google

sábado, agosto 19, 2023

Há que redescobrir silêncios



As tarefas rotineiras são cansativas,

como são cansativos os dias sem luz.

Por vezes as palavras colam-se à língua

e não desatam os versos que

que habitam o silêncio

no mais recôndito de nós.

Torna-se necessário novas primaveras

que nos devolvam os pássaros

com seus cantos maviosos

que nos ensinem outras canções.

Há que redescobrir silêncios

que nos ajudem a atravessar

novos caminhos, novas pontes,

novos jardins, com flores sem nome.

Há que soltar as palavras

nos rodopios do vento;

há que reiventar as canções

nas escarpas do amor.


Texto
Ailime
Imagem Google

sábado, agosto 12, 2023

Tinha na pele o cheiro das flores


Tela Daniel Ridgway

Tinha na pele o cheiro das flores

e rasgava as searas com os sentidos

na alvura da manhã bebia o orvalho

antes que o sol lhe queimasse o corpo.


Inebriados pelo frescor do amanhecer

os pássaros voejavam de mansinho

entoando cantos maviosos da aurora.


Ao lado, o rio, sabia-lhe de cor o nome

e sorria-lhe, cúmplice, na maré cheia

nos acordes da vida a renascer.


Era o espanto que a revigorava

nas primeiras horas do dia

trazidas pela lezíria

como barcos a respirar.


Texto 
Ailime
12.08.2023

sábado, agosto 05, 2023

Pássaros em bandos


Pássaros em bandos

voam em liberdade, serenamente,

mensageiros da paz e do bem.

É tempo de abrir o coração

à palavra e ao amor.

É tempo de encontro

e de reencontros

tempo de perdão, de alegria,

de fraternidade  e igualdade.

Todos juntos e são muitos

cantam o amor e escutam.

Sabem escutar

e enxergam com brilho nos olhos

o voo mais Alto

para um mundo melhor

construir e pacificar.

É tempo de ter esperança!


Texto e
foto (via TV)
Ailime

sábado, julho 29, 2023

Esperança é palavra fecunda

Ailime

Esperança é palavra fecunda

no coração de quem anseia

uma vida nova de amor.

Correm apressados, de passagem,

para um campo, fértil, que germine.

Como estrelas luzentes

em noite estrelada,

guiam os seus passos

na vertigem

de algo maior encontrar.

Em silêncio ou a cantar

ei-los que chegam

a um outro mundo,

que pretendem abraçar.


Texto e foto
Alime
29.07.2023


sábado, julho 22, 2023

Percorria-a o silêncio



O vento esventrava-lhe os sentidos

perdida por entre as dunas do deserto

e a sede assediava-a a cada passo que dava

numa busca latente.

Percorria-a o silêncio

cada vez mais rouco, cada vez mais inaudível.

Apenas o vento e as areias

que lhe feriam os olhos

rasgados de tanto chorar

a impeliam, meio encurvada, no chão ardente.

Não sabia de cor o fim da viagem.

Apenas sabia que o seu destino

tinha um desígnio.


Texto
Ailime
22.07.2023
Imagem Google


sábado, julho 15, 2023

Sem palavras não há poema


Sem palavras não há poema.

Mas num pequeno galho

a ave constrói o seu ninho

e a poesia nasce.

A natureza está em festa.

Borboletas esvoaçam,

as flores brilham ao sol,

a terra parece sorrir,

tudo se enquadra 

numa bela expressão de amor.

O poema não precisa de palavras,

apenas um pouco de silêncio

na contemplação

da natureza,

até confundir-se com ela.


Texto
Ailime
15.07.2023
Imagem Google

sábado, julho 08, 2023

O prelúdio do entardecer

 



Dizia-lhe que tinha os sinais à flor da pele

como quem colhe cerejas e as trinca 

deixando escorrer pelo canto dos lábios

o néctar vermelho doce como o mel.

Via-se nas sombras dos pomares 

poisando aqui e ali qual borboleta

escutando o silêncio da tarde

entre os cantos dos pássaros

e os zumbidos dos insetos.

O relento era o seu reino onde

se sentia  aconchegada longe do mundo

e apenas as flores lhe entoavam baixinho

o prelúdio do entardecer.


Texto
Ailime
Imagem Google
08.07.2023

sábado, julho 01, 2023

Do sonho acordo e espanto-me



Numa pétala  de rosa esboço um barco

onde me sento segurando a vela

e deixo que o vento o impele

sobre as águas de um lago imaginário,

em que no silêncio da tarde

os ecos crepitam

rumores de um entardecer.

Do sonho acordo e espanto-me

com a claridade do dia

sem vestígios do barco

que ousei  tecer com os sentidos.


Texto
Ailime
01.07.2023
Imagem Google

sábado, junho 24, 2023

Não sabia os caminhos de cor

Luiz Mendes


Traçou com uma lufada de vento

o caminho que perseguia

e nem as flores nem as árvores

lhe disseram qual o destino

que havia de percorrer.


Sentia-se perdida, ao abandono,

como criança inocente

que, por momentos, larga a mão de seu pai

e cai desamparada no chão.


Não sabia os caminhos de cor

tão longa a distância a alcançar

movia-a apenas o sentido do sol

a acender-lhe no peito

a chama brilhante do dia

até confundir-se com ele.



Texto
Ailime
24.06.2023


sexta-feira, junho 16, 2023

Os naufrágios

Ivan Aivazovsky


Desço a rua, descalça, e os meus pés queimam.

Acompanha-me o silêncio e vêm-me à memória

os naufrágios.

Quantos serão os náufragos, os sem-abrigo,

os desalojados deste pobre e triste mundo

que os ditadores comandam na insensibilidade

do coração que não têm?

Debruçada na tarde quente e com os pés a escaldar

eu própria me sinto a naufragar num mundo que não sonhei

e onde apenas ouço o silvo sombrio do desespero,

que vai arrastando as dores pelas estradas de ninguém.

Quem ouve as vozes dos ruídos, dos sonhos quebrados

pela insanidade dos homens?


Texto
Ailime
16.06.2023

segunda-feira, junho 12, 2023

Eterno desejo de amar

Esta a minha participação respondendo ao amável convite de Rosélia, no seu Blogue Escritos da Alma,
para escrever um poema subordinado ao tema Amor, para celebrar o dia dos Namorados no Brasil.

Caminhando pela praia deixo-me seduzir pelo vento

e aspiro a brisa do mar que me fala de ti.

Pressinto-te ao longe junto à escarpa

e vou no teu encalce como se foras um príncipe,

que mora em meu coração desde sempre.

Anseio pelo reencontro.

Há tanto tempo que não te vislumbro,

mas sei que me esperas com o mesmo anseio

com que outrora me abraçavas e beijavas.

Hoje não vai ser diferente e o nosso abraço

prolongar-se-á no tempo, num eterno desejo de amar.


Texto
Ailime
09.06.2023



sábado, junho 03, 2023

Há ainda o cordão umbilical

(Desconheço o autor da tela)

Há ainda o cordão umbilical

que nos une no tempo

e nos ajuda a sorrir e a contar histórias.


Por vezes tudo me parece tão estranho.

O tempo andou depressa demais

e o rio já não tem o brilho

das primaveras longínquas.


As lezírias brilhavam ao sol

e os barcos carregados de peixe,

eram leves como o amor,

que alimentava o suor das gentes.


Hoje há o vazio dos que se foram

e as recordações que restam

no silêncio dos ecos

das palavras adormecidas.



Texto
 Ailime
03.06.2023
Imagem Google


sábado, maio 27, 2023

Na busca das palavras ouço o vento


Na busca das palavras ouço o vento

que me fala de amor;

não de um amor obsessivo,

mas de um amor plácido

que me tranquiliza, quando

a minha voz clama por ti

e me respondes num sussurro

a tua presença em meus olhos

que, em silêncio,

ecoam nos teus uma imagem

perene de claridade,

como o voo livre dos pássaros.


Texto
Ailime
27.05.2023
Imagem
Google


sábado, maio 20, 2023

O grito

Edvard Munch


Chovia e a tarde era apenas o som da chuva;

de vez em quando um trovão ressoava-lhe nas mãos,

que rapidamente tentava esconder

para que não se vissem as chagas

que lhe distorciam os dedos.


Era sempre assim quando o ruído

se entranhava dentro de si, sem voz,

e apenas a chuva lhe enchia o peito

do grito que, abafado, soltava.


Recusara sempre ser apenas um sopro

desfeito pelas gotas da chuva,

a quem o tempo roubara o pensamento.


Texto
Ailime
19.05.2023

sábado, maio 13, 2023

Por caminhos sinuosos



Por caminhos sinuosos

tão distantes e tão próximos

das árvores, com ninhos de pássaros,

ouço o chilrear dos melros.

Nos galhos, as folhas estremecem.

O vento voraz espalha-as no chão 

antes e depois da passagem

os meus pés apressam-se.

O dia entardece.

Apenas o brilho do crepúsculo

me faz lembrar o silêncio 

escondido numa flor 

que trepa pelas escarpas

que serpenteiam a costa,

duma praia invisível.

O mundo aquieta-se.

Só o murmúrio do mar

me responde.


Texto
Ailime
13.05.2023
Imagem Google

sábado, maio 06, 2023

Presságio de esperança


 

Pé ante pé percorro a seara por maturar;

procuro as papoilas vermelhas

qual pôr do sol a raiar o chão.

Mil e uma cores abraçam-me o peito

e, por momentos, agarro outra flor e outra

e deixo para trás o vento

que teima em rodopiar-me nas mãos

o fogo intenso das primaveras,

que o tempo percorre no meu olhar.

Aqui e ali ouço o canto dos pássaros

e um presságio de esperança

acalenta-me a alma.



Texto e foto
Ailime
06.05.2023

sábado, abril 29, 2023

As casas



Nem sempre as casas têm claridade.

As heras e os musgos retiraram-lhes

o brilho da genuinidade

e fazem-nas mergulhar na escuridão

que o tempo há muito traçou.

Através das portas e janelas,

em escombros,

não ouço o crepitar do lume,

nem sinto o aroma das flores, 

agora murchas sobre a mesa

da sala de entrada.

Desço e subo degraus,

mas o  meu olhar nada vislumbra

e no meio das sombras,

de ontem,

apenas o vazio me fala de vida.

 

Texto 
Ailime
28.04.2023
Imagem Google

segunda-feira, abril 24, 2023

25 de Abril, sempre!

   


Nas calçadas ainda há vestígios
das flores rubras da manhã
que bebi como um néctar
quando a madrugada se soltou 

Pássaros esvoaçavam de galho em galho
e alertei-os da chegada da primavera.
Sorriram e voaram mais alto
a perpetrarem a canção
que as vozes ainda sustinham

Em bandos, todos os outros pássaros
entoavam já a melopeia
a incendiar a manhã
que eu percorria com pasmo.


Ailime
(Reedição)
Imagem Pinterest

sábado, abril 22, 2023

Ainda há flores a irromper nos caminhos



Ainda há flores a irromper nos caminhos,

na primavera que sempre regressa

aos lugares exatos

onde se faz esperar,

ainda que as intempéries

interrompam, por instantes,

o seu resplendor.

O que aspiro nesse trajeto

é que mesmo as flores selvagens

não se esqueçam de refulgir,

ao sol, do meu jardim.


Texto e foto
Ailime
22.04.2023


sábado, abril 15, 2023

Margaridas amarelas



Na encosta as margaridas amarelas ainda me sorriem;

como são belas no seu esvoaçar 

como as tranças despenteadas da minha infância

que resplandeciam ao encanto dourado do sol .

Atravesso a distância no tempo

e as flores ainda permanecem intactas

como se esperassem por mim,

depois de tantas primaveras.

Observo-as com a mesma atenção

como se fossem joias raras

e a minha alegria fala com elas.

Elas não me respondem

mas eu entendo-as nos seus gestos

quando rodopiam ao vento, 

num bailado leve e tão próximo.


Texto e foto
Ailime
15.04.2023


sábado, abril 08, 2023

Os teus gestos



O estio adentrava-se-te no ventre
e o teu rosto sorria.
Não que os teus olhos o revelassem;
mas as tuas mãos tremiam e acariciavam
inconscientemente
o fruto que acabaria por brotar em breve,
nesse desatino que sempre te acompanhava.
As cigarras entoavam um crepúsculo
e os teus lábios permaneciam cerrados
num secretismo de dúvidas,
líquidas do silêncio que albergavas
nos gestos inconscientes
que pairavam sobre as águas
e se entranhavam nas pedras.
Nunca entendi o movimento das águas
nem o balouçar do vento
a raiar a linha de fogo
que delineava os teus gestos.


Texto e foto
Ailime
(Reedição)

Desejo a todas as  amigas e amigos e suas famílias uma feliz e abençoada Páscoa!

sábado, abril 01, 2023

Metamorfoses


Silvana Oliveira


Há um aroma nas pedras que não sei explicar.

Alinham-se à beira-mar, 

nos caminhos, 

nas estradas cheias de  pó

e também sobre os muros; 

estas são as que estão mais desalinhadas

dentro do seu alinhamento.

Tal como as palavras

dentro do poema

que nem sempre rimam 

com a palavra poesia.

Deixo-as para trás

e procuro uma luz nas sombras

que me ajude a entender

as metamorfoses que não param

de me desassossegar.


Texto
Alime
01.04.2023


sexta-feira, março 24, 2023

Um Mês Pelo Dia Mundial da Poesia - 4ª semana

 A minha quarta participação na parceria poética de Rosélia no seu Blogue Escritos da Alma


Tudo está calmo e o mundo é tão sedutor

nas tardes, em que nos enlaçamos à beira do rio.

É primavera...Contemplamos a natureza em flor

e absorvemos os seus aromas e cores.

Os campos deslumbrantes

rasgam os nossos olhos à luz do amor. 

A paz envolve-nos e detemo-nos assim

por largos instantes.

Apenas os pássaros, nos seus cantos,

quebram o silêncio da tarde.

Por instantes desfrutamos deste paraíso,

apenas nosso, e amamo-nos.



Texto
Ailime
18.03.2023

sexta-feira, março 17, 2023

Um Mês Pelo Dia Mundial da Poesia - 3ª semana

A minha terceira participação na parceria poética de Rosélia no seu Blogue Escritos da Alma

 



Na quietude da infância
sentava-me na relva do jardim
e observava o mundo 
através dos livros que tanto amava.

Eram histórias e mais histórias, 
algumas sem nome,
que abriam os meus olhos
ao mundo por descobrir
e ainda tão longe
para os meus sentidos.

A imaginação
vagueava simplesmente
entre o silêncio e as flores,
que me despertavam
o pensamento.



Texto 
Ailime
15.03.2023


Informação: A Poeta Graça Pires, do Blogue Ortografia do Olhar vai lançar no próximo dia 18 de Março, na Biblioteca Palácio Galveias o seu novo livro O Improviso de Viver. Estamos todos convidados.
O livro está em pré venda até ao dia 17 (hoje) aqui: https://poeticalivros.com/collections/poesia/products/o-improviso-de-viver

sábado, março 11, 2023

Silêncio, sede, deserto.

 



Silêncio, sede, deserto.
Uma angústia perpassa o meu ser.
Horizontes nebulados.
Ecos sombrios envolvem-me
como uma muralha 
que me tolhe os movimentos
e me aprisiona.
O olhar fixo no além
distante das manhãs
que me oferecem a claridade 
presa nas asas dos pássaros
que esvoejam nas dunas.
Uma flor de primavera
brota no silêncio da tarde
mitigando-me a sede
no deserto invisível.


Texto
Ailime
11.03.2023

quinta-feira, março 09, 2023

Um Mês Pelo Dia Mundial da Poesia - 2ª semana

A minha segunda participação na parceria poética de Rosélia no seu Blogue Escritos da Alma

 

Guardo na memória o cenário
do velho tronco de oliveira
ao cimo do quintal
em que das tuas mãos calejadas,
o balouço,
  o teu carinho construiu. 
Ainda ouço as canções alegres
que entoávamos quando
impelidas pela tua ternura
esvoaçávamos pelos ares
e o vento bailava connosco
a terna e doce melodia, 
que  nos ensinaste
e a que chamámos amor.

Texto 
Ailime
Março/2023