sábado, agosto 03, 2024

Memórias

Imagem daqui

Passo à tua porta fechada e evoco
o tempo dos frutos maduros;
das amoras silvestres,
das ameixas amarelas
ao fundo da horta,
das melancias e melões,
dos tomates e feijão verde
que eram o orgulho
do suor, que te sulcava o rosto.
As uvas douradas com sabor a mel;
as abelhas bebiam-lhe o néctar.
Na horta, ao lado do poço,
o jardim das zínias e das sécias
faziam da horta um local encantado.
À tarde pela fresquinha,
como eram saborosas as merendas
com os frutos refrescados 
com a água do poço.
Tudo era puro e belo.
O ar que respirávamos, a água que
nos mitigava a sede;
o gorjeio dos pássaros, os zumbidos dos insetos,
o coaxar das rãs,
numa sinfonia perfeita.
O nosso mundo era outro.
Lugar de sons, aromas e sabores,
que nos oferecias com amor.


Texto
Emília Simões
(In Memoriam: meu avô materno)
03.08.2024
Imagem
Mário Silva
(Sapo)

18 comentários:

  1. Ailime, que doçura ler essa dedicatória poética ao avô materno! Tão perfeita que parecia-me lá estar, observando seu vovô a cuidar de tudo. Pude saborear os frutos, cheirar as flores, ouvir os gorgeios, o coaxar das rãs! Magnífico poema! Certamente ele já até leu, lá de cima! Parabéns! Beijinhos!

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  2. Uma autêntica curta metragem sobre a natureza.
    Um abraço.

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  3. Que linda poesia,Ailime! Sempre e cada vez mais inspirada! beijos, chica

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  4. Me gusto el poema. Te mando un beso.

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  5. Bom domingo de Paz, querida amiga Ailime!
    Repetindo o comentário a seu pedido.
    Acontece... não se preocupe.
    Meu avô teve uma horta num pedaço de terra do meu pai e era mesmo um lugar encantado onde eu ia às tardes com meu filho primogênito pequenino refrescar a cabeça.
    Torna-se mesmo para nós um local encantado. Um simples alface contém magia para os corações sensíveis.
    Um lindo poema relato da sua sensível memória.
    Gostei muito e senti todos efeitos sinestesicos, Cheiros da terra molhada... sabores apeteciveis.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos

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    1. Muito obrigada, minha Amiga. Tenha um domingo abençoado. Beijinhos

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  6. Sergio8/04/2024

    As memórias ajudam-nos a saber quem somos no presente, neste caso quem nos fez e deu amor. Tb tenho muitas memórias do avô, do seu interesse em tudo o que o rodeava, nas notícias do mundo e do país, das suas mãos calejadas e da sua paciência e tempo, nunca tinha pressa, as tarefas eram feitas com calma, mostrava-me com orgulho o poço e os animais que tinha, dava-me maçãs. E o tempo passava devagar, o tic toc do relógio na casa a marcar as horas, que duravam uma eternidade. Sempre alegre quando os visitávamos e passávamos tempo com ambos. Um homem simples mas muito inteligente (e que me estimulava e parabenizava pelas boas notas na escola) e íntegro. Poema muito vívido, cheio de cores, cheiros, sabores, de memórias que deves guardar e lembrar. Não como passado que passou, mas como o tecido de que és feita. Bj

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  7. Que lindo, querida Ailime, pois é, mas longe estamos desse mundo que você fala tão lindamente...E lastimo muito que estamos vivendo um
    mundo que jamais nossos avós imaginaram! Paz não temos mais tanto, temos é que nos virar com toda essa evolução, boa sim, mas não totalmente, nos traz muitos aborrecimentos de um mundo desconhecido.
    Te aplaudo, amiga!
    Uma feliz semana,
    beijinhos!

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  8. Muito para recordar e as saudades são imensas!
    Os sabores e os cheiros impregnam-se em nós
    e acompanham-nos pela vida fora.
    Um poema lindo em que revela todo o seu amor
    e a sua saudade.
    Beijinhos
    Olinda

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  9. Olá Ailime
    As boas memórias, são sempre felizes recordações que emergem em nós e nos fazem bem.
    Gostei bastante.

    Votos de feliz semana, com tudo de bom.
    Beijinhos, com carinho e amizade.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com
    https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

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  10. Uma bela e sentida homenagem poética. O teu avô, lá em cima, deve ter gostado muito.
    Tenho saudades do ambiente que tão bem descreves neste excelente poema.
    Boa semana minha querida amiga Emília.
    Um beijo.

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  11. Anónimo8/05/2024


    Também tenho muito presente as ameixas amarelas que eram perfumadas pela lúcia-lima e de tantas delicias cuidadas com muito desvelo.
    Retribuindo Amor com Amor, num tributo emocionante.
    Um belo e intenso momento poético que agradeço.
    Beijinhos, Emília.
    =====

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    1. Anónimo8/05/2024

      O anónimo sou eu, Majo Dutra

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  12. Deves ter recebido muito amor desse avô, Emília, para retribuíres com homenagem tão delicada, cheia de amor e boas lembranças! Viajamos pelo campo e pela tua infância, nesse lindo poema! Meu abraço, amiga; boa semana.

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  13. Memórias que fazem a diferença!
    👏👏👏😘

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  14. Não é de hoje que adoro este seu "Canto meu". Hoje lendo estas memórias de um saudoso avô, viajei no tempo de minha saudosa vó paterna Iracema, casa onde eu passava todas as férias de fim de ano. Ela me chamava de "fiotinho" sem medir esforços para fazer coisas que me agradassem, desde as comidinhas às historinhas de tempo longiquo. Vivi muito destas lembranças suas Ailime. Ainda hoje vejo tudo desfilar na minha frente com nitidez que as suas nos fazem sentir e ver.
    O corrego, os pássaros, os frutos maduros nas arvores, os cantos variados de pássaros e as noites num lugarejo sem luz eletrica, era lindo e cheio de misterios. Em muitos escritos meus, pode-se ver estas lembranças.
    Eu vivi e guardei as belas lembranças.
    Lindo seu sentir nestas saudades de um tempo de feliz idade.
    Bjs de paz amiga.

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  15. Lindíssima memória. Um transportar no tempo às maravilhas que se viveu. Senti-me nessa atmosfera mágica.

    Beijinhos e bom fim-de-semana!

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«Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar».C.L.