sábado, agosto 24, 2024

Vida e poesia

A origem da vida

 

os frutos maduros


uma folha caída
no silêncio da tarde
ouve os murmúrios 
de quem passa,
que finge não ver a poesia
que existe em qualquer tempo,
em qualquer ângulo,
em qualquer fuga,
na árvore quase nua
que escuta o pio
solitário dos pássaros.


Texto e fotos
Emília Simões
24.08.2024

Informo os meus amigos que farei uma pausa durante algum tempo.

sábado, agosto 17, 2024

Tão longe as manhãs

Juan Francisco Gonzalez

Tão longe as manhãs, na casa, onde às vezes regresso.

Tudo parece estar no mesmo sítio.

O rio corre sereno lá em baixo,

mas não me deixa ver as margens

onde outrora os seixos brilhavam ao sol

e eu saltitava em redor do moinho.

Tudo tinha maior amplitude.

A lezíria era  uma sinfonia de cores;

as águas eram mais verdes e as nuvens mais azuis.

Os pássaros cantavam mais alto.

Os teus pés pisavam o chão com leveza.

No resplendor da manhã, cada vez mais longe,

debruço o meu olhar e cismo.


Texto
12.10.2021
Emília Simões
(Reedição)

sábado, agosto 10, 2024

O resgate das palavras


No cansaço dos dias, as palavras,
___inconstantes,
escasseiam, à espera de resposta.
Reinvento-me numa nesga de verde, 
que observo da minha janela.
Os pássaros refugiam-se numa espécie
de recolhimento
e, por instantes, emudecem.
Fico a olhar pela janela que regressem,
mas lá fora o sol escalda,
___ o verde persevera.
(ainda não é outono)
Talvez logo mais ao sol-pôr
eles voltem e me visitem
no parapeito da janela,
e me ajudem a resgatar as palavras.

Texto e foto
Emília Simões
10.08.2024


sábado, agosto 03, 2024

Memórias

Imagem daqui

Passo à tua porta fechada e evoco
o tempo dos frutos maduros;
das amoras silvestres,
das ameixas amarelas
ao fundo da horta,
das melancias e melões,
dos tomates e feijão verde
que eram o orgulho
do suor, que te sulcava o rosto.
As uvas douradas com sabor a mel;
as abelhas bebiam-lhe o néctar.
Na horta, ao lado do poço,
o jardim das zínias e das sécias
faziam da horta um local encantado.
À tarde pela fresquinha,
como eram saborosas as merendas
com os frutos refrescados 
com a água do poço.
Tudo era puro e belo.
O ar que respirávamos, a água que
nos mitigava a sede;
o gorjeio dos pássaros, os zumbidos dos insetos,
o coaxar das rãs,
numa sinfonia perfeita.
O nosso mundo era outro.
Lugar de sons, aromas e sabores,
que nos oferecias com amor.


Texto
Emília Simões
(In Memoriam: meu avô materno)
03.08.2024
Imagem
Mário Silva
(Sapo)