quarta-feira, novembro 25, 2020

Rasgo o tempo

                             



Rasgo o tempo com os sentidos
e caminho suavemente sobre as marés
como se as águas me impelissem
a abraçar-te
enquanto os búzios entoam 
a canção do mar
que nos recorda
que as medusas vêm à tona
sempre que dançamos
sobre a proa do barco,
enquanto um pássaro
desenha no firmamento
um bailado só para nós.




Reedição
Ailime
25.11.2020
Imagem Google

sexta-feira, novembro 13, 2020

Os meus gestos



Sempre houve uma certa inquietude nos meus gestos
ora lentos, ora apressados, ou apenas soletrados por pensamentos
que se entrecruzam com as mãos, que ora se poisam em cima da mesa
ou simplesmente se esgueiram para o poema em embrião.

Por vezes tento acalmá-las, mas escapam-se-me com ligeireza
como se tivessem ânsia de chegar antes de mim.

As minhas mãos e os meus gestos sempre se desencontraram
como se uma certa tensão se aninhasse nas pontas dos dedos
e o poema ficasse enclausurado na teia das palavras.


Texto
Ailime
12.11.2020
Imagem Google
Autor desconhecido

terça-feira, novembro 10, 2020

Rescrever a canção

                                                    



Torna-se necessário rescrever a canção
mesmo que as mãos, em chamas,
recusem o gesto, vacilante, da melodia.

Como os pássaros, que de asas feridas
cruzam os céus em voos arrojados,
é urgente que os barcos ergam as velas
na melopeia cadente da maré cheia.



Ailime
29.03.2015
Imagem Google
(Reedição revista)

terça-feira, novembro 03, 2020

Folha ao vento



Uma folha ao vento
pode não ser apenas uma folha;
é raiz, é tronco,  é seiva;
é flor, é fruto; 
pedaço de céu, nuvem,
raio de sol,  luar.

O que importa é o tempo
que por ela passa e a transforma
qual instante em que os ramos
se fundem nas teias sombrias
que agora repousam
no abismo do silêncio.

Da profundeza da ravina
uma árvore brota em flor.


Texto
Ailime
Imagem Google