«As palavras pesam. Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas» Graça Pires in Poemas escolhidos
sábado, junho 22, 2024
Estão sentados
sábado, junho 15, 2024
Quando passo à tua rua
José Malhoa
Quando passo à tua rua
escuto sempre a voz do rio
que, nas suas margens azuis,
me fala de ti,
como se ainda permanecesses
sentado na soleira da porta
a desenhar arabescos
no teu livro sem páginas.
Um rio e um livro
que me falam de lembranças
como se o hoje fosse ontem
e o ontem fosse hoje.
Na ausência de palavras
ficam nas entrelinhas
os registos dos afetos
nos resquícios das memórias.
Emília Simões
15.06.2024
sábado, junho 08, 2024
Era pungente o seu viver
Era pungente o seu viver.
Penalizava-se por atos irrefletidos.
Chegava a cravar as unhas nas
palmas das mãos
para se distrair desses atos
que ainda a combaliam.
Não dava mostras de remorsos,
mas fora dura consigo mesma
e não se perdoava
martirizando-se descalça
sobre espinhos que lhe feriam a alma.
O suor a escorrer sangue,
os lábios cerrados cobertos de sal,
não lhe davam a paz
que o seu coração ansiava.
Na correnteza do rio
muitas lágrimas caídas
misturavam-se com os peixes.
Ainda hoje se julga amarrada
à pedra onde esculpia a sua dor.
(Ensaio sobre ficção)
Emília Simões
08.06.2024
sábado, junho 01, 2024
No silêncio das palavras
enxergo com assombro
os dias em que o sol, brilhante,
torna os dias mais alegres
e as aves cantam e saltitam
nas flores em cada manhã.
Nos rastos dos jardins
procuro as tuas pegadas
quando, na sombra das árvores,
lias no meu olhar
a sede do teu amor.
Na natureza em festa
por instantes não há guerras.
Há uma grande paz e suavidade
que, embora céleres,
me fazem sonhar e acreditar
numa nova humanidade.