sábado, janeiro 30, 2016

Poesia de Graça Pires


As águas baixaram.
Amainada a maré vieram as gaivotas
poisar-nos na janela.
O brilho inesperado dos barcos
e das dunas doía no olhar.
De olhos fechados, ainda assim
nos perturbava a clareira de bruma
que alastrava do mar.
As gaivotas, essas, traziam nas pupilas
um rebentar de ondas que nos ensurdecia.
Ao anoitecer jantámos em silêncio
e adormecemos com sede.

In: Poemas Escolhidos
(1990-2011)
Graça Pires

sábado, janeiro 23, 2016

Há na luz pálida dos dias


Há na luz pálida dos dias
uma ausência de gestos
que navega nos lemes
do velho bote esquecido no cais.

As margens já não pertencem ao rio
e as nuvens choram o dilúvio
da manhã que entardeceu
no orvalho taciturno da noite.

Uma ténue luz percorre os astros
e arrasta no murmúrio das sombras
o desassossego das margens
sufragado na mansidão das águas.



Ailime
17.10.2013
(revisto)
Imagem Google

domingo, janeiro 10, 2016

No silêncio da chuva


No silêncio da chuva
o sussurro do vento
a afagar o mar
encrespado no mastro
de um navio à deriva.

Solta-se a madrugada.
Na areia da praia
explodem foguetes
no interior dos búzios
cintilantes como corais.

Uma âncora perdida
arrasta no azul das nuvens
brisas esculpidas na areia
diluindo nas águas profundas
os rumores das marés.

Texto e foto
Ailime
 10.01.2016