sexta-feira, junho 24, 2011

Silêncios



As palavras que invento
São rimas imperfeitas
De silêncios consumidos
Importados das maresias
Oriundas de oceanos remotos

Na areia fria da praia
Por entre a espuma das vagas
Aguardam que o poeta
As aprisione e as transforme
Num belo poema de amor.



Ailime
24.06.2011
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domingo, junho 19, 2011

Insónia


Em vigílias de sossego
Oiço o vento glacial,
Que em rajadas
Fortes e perturbadoras
Atordoa os meus sentidos
E torna agreste
A alva instalada em mim.

Deixo-me envolver
Nas palavras que enredo
E descortino o silêncio
Na quietude refeita
Do alvor anunciado.

Rabisco em palavras
Deixadas pelo vento
Este sentir sonâmbulo
Na aridez do poema
Que arrisquei delinear.
Ailime
19.06.2011
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segunda-feira, junho 13, 2011

Fernando Pessoa


Retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros
 A minha homenagem ao Grande Poeta de Língua Portuguesa, Fernando Pessoa, nascido no dia de Santo António ( 13.06.1888) recordando um  dos seus poemas de que mais gosto.

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
 
Ricardo Reis (Heterónimo de Fernando Pessoa)


Ailime
13.06.2011
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domingo, junho 12, 2011

Clarice Lispecter

Sou como você me vê,
posso ser leve como uma brisa,
ou forte como uma ventania,
depende de quando,
e como você me vê passar.

Ando de um lado para outro, dentro de mim.

Estou bastante acostumada a estar só,
Mesmo junto dos outros.

O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se entendesse.

"a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
Bem, isso já é demais...."

Clarice Lispecter
Biografia de Clarice Lispecter
Ailime
12.06.2011
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sexta-feira, junho 10, 2011

Camões e a tença

Em Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades, a minha homenagem a todos os portugueses e povos que os acolheram e continuam a receber e que como CAMÕES vão deixando por esse mundo fora muito das suas vidas, muito das suas almas, muito de Portugal.



Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invoscaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.

Este país te mata lentamente.

 Sophia de Mello Breyner Andresen

....mas tenho Esperança neste imenso Portugal.
Ailime
10.06.2011
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domingo, junho 05, 2011

Para ser grande, sê inteiro


Para ser grande, sê inteiro,

nada teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és no mínimo que fazes.

Assim em cada lago a Lua toda brilha,

porque alta vive.



Ricardo Reis
(Heteronimo de Fernando Pessoa)


Ailime
05.06.2011
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